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A cirurgia já tinha começado quando as luzes se apagaram no Instituto Cardíaco, em Kiev. Era mais uma noite de ataques russos às infraestruturas energéticas da Ucrânia e os geradores eram ativados no hospital. A equipa médica sabia o que fazer e continuava o trabalho com a naturalidade adquirida nos nove meses de guerra. Agora à luz das lanternas, prosseguia a cirurgia a uma criança.

“É assim que conduzimos as cirurgias cardíacas hoje em dia”, descrevia o cirurgião Borys Todurov, diretor do instituto, enquanto gravava um vídeo do procedimento, alertando para as dificuldades sentidas nos hospitais ucranianos. “A cirurgia está a ser realizada com fluxo de sangue artificial. Não há eletricidade”, explica.

À cabeça da mesa de operações, o cirurgião prosseguia, indiferente às gravações. “Está tudo estável?”, questiona, recebendo um sim por resposta. “Boa. Vamos tentar completar [a cirurgia] o mais rápido possível”.

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O cenário repete-se em muitos hospitais ucranianos. Com cerca de 190 pacientes e 300 funcionários, no Instituto Cardíaco já só realiza operações em casos de emergência. “É assim que chega o ‘mundo russo’. No ataque desta quarta-feira a Kiev morreram vários residentes e a cidade ficou mergulhada na escuridão e no frio”, denunciou Todurov numa publicação no Instagram. Apesar das dificuldades nessa noite, pelo menos, não perderam nenhum paciente.

Até agora estamos a aguentar-nos, mas a cada hora torna-se mais difícil”.

Os ataques russos não dão tréguas e, nos últimos dias, têm chegado inúmeros relatos de regiões ucranianas às escuras. Sobre o campo de batalha não pode falar, mas na frente médica Todurov garante que vão continuar a fazer tudo até ao “fim amargo”.

Kiev foi apenas um dos alvos dos bombardeamentos russos que atingiram várias infraestruturas críticas, provocando apagões por todo o território, que afetaram inclusivamente a vizinha Moldávia.

A resposta da Ucrânia passou por criar os chamados “pontos de invencibilidade” – locais onde estão disponíveis de forma gratuita serviços básicos, como o acesso à eletricidade, água, internet -, mas os repetidos ataques tornam mais difíceis as reparações, provocam apagões mais prolongados e aumentam o perigo para os civis, numa altura em que o inverno está cada vez mais próxima.

Criados mais de quatro mil “pontos de invencibilidade” na Ucrânia em caso de ataques russos, diz Zelensky

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), na quarta-feira foram registadas 30 vítimas, entre feridos e mortos, e milhões de pessoas ficaram sem eletricidade, acesso à agua ou aquecimento. Zonas como Lviv, Zaporíjia, Odessa e Chernihiv ficaram completamente sem eletricidade.