Uma marcha antigovernamental deixou cerca de 50 feridos no sul do Peru, quando os manifestantes tentaram invadir o aeroporto Inca Manco Capac, na cidade de Juliaca, a 1.300 quilómetros da capital, Lima.

A marcha de quinta-feira foi convocada em homenagem a 18 pessoas que morreram em protestos no aeroporto, há cerca de um mês, e os participantes entoaram slogans como “O sangue derramado nunca será esquecido”.

“Que o mundo inteiro saiba que num dia como hoje, 09 de janeiro, nossos irmãos caíram neste lugar”, disse Edit, familiar de uma das vítimas, à agência de notícias France-Presse.

Os confrontos começaram por volta das 15h00 (20h00 de quinta-feira em Lisboa), quando a polícia, “ao tentar dispersar os manifestantes com bombas de gás lacrimogéneo” causou ferimentos, fraturas ósseas, envenenamento e insuficiência respiratória em 23 pessoas, segundo um relatório da Rede de Saúde da província de San Roman, na região de Puno.

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Três dos feridos são menores de 17, 15 e 11 anos, o mais jovem dos quais foi atingido por um tiro na perna esquerda, disse o relatório.

A Polícia Nacional do Peru disse na rede social Twitter que 25 agentes ficaram feridos nos confrontos no aeroporto.

O ministro do Interior peruano, Vicente Romero, garantiu que a situação estava “controlada”, depois de lembrar que a região de Puno, onde fica Juliaca, está em estado de emergência, com as forças armadas no terreno.

Em Lima, cerca de dois mil trabalhadores pertencentes ao principal sindicato peruano, a Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru, marcharam pacificamente pelo centro histórico em direção ao parlamento, vestidos com camisetas vermelhas e agitando bandeiras sindicais.

O grupo chegou a cerca de 100 metros do parlamento, mas não houve confrontos ou incidentes.

Manifestações também ocorreram em cidades dos Andes, de onde vem a grande maioria dos manifestantes, e na região da selva perto da Amazónia.

Os protestos no Peru contra o Governo da Presidente, Dina Boluarte, arrastam-se há mais de dois meses, com um balanço de pelo menos 58 mortos na repressão pelas forças policiais e militares, para além de centenas de feridos e detidos. Ocorreu ainda a morte de um polícia, executado pelos manifestantes.

Boluarte, ex-ministra e ex-vice-Presidente, substituiu o antigo Presidente Pedro Castillo, destituído e preso em 07 de dezembro passado após uma tentativa de dissolver o Congresso e governar por decreto.

Os manifestantes exigem a demissão da atual chefe de Estado, a libertação de Castillo, a antecipação das eleições, a dissolução do parlamento e a convocação de uma assembleia constituinte.