O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, está a aumentar o tom das críticas aos republicanos, como regista o Washington Post. Ensaiando um clima de maior polarização política, os democratas estão a tentar fomentar uma clivagem entre os dois partidos, colando os membros do Partido Republicano a ideias mais extremistas e à agenda do ex-chefe de Estado, Donald Trump.

No início do mandato, a administração Biden, que tinha como objetivo “unir o país”, optava por ignorar as provocações de Donald Trump — e esperava que, com a falta de atenção, as polémicas diminuíssem. Contudo, isso mudou nos últimos meses: os democratas preferem agora apontar os holofotes para as atitudes mais controversas do ex-Presidente e envolver por arrasto os republicanos, acusando-os de complacência.

Usando como trunfo o assalto ao Capitólio a 6 de janeiro e os apoiantes mais extremistas de Donald Trump, o Partido Democrata quer passar a imagem de que os republicanos abandonaram uma atitude mais moderada e podem representar uma ameaça ao Estado de direito. Do outro lado, estão os democratas — que passariam a ser o único garante do cumprimento da Constituição.

Por sua vez, os democratas rejeitam esta nova atitude se trate de uma estratégia política, argumentando que tem havido um aumento da discurso de ódio e de uma retórica que pode prejudicar o Estado de direito. Como lembra o Washington Post, num encontro com historiadores na Casa Branca, Joe Biden caracterizou como sendo importante a luta contra o extremismo, evitando que movimentos políticos mais radicais saiam de círculos restritos e invadam o mainstream.

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Para além disso, os democratas explicam que Joe Biden aumentou as críticas a Donald Trump, porque os republicanos não o têm feito de forma contundente. “Como o Presidente disse de forma repetida, os líderes têm a obrigação de denunciar a agenda MAGA [acrónimo para Make America Great Again, o slogan do ex-Presidente] com a qual muitos dos dirigentes republicanos se alinharam”, atirou, no início de dezembro, o porta-voz da Casa Branca, Andrew Bates.

Intercalares e presidenciais: o timing das críticas

Estas movimentações políticas chegam após as intercalares e os resultados modestos dos republicanos nas eleições de novembro, que perderam o Senado e ganharam uma estreita maioria na Câmara dos Representantes. Para evitar uma esperada onda vermelha, os democratas acreditam que o discurso pela defesa da democracia feito por vários dirigentes do partido no pré-eleições, incluindo Joe Biden, foi fundamental.

Com uma maioria pouco expressiva na Câmara dos Representantes, há pouca “margem de manobra” para que os republicanos se afastem das polémicas de Donald Trump. O historiador presidencial da Universidade da Virgínia, Russell Riley, disse ao Washington Post que “o comportamento barulhento e indisciplinado na Câmara será um lembrete de que o partido pretende fazer barulho a governar”.

Por último, a estratégia chega num momento em que Trump já anunciou a sua intenção em recandidatar-se à Casa Branca. Os democratas assumem que isso ainda tornará mais fácil a tarefa de associar os republicanos ao ex-Presidente — e daí obter vantagens políticas.