As novas demissões na TAP são “manobras de distração” e não chegam. Da esquerda à direita, os partidos retiraram a mesma conclusão depois de ter sido conhecido o relatório da Inspeção-Geral de Finanças sobre Alexandra Reis e apontaram o dedo numa só direção: António Costa e Fernando Medina, um ministro “diminuído”, continuam a ter responsabilidades políticas por retirar e assumir.

Desde logo, o vice-presidente do PSD Miguel Pinto Luz quis deixar claro que o Governo não pode empurrar apenas para a TAP os problemas relativos à indemnização: “São do foro político, das tutelas ministeriais”. Até porque para os sociais-democratas todo o processo que levou Alexandra Reis, “alguém de confiança do Governo”, a entrar no Executivo depois de receber a verba da TAP mostra a “conivência” dos ministérios envolvidos, numa “trama infindável”.

As questões políticas, frisou, continuam a ser pertinentes: é preciso esclarecer melhor as circunstâncias em que Alexandra Reis saiu da TAP e foi depois escolhida para a NAV e para o ministério da Finanças. Conclusão: Medina “está hoje ainda mais diminuído publicamente” e tem, tal como António Costa, de “assumir as suas responsabilidades”.

Leia na íntegra o relatório da IGF que levou à demissão da CEO e do chairman da TAP

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Pelo Chega, André Ventura veio defender que, parecendo a conclusão da IGF “irrepreensível juridicamente”, falta agora apurar “a responsabilidade do Governo“. Por isso, mesmo que pareça bem ao partido a saída da CEO e do chairman da TAP, a história não acaba aqui: é preciso perceber a responsabilidade do Executivo “enquanto entidade”. Ainda à direita, Rui Rocha, da Iniciativa Liberal, falou no mesmo sentido e disparou diretamente contra o primeiro-ministro: “É o grande responsável político por toda esta situação”.

A esquerda também não se mostrou pronta para largar o assunto. No Bloco de Esquerda, e apesar de considerar “inevitável” o desfecho das saídas na TAP, Mariana Mortágua também apontou responsabilidades ao Executivo, frisando que “a cadeia de informação” da companhia aérea com o ministério das Finanças “continua a não ser clara”.

“O Ministério das Finanças conheciam ou não o que se passou? É estranho ter sabido ao mesmo tempo que os cidadãos”, questionou a candidata à liderança do Bloco: “E o mesmo CEO que tomou a decisão levianamente de dar esta indemnização, que outras decisões e que outras irregularidades praticou com a mesma leviandade?”.

Essa é a questão que preocupa vários partidos: o que acontece na gestão da TAP para lá do caso específico de Alexandra Reis. Bruno Dias, do PCP, veio perguntar “quantas Alexandras Reis existem”, dizendo que o caso vem mostrar “o que de pior tem a gestão privada” e pedindo que o processo de reprivatização da empresa seja travado. Também o Livre se mostrou preocupado com decisões que podem ser tomadas em benefício dos administradores, mesmo que lesem o interesse público.

O PAN, último partido a reagir, seguiu a mesma pauta: o ciclo não se “fecha” aqui, avisou Inês Sousa Real, colocando o foco em perceber se a situação é única e em garantir que não se repete, e, mais uma vez, apontando a mira a Fernando Medina: “Não basta que Medina diga que não sabia. Devia ter indagado. Tinha obrigação” de não “fechar os olhos”. Apesar de o Executivo ter tentado encerrar o assunto anunciando as saídas na TAP, os partidos esperam que a comissão de inquérito venha, em vez de ficar esvaziada, trazer mais respostas.