No que diz respeito à indústria automóvel, Carlos Tavares, o gestor à frente dos destinos da Stellantis, o 2.º maior grupo europeu e o 4.º maior no mundo, não está muito confiante no futuro da fabricação de veículos na China. Não só este país, que já é um problema político e económico, promete tornar-se a prazo num problema militar, como a lucrativa produção local de veículos, para alimentar o mercado doméstico, além da exportação, tem vindo a deixar de ser tão rentável nos últimos anos. Daí que o gestor português tenha procurado – e achado – um outro local para fabricar os seus modelos eléctricos com baixos custos de produção, para depois os enviar para a Europa.

Para Tavares, a alternativa à China é a Índia, igualmente com baixos custos de mão-de-obra para potenciar os lucros, mas um país mais estável em termos políticos e sem conflitos militares à vista. Os problemas criados nas instalações fabris localizadas na Rússia, devido à invasão da Ucrânia, propriedade total ou parcial de construtores europeus ocidentais, justificam este tipo de cuidados, pois, caso contrário, as perdas podem ser brutais se algo correr mal.

China. Stellantis fecha fábrica que detinha a meias com a GAC

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As declarações de Carlos Tavares caíram como uma bomba, tanto mais que a Stellantis figurou entre os construtores que esgrimiram, como argumento para atrasar a adopção de veículos eléctricos e proibir os motores de combustão a partir de 2035, uma considerável perda de postos de trabalho na Europa. O que dificilmente é defensável com as exportações para o Velho Continente a partir da China ou de qualquer outro país não europeu.

Algumas marcas da Stellantis já desinvestiram na China. Uma das mais marcantes foi a Jeep, que detinha uma parceria com os chineses da Guangzhou Automobile Group (100% pertença do Estado) e que encerrou a sua linha de produção. A concorrência cada vez maior e a consequente perda de competitividade pesaram na decisão, talvez tanto quanto a crescente interferência do Governo local. Tudo indica que os investimentos no mercado chinês da Peugeot e Citroën possam seguir o mesmo rumo.

As mais recentes declarações de Carlos Tavares sobre este tema foram proferidas num evento organizado em Chennai, na Índia, que deverá beneficiar do investimento da Stellantis, de forma a acolher as linhas de produção. A decisão ainda não foi tomada, mas tudo indica que, à excepção dos chineses, a Stellantis e os indianos deverão estar bastante animados com a ideia. Isto apesar de a Stellantis não pretender retirar-se por completo do mercado chinês, mantendo uma presença como importadora para nichos de mercado.