Trabalha desde os nove anos, é o primeiro membro da família a tirar um curso universitário, lidou com vários casos mediáticos e é minucioso ao ponto de “ler cada nota de rodapé”. É assim Juan Merchan, o juiz do Tribunal Supremo de Nova Iorque que já trabalhou em casos relacionados com o universo Trump e tem agora nas suas mãos a acusação contra o próprio Donald Trump, relacionada com o alegado pagamento que terá feito pelo silêncio da atriz pornográfica Stormy Daniels.

Juan Merchan é, como relata a imprensa norte-americana, um juiz experiente, que começou a carreira como auditor antes de entrar no mundo dos tribunais em 1994, como procurador assistente em Manhattan, e é juiz do Tribunal Supremo de Nova Iorque desde 2009. Tem 60 anos.

E já lidou com casos do universo Trump antes: foi o responsável pela sentença de prisão contra o confidente de Trump Allen Wisselberg, como recorda a CNN, além de ter participado no julgamento da Trump Organization por fraude fiscal (a sentença foi uma multa de 1,6 milhões de dólares, ou 1,4 milhões de euros) e de ter sido o supervisor do caso de fraude criminal contra o antigo estratega do ex-Presidente Steve Bannon.

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De acordo com várias fontes citadas nos perfis da CNN e do New York Times do juiz nascido na Colômbia, Merchan é elogiado pela sua conduta “ética” e “justa” e pela preparação minuciosa com que encara os casos por que é responsável. Também é referida a sua postura “dura” e a pouca paciência para pedidos de adiamento ou “disrupções” em tribunal.

A televisão cita Nicholas Gravante, que defendeu Weisselberg, e que descreve Merchan como um juiz “eficiente, prático, que ouvia cuidadosamente” e que aparecia sempre “bem preparado, acessível e — ainda mais importante no caso Weisselberg — um homem de palavra”, que tratava os advogados com “respeito” em público e privado.

Já a advogada Karen Friedman Agnifilo, que supervisionou casos de Merchan na procuradoria de Manhattan, frisa que o juiz não permite que procuradores ou advogados de defesa “criem problemas” na sala de audiências, nem que se crie um “circo mediático”. “Não é vingativo”, frisa.

A referência tem a ver com os ataques que Trump tem dirigido publicamente ao juiz. Ainda esta terça-feira o ex-Presidente fez uma publicação na rede social Truth Social em que se referia a Merchan como um seu “detrator”, “altamente parcial” e um “desastre” no caso da Trump Organization, além de ter referido que a filha do juiz trabalhará para Kamala Harris. À saída do tribunal de Manhattan, os advogados de Trump disseram que Trump não estava a atacar o juiz, mas antes a referir alguns pontos que poderiam “criar um conflito”.

Mesmo assim, há quem defenda, do lado de Trump, o juiz: o advogado do ex-Presidente Timothy Parlatore disse na CNN que o magistrado “não é fácil” mas que deverá ser justo e que as experiências anteriores não deverão “mudar a sua capacidade para avaliar os factos e a lei neste caso”.

No caso contra a Trump Organization, Merchan chegou a responder às acusações dos advogados sobre uma suposta perseguição por a empresa ser associada ao ex-Presidente, recusando que houvesse motivações políticas: “Não vou permitir de maneira nenhuma que falem numa acusação seletiva, ou que aleguem que isto é algum tipo de perseguição”, cita a BBC.

Ao New York Times, o antigo procurador assistente de Manhattan Jose A. Fanjul acrescenta que Merchan “lê cada palavra de cada página de cada processo, assim como cada nota de rodapé”.

Outros casos conhecidos de Merchan são os de uma mulher acusada de acompanhamento de luxo para “os ricos”, e o julgamento em que sentenciou um homem senegalês que violou e matou a namorada a 25 anos de prisão. Do seu currículo consta também a participação na criação do Tribunal de Saúde Mental de Manhattan, onde tem fama de mostrar “compaixão” aos condenados com problemas de saúde mental — embora a sua reputação seja, nos casos que não são óbvios, de ficar do lado da acusação.

O jornal conta que Merchan nasceu em Bogotá, na Colômbia, e chegou aos Estados Unidos com a família, pobre, quando tinha seis anos, para viver em Queens. Começou a trabalhar aos nove anos para ajudar a família e assim continuou, lavando pratos em restaurantes ou trabalhando em hotéis, até começar a trabalhar como auditor e depois estudar para se tornar procurador e juiz.

Na procuradoria de Manhattan, dedicou-se a casos de fraude financeira, antes de passar a supervisionar casos civis em Long Island. Passou ainda pelo tribunal de família do Bronx antes de em 2009 chegar ao Tribunal Supremo de Nova Iorque.