Os CTT já tiveram selos em cortiça, em tecido – a aposta foi a seda – e agora viram-se para formatos digitais. Os Correios de Portugal embarcaram na tendência dos NFT, os ativos não fungíveis, e lançaram aquele que promete ser o primeiro selo cripto em Portugal.

O selo recebeu o nome de “Caravela”, já que esta aposta nos NFT é feita sob o tema “Navegando à descoberta do futuro”. Esta novidade resulta de uma parceria com a Stampsdaq, uma startup da Estónia, que já colaborou com operadores postais internacionais em projetos do género, como o operador postal do Butão ou os Correios da Costa do Marfim. Os NFT são representações digitais, com um certificado de autenticidade e determinado valor de mercado, que estão ligados a uma negociação em blockchain. Esta tecnologia, conhecida como protocolo de confiança, permite garantir a autenticidade e a segurança das transações.

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Os ativos não fungíveis ganharam popularidade e há cada vez mais empresas a apostar nesta área. Raul Moreira, diretor de filatelia dos CTT, explica que o projeto é um exemplo de “desenvolvimento tecnológico e inovação artística” dos Correios ao longo dos seus 170 anos como emissores oficiais de selos. “Fomos os primeiros no mundo a emitir um selo em cortiça, os primeiros a produzir selos em tecido de seda, os primeiros igualmente a incluir LED remotamente ativados nos selos e ainda os primeiros a inserir num bloco filatélico uma folha de grafeno (forma cristalina do carbono) onde estava gravado um poema de Miguel Torga que era lido através de uma aplicação”, enumera. “Esta aposta faz parte da nossa missão de sermos altamente inovadores nos selos que lançamos e acreditamos que este cripto selo vai apelar tanto aos nossos antigos colecionadores como aos novos”, antecipa.

Em relação à escolha da StampsDaq para esta parceria de selo digital, Raul Moreira explica que existe uma “visão comum sobre o futuro da filatelia.”

Por sua vez, Andrii Shapovalov, CEO da StampsDaq, refere que a parceria com o operador postal português é um “marco importante” e que constitui uma validação do seu modelo de negócio. “Todos os elementos da cadeia de valor filatélica são preciosos, mas os colecionadores são os que mais devem beneficiar, e estou satisfeito por os CTT terem a mesma visão e estratégia para que isso aconteça. As possibilidades oferecidas pela blockchain irão complementar e definitivamente melhorar a experiência tradicional de recolha de selos permitindo novas, autênticas e gratificantes oportunidades para os colecionadores.

O “Caravela” vai ter uma emissão total de 40 mil exemplares, com um valor facial de 9,90 euros – 30 mil estarão em formato físico, com um “gémeo digital” em NFT, e 10 mil exemplares serão exclusivamente digitais e estarão disponíveis na plataforma da StampsDaq. A versão física deste selo vai estar à venda tanto nos balcões dos CTT como na loja online; o comprador vai receber um cartão com um código numérico de dez dígitos, que quando é inserido na plataforma da startup dá acesso ao selo NFT.

É explicado que, no formato digital do “Caravela”, há diferentes níveis de raridade e que essa informação só é conhecida quando se acede à plataforma da StampsDaq. Por contraste, no formato físico, existe apenas o selo comum, “mas quando se realiza o resgate do NFT associado, o colecionador recebe um selo digital com um de quatro níveis de raridade”, explicam os CTT.

Selo cripto CTT

O “Caravela” e a caixa com a versão física do selo cripto dos CTT

Existem quatro categorias: comum, que vai ter 35 mil exemplares; raros, com 4.900 exemplares; super raros, com 99 exemplares e único, que tem apenas um exemplar. O facto de se desconhecer no momento da compra o nível de raridade faz com que não seja possível escolher o NFT associado. Desta forma, os Correios acreditam que são esses diferentes níveis de raridade que tornam “este selo muito interessante tanto para colecionadores tradicionais, como para consumidores nativos digitais e, naturalmente, para todos os interessados em reforçar a sua carteira.”

O selo digital fica acessível na carteira cripto e pode ser pago com Matic, a criptomoeda nativa da rede Polygon, ou usando um cartão de crédito. Assim que o NFT é acedido deve ser guardado na crypto wallet, que permite o armazenamento do selo e a sua consulta a qualquer momento.