Maiores do que nunca, mais largos do que nunca, mais pesados do que nunca. Os 10 carros de Fórmula 1 que vão participar no Mundial que arranca já este fim de semana, no Bahrain, são os maiores, os mais largos e os mais pesados de sempre. As equipas não conseguem cortar no peso, os pilotos queixam-se, a cúpula da modalidade atira a responsabilidade para 2026: e os quilogramas continuam a subir.

Atualmente, o peso mínimo de um carro de Fórmula 1 — vazio, sem piloto e sem combustível — está nos 798 quilos. Ou seja, mais três do que o limite mínimo de 2022, ano em que o valor deu um salto exponencial de 43 quilos devido ao aumento do diâmetro da roda para 45 centímetros e outras mudanças relacionadas com medidas de segurança. Para 2023, todo o pelotão pretendia subir o peso mínimo apenas um quilo, para os 795, mas o facto de os novos Pirelli serem mais robustos obrigaram a um alargamento maior.

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Se olharmos para os primórdios da Fórmula 1, o aumento do peso dos carros é inegável e verifica-se essencialmente na última década. Entre 1950 e 1960, não existiam quaisquer limites mínimos ou máximos ao peso dos monolugares. Em 1961, o primeiro valor mínimo fixou-se nos 450 quilos, sendo que no espaço de 20 anos e até 1981 só subiu até aos 585. A partir de 2013 e com a mudança para motores híbridos, a escalada não parou: 691 em 2014, 702 em 2015, 728 em 2017 (já com a Pirelli), 734 em 2018 (o ano da introdução do halo), 743 em 2019 e 749 em 2020. Em resumo, de 2000 a 2023, registou-se um aumento de quase 200 quilos.

Para além da introdução dos motores híbridos e da entrada em vigor do halo, o aumento do peso dos carros de Fórmula 1 tornou-se um verdadeiro ciclo vicioso: se os veículos pesam mais, as condições de segurança têm de ser reforçadas; logo, os diâmetros das rodas têm de ser alargados e o peso tem de ser distribuído, tornando os monolugares cada vez mais “entroncados”. Condições que desagradam aos pilotos, com Lando Norris a ser o mais direto em relação ao assunto.

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“O peso faz uma diferença enorme na condução, na forma como o carro reage. É muito mais pesado do que era na época passada. Parece mais lento, mais arrastado. Sente-se muito nas travagens e em certas áreas da pista. A performance não é a mesma”, disse o piloto da McLaren no início da temporada passada, em declarações rapidamente corroboradas pelos restantes colegas do pelotão.

A melhor maneira de reduzir o peso de um carro é retirar componentes — algo que se torna extraordinariamente complexo nos dias de hoje, onde grande parte do design e do chassis de um monolugar é pensado à medida e está lá porque tem mesmo de lá estar. Logo, as equipas têm procurado soluções alternativas: como a redução da tinta, algo que explica o porquê de muitos dos veículos do Mundial 2023 serem bastante mais escuros do que as versões anteriores. O fenómeno é visível na AlphaTauri e na Alfa Romeo mas tem o exemplo paradigmático na Mercedes, que largou o prateado habitual para assumir o negro da fibra de carbono original.

“Tivemos peso a mais no ano passado. Este ano tentámos perceber onde é que podíamos tirar um grama que fosse. Por isso, a história repete-se. O carro tem partes em que é mesmo só a fibra de carbono original, outras em que está pintado de um preto matte“, explicou Toto Wolff, o diretor da equipa, na apresentação do W14. Ainda assim, e apesar da aparente incapacidade das equipas na hora de reduzir o peso dos monolugares, existe um horizonte.

Em 2026, os motores dos carros de Fórmula 1 vão sofrer as primeiras alterações arquitetónicas desde a introdução da lógica híbrida: a própria tecnologia de energia híbrida será desenvolvida, a unidade motriz será mais pequena e vai abrir-se a porta para uma redução significativa do peso dos veículos.

“Os carros atuais são muito grandes. Estamos a trabalhar em motores novos para 2026 e os carros vão adaptar-se a isso mesmo. Um dos principais objetivos que temos é poupar peso, algo que se torna desafiante quando temos veículos híbridos e queremos fortalecer as medidas de segurança. Mas acho que podemos ter carros mais leves, de certeza que podemos ter carros mais pequenos. Acreditamos que sim. E achamos que as alterações de 2026 serão uma verdadeira oportunidade para ter um carro mais compacto”, explicou recentemente Ross Brawn, o atual diretor da Fórmula 1.