O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, disse esta segunda-feira que “não é verdade” que o Governo tenha agido nas costas do regulador da banca, contrariando o defendido no livro do seu antecessor, Carlos Costa.

“Isso não é verdade”, respondeu Mário Centeno, quando questionado pelo jornalista Anselmo Crespo se o Governo agiu nas costas do Banco de Portugal no caso do Banif, durante a conferência para assinalar o primeiro aniversário da CNN Portugal, em Lisboa.

Mário Centeno, que admitiu não ter lido o livro todo, mas apenas as partes que versam sobre a sua atuação enquanto ministro das Finanças, disse ainda que encontrou afirmações desapontantes no livro do ex-governador do BdP, no qual Carlos Costa acusa o Governo de ingerência em matéria de supervisão bancária.

Tinha outra ideia de como se consegue tratar a verdade“, apontou o governador do BdP.

Questionado pelos jornalistas à saída, para explicar em concreto o que não é verdade, Mário Centeno não respondeu.

O primeiro-ministro e o antigo governador Carlos Costa estão em conflito, depois de o antecessor de Mário Centeno se ter afirmado alvo de pressões por parte de António Costa para não retirar Isabel dos Santos do BIC.

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As revelações constam do livro “O Governador”, que resulta de um conjunto de entrevistas do jornalista do Observador Luís Rosa a Carlos Costa, que liderou o Banco de Portugal entre 2010 e 2020, e tem provocado polémica.

Com prefácio de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, a publicação revela factos até agora desconhecidos sobre a intervenção da troika, o caso Banco Espírito Santo, a resolução do Banif, as relações tensas com o antigo primeiro-ministro José Sócrates, com o atual, António Costa, e antigo ministro das Finanças Mário Centeno bem como as guerras com o ex-banqueiro Ricardo Salgado e a família Espírito Santo.

António Costa anunciou que irá processar o antigo governador, a quem acusou de ter escrito um livro com mentiras e deturpações a seu respeito e de ter montado uma operação política de ataque ao seu caráter, depois de este ter reafirmado que houve “tentativa de intromissão do poder político junto do Banco de Portugal”.

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Centeno admite: “Podíamos estar a ir mais rápido” no PRR

O governador do Banco de Portugal admitiu que o país podia estar a andar mais rápido na execução dos investimentos no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

“Podíamos estar a ir mais rápido [na execução do PRR]. De todas as preocupações que eu tenho, a maior delas é o investimento”, afirmou o líder do banco central, que participou na conferência de comemoração do primeiro aniversário da CNN Portugal.

Mário Centeno vincou que a sua função é “alertar para aquilo que pode, na verdade, ir mais rápido”, no que diz respeito ao PRR, sem, no entanto, especificar.

O governador do BdP disse, porém, não estar “em posição de perdoar, ou deixar de perdoar” o Governo, numa alusão às afirmações do Presidente da República.

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Mário Centeno defendeu também que, num momento de “pleno emprego”, como o que Portugal está a viver, “qualquer política orçamental expansionista é pró-cíclica e deve ser evitada”.

“Não quer dizer que a política orçamental não deva atender a situações de exclusão que são potenciadas pela inflação”, ressalvou o responsável.