Ler, ouvir música, petiscar qualquer coisa ou, simplesmente, esperar de forma paciente. Quem quer seguir viagem num modelo eléctrico que ficou sem bateria, não tem outra alternativa se não a de procurar um posto de carga que esteja disponível, a funcionar e, depois, aguardar que a carga do acumulador atinja o patamar necessário para garantir que se podem percorrer mais uns quantos quilómetros até chegar ao destino ou, em percursos mais longos, até ao próximo ponto de carregamento. Esta necessidade continua a ser um dos pontos esgrimidos pelos adeptos da combustão como um dos maiores inconvenientes da mobilidade zero emissões. E é um facto que, da mesma maneira que ainda não se atingiu a (desejada) paridade de preços entre modelos a bateria e os seus rivais a gasolina, também a operação de reabastecer continua longe de poder ser equiparável. Contudo, a diferença é cada vez menor em ambos os casos.

A potência de carga rápida que os eléctricos mais modernos conseguem aceitar tem vindo a aumentar, diminuindo com isso o tempo de espera. Sucede que uns têm de aguardar mais que outros e isso pode fazer toda a diferença para quem elege um modelo a bateria como alternativa de transporte a tempo integral e não apenas como um meio de deslocação em ambiente urbano e suburbano. Daí o especial interesse de um estudo realizado pela consultora alemã P3 Group, que permite estabelecer não um, mas dois rankings, ordenando os 10 veículos eléctricos mais rápidos a recarregar em 10 e em 20 minutos, conforme o número de quilómetros de autonomia conquistado nesse tempo. Sendo que esse número depende de dois factores, pois se por um lado é determinante a potência de carga admitida, por outro, não é menos relevante a capacidade do sistema eléctrico conseguir aceitar potência de carga sem entrar em sobreaquecimento e comprometer a segurança.

A rapidez do carregamento de um veículo eléctrico depende desses dois factores, mas convém realçar que eles só são decisivos quando o utilizador recorre a um posto de carga rápida… realmente rápida. Porém, a abreviatura PCR aplica-se a todos os pontos de carregamento com uma potência igual ou superior a 50 kW e, no actual estado da tecnologia eléctrica, os modelos mais recentes já lidam perfeitamente com o triplo e o quádruplo dessa potência em corrente contínua (DC). A questão é que PCR até podem haver muitos, ou pelo menos os suficientes para garantir uma boa cobertura do território português, mas são poucos os que oferecem potências acima de 50 kW e é necessário ultrapassar potências de 250 ou 350 kW para baixar verdadeiramente o tempo de espera para carregar a bateria.

Os alemães que esperem. Americanos e sul-coreanos são os mais rápidos

De acordo com o estudo realizado pela consultora germânica, os modelos alemães saem pouco favorecidos quando comparados com a concorrência. Indica a própria P3 que, “no mundo real, há um par de perguntas essenciais para o condutor de um BEV: que autonomia preciso para chegar ao destino e quanto tempo requer a operação de carregamento?”. Ora, a resposta dos construtores germânicos a estas duas questões parece ficar aquém dos seus rivais, pois o primeiro modelo a defender as cores preta, vermelha e amarela surge apenas em 6.º lugar.

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Em contrapartida, a sul-coreana Kia destaca-se pela excelente relação entre custo e velocidade de carga, pois não só se bate taco a taco com a jovem Lucid e a referência Tesla, como até consegue superar ambas no sprint de 10 minutos e dar uma abada à BMW, Polestar e Volkswagen com o seu Kia EV6 RWD com bateria de 77 kWh e uma autonomia homologada em WLTP de 528 km entre visitas ao posto de carga. O facto de o crossover sul-coreano com 228 cv tirar partido de uma arquitectura a 800V, transferida da Rimac, permite-lhe superiorizar-se face à concorrência, amealhando em apenas 10 minutos energia suficiente para percorrer mais 204 km. Para trás fica o luxuoso Lucid Air Gran Touring, uma enorme berlina com quase 5 metros de comprimento, 1050 cv e que usufrui igualmente de um sistema com uma tensão de 800V. Em 10 minutos, a bateria de 112 kWh que a equipa (e que lhe permite anunciar mais de 800 km entre recargas), recebe energia suficiente para fazer mais 200 km. O Model S Plaid, que certifica 600 km de autonomia e oferece 1020 cv de potência, pouco perde para a Lucid e para a Kia na cronometragem dos 10 minutos. Nesse período, o modelo norte-americano consegue que a bateria de 95 kWh “encha” para mais 198 km, o que não deixa de ser notável quando, neste caso, o sistema lida com metade da tensão (400V).

Mais 335 km em apenas 20 minutos

Não é um ar que se lhe dá, mas sim um Air Gran Touring. A Lucid pode estar a debater-se com problemas de produção, mas, segundo o relatório da P3 Group, tem no mercado o modelo eléctrico que mais depressa recarrega. Em apenas 20 minutos, a berlina da Lucid armazena energia suficiente para percorrer mais 335 km – um valor já muito interessante, sobretudo quando comparado com o último da lista, o BMW i4 eDrive40 (201 km).

Em 2.º lugar surge o Model S Plaid, com 311 km e, logo depois, quase “colado” o Kia EV6 LR RWD (307 km). O top 5 fica completo com mais dois Tesla, respectivamente, o Model 3 Long Range AWD (272 km) e o Model Y, também LR e AWD, com 259 km. As restantes cinco posições são distribuídas entre modelos das marcas Porsche, BMW, Polestar e Volkswagen. Confira na tabela abaixo ou na fotogaleria de abertura: