Trinta anos desaparecido fizeram de Matteo Messina Denaro o homem mais procurado de Itália e um dos mais procurados do mundo. Era o “capo di tutti capi” (chefe de todos os chefes, em português) da máfia siciliana, o nome mais conhecido do crime italiano e o rosto da cultura do medo.

Condenado a prisão perpétua já depois de se ter tornado um “fantasma”, é responsável por crimes como os homicídios de Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, juízes que ficaram na história pelo combate à máfia, nomeadamente por terem levado a julgamento mais de 300 elementos destes grupos em 1987. Mas também pela ligação a ataques à bomba em Florença, Roma e Milão, que causaram a morte de 10 pessoas.

Um dos casos em que Matteo Messina Denaro foi considerado culpado é o rapto, tortura e a morte de uma criança de 13 anos, filho de um gangster, que foi dissolvido em ácido nítrico após um sequestro de 779 dias para impedir que o seu pai colaborasse com a justiça. No total, estima-se que o chefe da máfia seja responsável pela morte de pelo menos 50 pessoas, entre as quais crianças e mulheres grávidas — alguns dos assassinatos mais sangrentos da Cosa Nostra durante os anos 90.

Num perfil do El País, Denaro era descrito como a “baleia branca” da Cosa Nostra e, perante as tentativas falhadas de o deter e de perceber o seu paradeiro, acabou por se tornar “a grande obsessão de magistrados e polícias italianos”. Uma fixação que demorou 30 anos a chegar ao fim.

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A família, as vivências e educação assentaram nas tradições da máfia siciliana. Cresceu lado a lado com a violência e tornou-se num homem que todos respeitavam à boleia do medo. Nas cidades por onde passou e nas quais era conhecido, ninguém se atrevia a dizer o seu nome — e era apelidado de ‘Diabolik’, uma referência a uma banda desenhada italiana. Gaba-se do mal e chegou mesmo a dizer que com as suas vítimas podia “encher um cemitério inteiro”.

Foi em Castelvetrano, na Sicília, onde nasceu, que começou a construir um império no setor dos resíduos, mas foi após a detenção de Bernardo Provenzano, em 2008, que assumiu o mais alto cargo da Cosa Nostra e tudo o que rede implica, do tráfico de drogas à  prostituição, passando pela extorsão e lavagem de dinheiro.

Matteo Messina Denaro levou uma vida nem sempre discreta. O estilo de vida esbanjador deixava notar o gosto por Porsches, relógios Rolex, viagens de luxo e roupas caras. E numa vida marcada por histórias com várias mulheres conta-se que terá cometido o seu primeiro homicídio por uma delas, outra acabou na prisão por o ter escondido e tem ainda uma filha, que nunca terá chegado a conhecer.

Durante o tempo que esteve fugido das autoridades chegou a haver várias detenções de pessoas que o ajudaram e que o esconderam. Mas são também muitos os relatos de tentativas de detenções de Matteo Messina Denaro em várias partes do mundo, de Inglaterra aos Países Baixos, bem como várias vezes em Itália. Todos em vão, até ao dia de hoje.

Um dos principais desafios das autoridades foi a falta de fotografias do líder da máfia, já que só existiam imagens de final dos anos 80 e início dos anos 90. As imagens robô que foram feitas ao longo dos anos mostravam a forma como deveria ter envelhecido, mas as próprias autoridades acreditam que Denaro possa ter feito cirurgias plásticas. Além disso, houve ainda alegados avistamentos em vários pontos do mundo, sempre perseguições sem sucesso.

Esta segunda-feira, dia 16 de janeiro, fica marcada pelo fim da saga para encontrar Matteo Messina Denaro. Pouco depois das 9h30, as autoridades anunciaram que o líder da máfia italiana tinha sido detido numa clínica privada em Palermo, La Maddalena, onde estava hospitalizado e a “receber tratamentos médicos” para um cancro que terá sido diagnosticado há um ano.

De acordo com o jornal italiano La Repubblica, Matteo Messina Denaro, que usava o nome Bonafede, ainda tentou fugir, mas percebeu que estava encurralado e “não resistiu”.

Mafioso mais procurado de Itália detido após 30 anos de fuga