O Real Madrid-Partizan dos playoffs da EuroLeague fugiu a tudo o que é normal num jogo de basquetebol. Desde logo, não durou os habituais 40 minutos, porque os jogadores se envolveram num momento de tensão que levou o jogo a terminar devido à inexistência do número mínimo de atletas para que a partida pudesse retomar uma vez os árbitros distribuíram 21 expulsões pelas duas equipas e deram o encontro como suspenso quando faltava um minuto e 40 segundos para terminar o último quarto. Além disso, alguns confrontos físicos entre os jogadores criaram uma modalidade que mistura o basquetebol e as artes marciais. Um dos “combates” mais evidente foi o que opôs Yabusele (Real Madrid) e Dante Exum (Partizan).

O jogador do Partizan foi projetado pelo do Real Madrid e acabou por deixar o WiZink Center, o pavilhão do blancos, de muletas. O médico da equipa sérvia, Momom Jakovljevicem, em declarações ao Telegraf, esclareceu que a lesão de Exum, “uma rutura do tendão do segundo dedo do pé”, foi provocada por uma pisadela de Gabriel Deck. No entanto, o responsável do Partizan mostrou preocupação quanto ao que podia ter acontecido no confronto entre Yabusele e Exum. “A forma como o atirou ao chão com um movimento de judo… É para prisão, para ficar suspenso a vida toda. [Exum] podia ter partido a coluna, lesionado gravemente a cabeça e terminado a carreira. Foi terrível. Nunca tinha visto isto na minha vida”.

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O Real Madrid chegou ao intervalo com uma desvantagem de 14 pontos, mas uma defesa zonal agressiva forçou o Partizan a cometer vários turnovers no início da segunda parte, ajudando os espanhóis a encostarem no marcador. A estratégia surpreendeu os sérvios, mas, após uma série de ataques, a equipa de Belgrado encontrou de novos soluções para colocar a bola no cesto no meio-campo ofensivo. A frustração começou a tomar conta dos merengues que tinham perdido o jogo 1 em casa (89-87) e, com o marcador em 95-80, preparavam-se para perderem também o jogo 2 de uma série à melhor de cinco. Numa demonstração de desalento, Sergio Llull cometeu uma falta dura sobre Kevin Punter, um dos jogadores em melhor forma no conjunto treinado por  Zeljko Obradovic. O norte-americano ergueu o punho ao espanhol e aquilo que era uma quezília entre dois adversários rapidamente envolveu os restantes membros de ambas equipas, incluindo os que estavam no banco, com agressões pelo meio.

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A lesão contraída por Dante Exum, que já representou o Barcelona e várias equipas da NBA, levou o australiano do Partizan a abandonar o pavilhão de muletas. O pai do jogador, Cecil Exum, tentou dirigir-se ao balneários para saber qual era o estado do filho, mas foi impedido pelos seguranças do pavilhão de o fazer. Entre tudo que se passou durante o episódio, este não foi o único momento em que os familiares tiveram intervenção direta nos conflitos. Yabusele, um dos primeiros jogadores a deixar o terreno de jogo, foi acalmado por pessoas próximas que saltaram da bancada e empurraram o francês para o balneário.

Yabusele foi dos mais criticados no meio do conflito. O extremo do Real Madrid retratou-se numa publicação no Instagram. “Arrependo-me profundamente do meu comportamento no jogo. O basquetebol é desportivismo e amizade. As minhas sinceras desculpas ao Partizan, um clube com quem sempre tivemos uma boa relação, ao Dante Exum e à família dele, aos meus colegas de equipa, ao meu clube e ao fãs”, escreveu. Do lado do Real Madrid, clube que, segundo a Marca, vai tomar medidas duras face aos acontecimentos que os dirigentes consideram que mancham a imagem do clube, também houve reações.

O veterano Sergio Llull lamentou o sucedido e assumiu as culpas. “O que aconteceu nunca devia acontecer num campo de basquetebol. Assumo a responsabilidade por cometer aquela falta dura que desencadeou o desastre subsequente. As minhas desculpas a todos os fãs”. Já Kevin Punter, que, nas imagens, é visto a agredir Dzanan Musa, jogador do Real Madrid, com um murro, tinha-se demarcado de ter provocado toda a situação. “Não comecei nada. Calem-se!”, disse num tweet que, mais tarde, apagou. Em resposta a Llull, o norte-americano foi mais condescendente. “As emoções estão altas, entendo perfeitamente”.

Muitas adeptos do Partizan deslocaram-se à capital espanhola para os dois primeiros jogos da série, mas ainda mais foram os que marcaram presença no aeroporto para receber a equipa na chegada a Belgrado. No jogo 3, que se disputa na próxima quinta-feira, o Real Madrid não espera um ambiente fácil na Sérvia. Dylan Ennis, jogador do Galatasaray, que jogou uma época no rival do Partizan, o Estrela Vermelha, comentou o incidente. “Rezo para que o Real Madrid entre na Sérvia com a guarda nacional. Entrar na Stark Arena para os jogos 3 e 4 com os adeptos [mais de 20.000] depois disso… Rezo por todos vocês”. O comportamento dos adeptos do Partizan, equipa que regressou à EuroLeague esta temporada pela primeira vez em oito anos, levou à interrupção do dérbi de Belgrado com o Estrela Vermelha com os árbitros a terem que abandonar o campo devido ao arremesso de objetos.

A EuroLeague não deixou os acontecimentos de Madrid passarem em claro referindo em comunicado que “condena veementemente os acontecimentos ocorridos no final do jogo” e que “tais eventos não representam os valores de respeito que a liga e os seus clubes promovem e que o basquetebol incorpora” pelo que passou à entidade judicial competente a avaliação dos factos, devendo esta pronunciar-se em breve.

Para “infrações graves”, o que inclui “agressões físicas contra um membro da equipa de arbitragem, outro indivíduo, público, adeptos ou qualquer pessoa em geral” cometidas por intervenientes num jogo, os regulamentos da competição contemplam multas entre os 30.001 e os 280.000 euros, proibição de acesso aos pavilhões e de participação em competições, jogos ou eventos da EuroLeague por um período de um a quatro anos, desqualificação temporária das competições da EuroLeague por um período de um a quatro anos ou por três ou mais jogos ou a desqualificação permanente da EuroLeague.