O presidente do Conselho Nacional da Iniciativa Liberal, Nuno Santos Fernandes, pediu que o responsável pela fuga de informação do documento da lei de bases da saúde renuncie ao mandato no órgão máximo entre convenções. Mesmo sem saber quem é esse responsável ou responsáveis. O e-mail enviado aos conselheiros incluía uma carta assinada por João Cotrim Figueiredo — ex-presidente da IL e rosto da proposta liberal para a saúde — a demonstrar “a estupefação, a indignação e a desmotivação”, bem como o sentimento de “desrespeito” pelo trabalho de toda a equipa envolvida.

Sem acusar ninguém, convido o membro que traiu a confiança do partido e de todos nós a, por sua iniciativa, ter a hombridade de renunciar ao mandato para o qual evidentemente não tem as características mínimas necessárias”, pode ler-se no e-mail assinado por Nuno Santos Fernandes, em que o presidente do Conselho Nacional abre a porta ao conselheiro responsável pela fuga de informação.

Em causa está a proposta de lei de bases da saúde que João Cotrim Figueiredo e Joana Cordeiro, deputada da IL com a pasta da saúde, apresentaram aos conselheiros nacionais no passado domingo e que foi noticiada pelo Observador. A discussão na reunião pretendia recolher perspetivas e argumentos antes de a proposta ser tornada pública e vários membros intervieram com pontos de vistas e dúvidas.

Porém, o facto de ter havido uma fuga de informação gerou no presidente do Conselho Nacional uma “especial consternação” que o tema tenha chegado à comunicação social, o que considera ter posto em causa a “confiabilidade do Conselho Nacional, o trabalho do Grupo Parlamentar, o interesse da Iniciativa Liberal e, no limite, a saúde dos portugueses e o futuro de um Portugal mais liberal”.

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Citando um dos artigos dos Estatutos da IL, Nuno Santos Fernandes revelou que entre os deveres dos membros está o “usar de zelo, lealdade e sentido ético no exercício de funções” para os quais foram eleitos ou aceitaram nomeação e pediu “hombridade” à pessoa que divulgou o documento, sugerindo que abandonasse o cargo de conselheiro.

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Na carta assinada por João Cotrim Figueiredo, o ex-líder liberal mostrou “desagrado” pelo facto de o documento ter chegado à comunicação social depois de ter tido “o cuidado de sublinhar no final da apresentação e período de perguntas e respostas que era crucial preparar um plano de comunicação antes da apresentação pública”.

“Sinto, por isso, ser minha obrigação partilhar a estupefação, a indignação e a desmotivação que a equipa que preparou longamente a proposta de lei de bases da saúde e eu próprio sentimos, na medida em que o anúncio extemporâneo da mesma provoca danos significativos ao impacto político que se pretendia obter com o debate sobre este tema fundamental para a vida dos portugueses”, lamentou Cotrim Figueiredo numa carta que autorizou que fosse divulgada aos membros do Conselho Nacional.

O ex-presidente do partido, que deu declarações ao Observador após ter tido confrontado com a divulgação do documento, fez ainda questão de sublinhar que, “independentemente de os motivos terem sido dolosos, negligentes ou narcísicos”, a pessoa que facultou o documento à imprensa “causou dano ao partido e desrespeitou o trabalho dos envolvidos”.

Além do e-mail do presidente do Conselho Nacional e das palavras de João Cotrim Figueiredo, está ainda a circular entre conselheiros liberais uma carta dirigida ao órgão máximo entre congressos que serve para “repudiar veementemente as constantes prestações de informações detalhadas perante a comunicação social sobre o decurso dos trabalhos em Conselho Nacional, resultados de votações e demais conclusões ou documentos”.

Os subscritores consideram que as fugas de informação, “independentemente de ter impacto positivo ou negativo para com a Iniciativa Liberal como um todo, ou em particular para com a Comissão Executiva”, são um “ato de deslealdade” para o órgão e para os conselheiros que “mina a confiança” dos membros e que tem “consequência lateral a de colocar em causa a credibilidade e idoneidade de todo e cada conselheiro”.

“Os presentes subscritores vêm salientar que não se revêm neste modo de estar e atuar na política que, no final, corrói as bases da Iniciativa Liberal e vem perigar a sua evolução e crescimento”, lê-se na missiva, onde se apela à “ética política” e se afirma que “a falta de reserva e confidencialidade“, sendo “inaceitável e é absolutamente insustentável que tais condutas continuem a ter lugar”.

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