As edições em inglês dos livros infantis de Roald Dahl, o autor do clássico infantil Charlie e a Fábrica de Chocolate, entre muitos outros títulos, vão ser alteradas para remover linguagem considerada ofensiva por decisão da editora Puffin. Em Portugal, a Oficina do Livro, que carimbou algumas das edições mais recentes das obras do autor, não tem conhecimento oficial desta informação, como esclareceu ao Observador.

Palavras como “feio” ou “gordo” desaparecem e há pormenores que são reescritos para que seja utilizada uma linguagem que a editora considera mais educativa para os tempos atuais. De acordo com o Daily Telegraph, a Puffin contratou leitores para analisarem e contribuírem para as alterações, sendo que o objetivo é que os livros “continuem a ser apreciados por todos nos dias de hoje”. E tanto a editora como a Roald Dahl Story Company, que gere os direitos da obra do autor, trabalharam com a Inclusive Minds, uma equipa “apaixonada por inclusão na literatura infantil”.

A questão da aparência física é uma das que sofreu mais alterações: a palavra “gordo” desapareceu dos livros de Roald Dahl (que em muitos casos assinou histórias com finais macabros, inclui personagens estranhas e nem sempre seguiu os princípios mais tradicionais da literatura infantil) — no livro Charlie e a Fábrica de Chocolate, Augustus Gloop é agora “enorme” —, bem como é apagada a descrição de “feia” — a Sra. Peste, uma das protagonistas no livro Os Pestes deixa de ser “feia” e mantém-se apenas “bestial”. Os oompa loompas, personagens que fazem parte da história da Fábrica de Chocolate deixam de ser “pequenos homens” para serem “pequenas pessoas”, adotando a neutralidade de género.

São centenas de alterações feitas no texto original e há também passagens adicionadas, como é o caso do livro As Bruxas, em que, depois de se referir que estas personagens são carecas por baixo das perucas, surge a indicações de que “existem muitas outras razões pelas quais as mulheres podem usar perucas e certamente que não há nada de errado com isso”.

A Roald Dahl Story Company argumentou que “não é incomum” existirem estas alterações quando há novas edições e assegurou que as mudanças na linguagem foram “pequenas e cuidadosamente consideradas”. Mas também há críticas à decisão. Salman Rushdie, por exemplo, escreveu no twitter que “Roald Dahl não era um santo [foi várias vezes acusado de racismo, anti-semitismo e misoginia], mas esta é uma censura absurda”. O escritor indiano, que publicou recentemente Victory City, depois do ataque de que foi vítima no ano passado em Nova Iorque, acrescentou também que “a Puffin Books e os representantes de Dahl deveriam ter vergonha”.

Já a CEO do Pen Club americano, instituição que advoga a liberdade de expressão, considera que “a edição seletiva de obras literárias para corresponder a determinadas sensibilidades é uma arma nova e poderosa”. Também no Twitter, Suzanne Nossel escreveu que “o problema de mudar clássicos da literatura está no caminho sem fim que essa atitude pode representar e na possibilidade de alterar completamente uma obra”.

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