Dois dos 15 moradores do prédio que ruiu na Rua 31 de Janeiro, no Porto, apelaram a que se apurassem as causas do acidente e que lhes fosse assegurada uma solução de realojamento “mais permanente”.

Depois de participarem na manifestação que, pelas 20h30 de quinta-feira, se mobilizou em frente à Câmara Municipal do Porto, dois dos 15 moradores descreveram aos eleitos da Assembleia Municipal do Porto o que aconteceu há cerca de uma semana e apelaram a que fossem apuradas as causas do acidente.

“Investiguem porque é que o prédio ruiu. Deviam culpar os proprietários que estão a brincar com a vida das pessoas só por dinheiro”, afirmou Mollik Hossain Nishad, o morador que, devido ao acidente, ficou com ferimentos ligeiros e foi hospitalizado no Santo António. Agradecendo a todos os que o ajudaram a sair do prédio e a salvar-lhe a vida, Mollik contou que, depois de receber alta hospitalar na quinta-feira à noite, pernoitou na loja no rés-do-chão do prédio que ruiu por não ter onde dormir.

“Não quero reclamar nada, mas investiguem”, observou, dizendo não ter sido, até ao momento, contactado por nenhuma instituição, à exceção da organização Habitação Hoje.

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Já Khalied Bin Solaiman, esclareceu que, quando o teto do prédio ruiu, seis dos moradores estavam no seu interior, mas a maioria estava a trabalhar.

“O teto caiu em cima da minha cama”, disse, afirmando estar assustado e doente.

“Tenho epilepsia e a minha medicação, dinheiro e pertences estão dentro do prédio”, acrescentou Khalied, apelando para que fosse garantida uma solução de realojamento “mais permanente”.

“Por favor, deem-nos uma solução de alojamento. Ontem [terça-feira] perdi o meu emprego, agora não tenho dinheiro para comprar medicação. Ninguém nos deu uma solução e estou cansado de mudar de um sítio para outro”, referiu, dizendo também que, além da organização, mais nenhuma instituição o ajudou.

Os ânimos acentuaram-se, no entanto, durante a intervenção de um dos membros da organização Habitação Hoje, que acusou a autarquia de “total desprezo” pelos moradores e o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, de “aproveitamento político”.

“O único aproveitamento político foi o heroísmo e populismo do presidente da câmara”, afirmou Helena Souto, acusando ainda a autarquia de “cinismo”.

“A autarquia acusa a organização de aproveitamento político, um cinismo tão grande que apenas podemos convidar a autarquia e os aqui presentes a irem ver o prédio destruído. É uma sorte as pessoas estarem aqui”, acrescentou.

A intervenção de Helena Souto foi interrompida pelo presidente da Assembleia Municipal do Porto, depois de críticas dos eleitos do movimento independente “Rui Moreira: Aqui Há Porto”, que consideraram “lamentável a manipulação feita e a instrumentalização da assembleia”, e do PSD, que acusou a organização de estar a “representar um movimento político”.

Pela CDU, o eleito Rui Sá, defendeu que o “público deve ser respeitado” e que os “moradores expressam-se da maneira que entendem”.

Na quinta-feira, em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara do Porto afirmou que se tem assistido a “uma tentativa de aproveitamento por parte de um grupo de ativistas ligados ao Bloco de Esquerda, e alguma tentativa de condicionar aquilo que é o normal funcionamento dos (…) serviços”, bem como da Segurança Social e outras entidades.

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Dos 15 moradores, nove estão realojados no Seminário do Bom Pastor, em Ermesinde, e seis “arranjaram soluções através da rede de apoio e relação que mantém com os seus patrões”, afirmou, em declarações aos jornalistas, Alexandre Viana, da organização Habitação Hoje.