Na noite de 26 de abril, perante um telefonema perturbado da sua chefe de gabinete que o informou que estava a haver agressões no Ministério das Infraestruturas acusando, de tal, o adjunto Frederico Pinheiro que tinha sido exonerado nesse dia, João Galamba ligou a vários colegas do Governo.

Já tinha informado que contactou, nessa noite, a ministra da Justiça e que tinha tentado falar com o primeiro-ministro (que não o entendeu e como tal ligou ao secretário de Estado Adjunto, António Mendonça Mendes, que estava ao lado do secretário de Estado da Modernização Administrativa, Mário Campolargo). Segundo contou na conferência de imprensa de 29 de abril, no seguimento dos acontecimentos no Ministério das Infraestruturas, foi Mendonça Mendes que estava ao lado de Campolargo que o aconselhou a contactar a ministra da Justiça, Catarina Sarmento e Castro. “Coisa que fiz” e que devia ser reportado. E agora indica que Mendonça Mendes é que falou do SIS: “Devia nas questões de dados disse que as entidades relevantes eram o SIS e PJ. Eu liguei à ministra da Justiça e falei da PJ e transmiti à minha chefe de gabinete que devíamos falar com o SIS e ela disse já falei com o SIS”. Mais à frente voltou a afirmar, em respostas a Bernardo Blanco, da IL: “Foi o gabinete do primeiro-ministro, o secretário de Estado Mendonça Mendes” quando questionado quem lhe falou para alertar o SIS.

João Galamba garante, por outro lado, que não “faz a mais pequena ideia” se o SIS já acompanhava os movimentos de Frederico Pinheiro, antes disso.

Galamba, na audição da comissão de inquérito, revela, também, agora que “reportei ao ministro da Administração Interna e depois falei com diretor geral da PSP a quem relatei o facto”. Diz ter feito “procedimento análogo” com ministra da Justiça, que “me meteu em contacto com PJ”. Foram, disse, as duas intervenções, além de, “como já relatei falei com gabinete do primeiro-ministro”.

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Depois desta revelação e já sob inquirição por parte de André Ventura, do Chega, que quis saber porque é que Galamba não revelou, na conferência de imprensa, o contacto com o MAI, o ministro das Infraestruturas revelou: “há coisas que podiam ter sido ditas melhor”. Galamba confirma que não referiu o MAI inicialmente — “confirmo que não referi o nome do MAI e que hoje aqui referi” — e diz que esse foi o primeiro telefonema que fez porque “a urgência era ir a PSP e garantir a segurança de pessoas que, naquele momento, não a tinham”.  Justifica assim o facto de não ter referido o MAI logo na conferência de imprensa: “Aquela conferência de imprensa foi feita quase no calor dos acontecimentos e há coisas que podiam ter sido ditas melhor, as pessoas cometem erros”. A conferência de imprensa aconteceu três dias depois dos acontecimentos no Ministério das Infraestruturas.

Confessa que ficou “perturbado” e procurou “desesperado contactar rapidamente PSP”. Ventura acaba a pedir que seja ouvido o diretor nacional da PSP na comissão de inquérito.  O ministro das Infraestruturas já tinha explicado ter recebido um telefonema da sua chefe de gabinete, Eugénia Correia, “visivelmente perturbada. Muito muito muito perturbada”. Conta que o telefonema de Eugénia Correia o deixou “perturbado e preocupado” com as pessoas que teriam sido agredidas. E por isso ligou ao colega do Governo com a tutela da PSP. Falou com PSP e enviou mensagem a Eugénia Correia dizendo que a PSP iria mandar alguém.

Falou também com a ministra da Justiça às 22h53, num telefonema que durou dois minutos. “Não me recordo se falei do SIS ou não à ministra da Justiça”. O objetivo do telefonema era o mesmo do que tinha sido feito uma hora e 40 minutos antes ao Ministério da Administração Interna. “Contactei os meus colegas de governo que tutelam a PSP e a PJ. Foi isto. Não me recordo se falei do SIS ou do SIRP. Mas o telefonema foi para pedir para me por em contacto com a PJ, coisa que aconteceu”. João Galamba indica não conseguir precisar a hora exata do contacto que fez com a PJ, mas diz que foi sobre o roubo do computador.

Recorda também que já lhe tinha sido dito que era importante articular com o SIS, por causa de questões de segurança de dados. “Como foi transmitido, não tive nenhum contacto com o SIRP. A minha chefe de gabinete seguiu orientações que não me foram transmitidas, embora eu tenha conhecimento delas”. Eugénia Correia revelou na audição de quarta-feira que ligou ao SIRP porque tem essas instruções funcionais, mas sem ter pedido autorização prévia de Galamba. “Nós reportámos ao SIS e à PJ”, disse Galamba na conferência de imprensa de 29 de abril.

João Galamba aproveita para elogiar a sua chefe de gabinete por ter chamado o Gabinete Nacional de Segurança para classificar os documentos que iam ser enviados à comissão de inquérito. “Foi a primeira vez que vi alguém classificar recorrendo ao GNS e isto é um elogio que faço à minha chefe de gabinete”. João Galamba diz mesmo que a classificação é necessária no momento em que os documentos saem do circuito ministerial. “Foi juridicamente muito sólida”, diz o ministro sobre a decisão de Eugénia Correia.

Galamba assume ter ligado à PSP e à PJ e corrobora a versão da sua chefe de gabinete dizendo que os serviços de informação (SIRP) foram contactados por Eugénia Correia que depois recebeu telefonema do SIS. Isto porque reportou que tinham levado um computador que continha elementos classificados. O autor desse alegado roubo (Galamba volta a falar em roubo) seria Frederico Pinheiro.

Contacto com Sistema de Informações foi feito por chefe de gabinete sem conhecimento prévio de Galamba. SIS contactou Eugénia Correia

Às acusações que foram feitas por Frederico Pinheiro, ontem nesta mesma comissão de inquérito, Galamba contrapõe as “acusações fundamentadas e com múltiplas testemunhas”.

“Pode ter a certeza que o que não me sai da cabeça é o telefonema de uma pessoa, com quem trabalho desde 2018, desesperada porque tinha levado pancada”, afirma o ministro referindo-se ao contacto com a sua chefe de gabinete a dar conta do sucedido no piso 4 do Ministério. João Galamba insiste que o seu gabinete agiu perante “um roubo e uma agressão”  e que isso valida os atos que se seguiram. Não responde sobre quem mandou o segurança fechar o edifício.

As 11 contradições na comissão de inquérito à TAP que sobram para Galamba

Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, questiona o ministro sobre “a validade legal de fechar um ministério” com uma pessoa lá dentro, e Galamba refere que não é jurista, mas que, genericamente, “testemunhando uma agressão e um roubo” esse fecho seria para “impedir que esse crime se materializasse”.