Depois de os socialistas terem apresentado uma proposta alternativa à da isenção do IMT para jovens do executivo de Moedas (e o BE ter proposto também uma alteração a essa proposta), o presidente da Câmara de Lisboa ainda trabalhou numa proposta alternativa que procurava juntar o melhor de dois — ou melhor, três — mundos: mantinha a isenção do IMT para jovens até aos 35 anos que comprassem casa em Lisboa até 250 mil euros; criava um subsídio municipal de arrendamento e ainda assegurava um alargamento do alcance da proposta [de subsídio] aos jovens universitários sem soluções de habitação em Lisboa. Mas o 3 em 1 não foi suficiente para convencer os socialistas. O PS “votou contra dar esse beneficio aos mais novos”, critica Moedas, em declarações ao Observador.

Os vereadores do PS mantiveram o chumbo da proposta de isenção de IMT, condenando a bandeira eleitoral de Moedas ao fracasso, e fizeram aprovar a proposta alternativa e respetiva alteração do Bloco de Esquerda. Depois de ter visto a proposta recusada, o executivo acabou mesmo por abster-se quando a proposta do PS e BE foram votadas, levando o PS a considerar a tentativa de proposta 3 em 1 um “pequeno truque para tentar criar um facto político, que nem os próprios levaram a sério”. Carlos Moedas fala em “guerra ideológica que prejudica muito os jovens”.

Oposição chumba proposta de Moedas para isenção de IMT para jovens em Lisboa

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Na intervenção inicial na reunião de Câmara, a socialista Inês Drummond considerou “a isenção de IMT a política errada para um problema real”, o da “dificuldade em encontrar casas a preços acessíveis em Lisboa”, e criticou a postura de Carlos Moedas, acusando-o de “recusar qualquer limitação e regulação ao Alojamento Local fora do centro histórico e ao suspender, anular ou deixar na gaveta cerca de 2.000 casas de renda acessível”.

“O eixo da política pública de habitação tem de ser a construção pública de habitação. Recorrendo a todos os mecanismos possíveis, sejam eles a construção própria pela autarquia, ou a concessão a privados de programas de renda acessível”, afirmou Drummond considerando “preocupante” o rumo seguido pelo atual executivo na área da habitação.

Em declarações ao Observador, Carlos Moedas frisa que aceitou “tudo o que o Partido Socialista propôs”, mas que ainda assim “acabaram por votar contra o IMT”. “Votaram contra dar esse beneficio aos mais novos”, aponta Moedas.

“O próprio IMT tem isenções. Em casas até 90 mil euros é zero. Só estávamos a dizer que queríamos ter até 250 mil euros. É uma proposta que não tem nada de ideológico, esta é uma guerra ideológica que vai prejudicar muitos jovens”, disse Carlos Moedas, que ainda assim diz que a aprovação do segundo Orçamento, o primeiro totalmente da responsabilidade do executivo que lidera, faz desta quarta-feira “um dia bom.”

“É um dia muito bom para a cidade de Lisboa. Este é o maior Orçamento de sempre”, diz Moedas. Oposição critica opções do Executivo

Em declarações ao Observador depois da votação do Orçamento, Carlos Moedas realça o aumento na área social e habitacional. “É um dia muito bom para a cidade de Lisboa. Este é o maior Orçamento de sempre. É um Orçamento que aumenta tudo o que é o investimento na habitação, tem um aumento de 20% na parte social”, afirmou o presidente da autarquia que vê também na aprovação um sinal político que permite “chegar a consensos.”

À semelhança do que aconteceu no ano passado, a abstenção socialista permitiu que o Orçamento visse a luz do dia, embora sem uma das principais bandeiras de Moedas, mas validando o seguro de saúde para os maiores de 65 anos na cidade e ainda a continuação da redução da devolução do IRS aos munícipes.

Visão totalmente diferente tem o Bloco de Esquerda, que votou contra o Orçamento para 2023 da autarquia de Lisboa por considerar que há um “falhanço na política de habitação, como fica à vista na opção pela redução do Programa de Renda Acessível e a redução do investimento na requalificação dos bairros municipais.”

Também a vereadora independente Paula Marques, eleita pela coligação Cidadãos Por Lisboa, deixa várias críticas ao Orçamento que, considera, “rasga com a visão” que vinha sendo implementada no município e que ainda condicionou o Orçamento anterior apresentado pelos Novos Tempos. “É um Orçamento que descontinua nas respostas públicas e concentra investimento no setor privado. Concentra a riqueza em muito poucos e não redistribui para o maior número”, afirma Paula Marques em declarações ao Observador.

A vereadora lamenta que o Orçamento “corte no apoio às pessoas em situação de maior vulnerabilidade como os sem-abrigo” ou adie “soluções na área da habitação, construção de creches ou centros de saúde”. “É um Orçamento que não vai além do que estava previsto e adia o que estava previsto na construção pública”, aponta a vereadora que critica ainda o facto de “não ter sido ouvida ao abrigo do direito à oposição”, no processo de elaboração do Orçamento do município.

Os vereadores do PCP consideram, numa nota enviada à imprensa, que “Os ‘Novos Tempos’ são mais do mesmo: apesar de recursos substanciais à sua disposição, PSD-CDS prolongam políticas que não resolvem os problemas da cidade”. Com um Orçamento de 1.305 milhões de euros, o PCP aponta o dedo ao “adiar da resposta” em áreas como a “habitação, a debilitação de serviços públicos municipais como a higiene e limpeza urbana, a mobilidade e os transportes, a poluição, degradação do parque escolar ou na cultura e desporto.”

O PCP acusa ainda o executivo de Carlos Moedas de “insistir nalguns dos erros mais marcantes da anterior gestão do PS”. Nesta crítica cabe a descentralização de competências para as juntas de freguesia, consequência da reforma administrativa e que tem trazido especiais dificuldades na área da recolha de lixo e limpeza das ruas, com a autarquia a empurrar para as juntas de freguesia a responsabilidade por algumas falhas e as juntas a devolverem as críticas a Moedas.