Vladimir Kara-Murza, político com nacionalidade russa e britânica e crítico do regime de Putin, foi condenado esta segunda-feira a 25 anos de prisão. O também historiador foi detido na Rússia no ano passado, por desobediência às autoridades, e já quando estava sob custódia foi acusado de traição.

Kara-Murza, de 41 anos, teceu duras críticas à invasão da Ucrânia, acusando o governo russo de ser um “regime de assassinos” durante uma entrevista à CNN. Foi detido horas depois. Antes já tinha acusado a Rússia de crimes de guerra durante um discurso feito no Arizona.

Os procuradores russos conseguiram a pena máxima que tinham pedido, acusando Kara-Murza de traição e de descredibilizar as forças militares russas. O político russo tem três filhos e vivia com a família nos Estados Unidos.

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Contribuía com regularidade para o Washington Post – mesmo quando estava na prisão, enviava textos por carta. É o jornal norte-americano que tem uma transcrição da argumentação feita em tribunal por Vladimir Kara-Murza, a 10 de abril.

“Tinha a certeza de que, após duas décadas na política russa, depois de tudo aquilo por que passei, já nada me conseguia surpreender. Tenho de admitir que estava errado”, disse em tribunal, a propósito do julgamento em que se viu envolvido. “Estou na prisão pelas minhas visões políticas. Por falar contra a guerra na Ucrânia. Pelos muitos anos de luta contra a ditadura de Vladimir Putin.”

“Não só não me arrependo de nada disto, como estou orgulhoso”, afirmou em tribunal, frisando que “subscreve todas as palavras que disse”. Nesta ocasião, disse ter apenas um arrependimento: que “ao longo dos anos de atividade política não tenha conseguido convencer compatriotas e políticos suficientes em países democráticos do perigo que o atual regime do Kremlin representa para a Rússia e para o mundo”.

Nações Unidas pedem libertação imediata

A decisão do tribunal de Moscovo está a merecer críticas por parte de várias vozes da comunidade internacional. Volker Türk, líder da área de direitos humanos das Nações Unidas, pediu a libertação imediata de Vladimir Kara-Murza. “Ninguém deve ser privado da sua liberdade por pôr em prática os seus direitos humanos e peço às autoridades russas que o libertem sem atraso”, disse o comissário das Nações Unidas, em comunicado.

A sentença de 25 anos de prisão é “mais um golpe às regras de direito e espaço cívico” da Rússia, disse este comissário.

Também a diplomacia britânica e a norte-americana criticaram a sentença. Em declarações aos jornalistas no exterior do tribunal de Moscovo, Deborah Bronnert, a embaixadora britânica na Rússia, disse que o veredito era “chocante”. Ao lado tinha a embaixadora norte-americana na Rússia, Lynne Tracy, que lembrou que a “criminalização de críticas à ação governamental é um ato de fraqueza, não de força”. Ambas as embaixadoras pediram a libertação imediata do opositor de Vladimir Putin.

Esta não é a primeira vez que Vladimir Kara-Murza foi visto como um alvo. O político já foi envenenado duas vezes, uma em 2015 e outra em 2017.