O responsável máximo da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, condenou este domingo o “terrível precedente” criado pela execução no Irão do cidadão britânico-iraniano Alireza Akbari, declarando a sua oposição à pena de morte “em qualquer circunstância”.

O alto representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança prestou as suas condolências à família de Akbari e a sua “total solidariedade com o Reino Unido”.

“A execução de um cidadão europeu é um precedente terrível que a UE acompanhará de perto”, avisou, considerando de seguida que “a pena de morte viola o direito inalienável à vida consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e é o derradeiro castigo cruel, desumano e degradante”.

Irão executa antigo vice-ministro da Defesa condenado por espionagem para o Reino Unido

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As autoridades judiciais iranianas anunciaram na quarta-feira a condenação à morte do ex-vice-ministro Alireza Akbari — embora se desconheça quando foi condenado —, por “espionagem para o MI6” em troca de “1.805.000 euros, 265.000 libras e 50.000 dólares norte-americanos”, de acordo com a agência semioficial iraniana Mehr.

A República Islâmica do Irão tem sido acusada de utilizar prisioneiros de dupla nacionalidade em particular, mas também de outros países, como medida de pressão ou para o intercâmbio de prisioneiros com outros países. Estes atos têm sido classificados por outros países e organizações de direitos humanos como a “diplomacia dos reféns” do Irão.

Segundo a agência do poder judicial iraniano, designada como Mizan, Alireza Akbari, que ocupou o cargo de vice-ministro da Defesa durante o mandato do ex-Presidente reformista Mohamed Katami (1997/2005), foi executado por enforcamento.

O condenado, de 61 anos, que foi detido há três anos, recorreu da sentença junto do Supremo Tribunal Federal, que rejeitou o recurso. As autoridades iranianas divulgaram um vídeo, visivelmente editado, onde Akbari discutia as alegações, semelhante a outros vídeos que dissidentes têm descrito como confissões forçadas.

Na sexta-feira, tanto o Reino Unido como os Estados Unidos criticaram a condenação de Akbari à morte. Na sua conta de Twitter, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, considerou ter-se tratado de “um ato cruel e cobarde, levado a cabo por um regime bárbaro que não respeita os direitos humanos do seu próprio povo”.

Reagindo a essas declarações, o Irão convocou o embaixador do Reino Unido em Teerão, manifestando-se insatisfeito e criticando o apoio de Londres a “um espião”. Também a França condenou “com a maior firmeza” a morte do iraniano-britânico, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, alertando que “as repetidas violações do direito internacional pelo Irão não podem ficar sem resposta sobretudo quando se trata de cidadãos estrangeiros, cidadãos que o país detém arbitrariamente”.

A Amnistia Internacional também já tinha condenado o “hediondo ataque” do Irão ao “direito à vida”, afirmando que “a execução de Alireza Akbari pelas autoridades iranianas é mais um ataque abominável ao direito à vida”. A organização humanitária pediu ainda ao Governo britânico para que “investigue totalmente” as acusações de que Akbari terá sido torturado.

No sábado, o Reino Unido anunciou ter adotado sanções contra o procurador-geral de Justiça do Irão para demonstrar “a repulsa” de Londres face à execução. “Exigimos responsabilização do regime [iraniano] pelos seus terríveis abusos aos direitos humanos”, afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, James Cleverly, sem concretizar as medidas tomadas.