Está mais do que demonstrado que a Volta a França é uma questão pessoal entre Jonas Vingegaard e Tadej Pogacar. A única concorrência que se lhes apresenta é a que um impõe ao outro. Um dia está melhor um, outro dia está melhor o outro e vivem bem com isso. Vingegaard tentou deixar Pogacar no sopé dos Pirenéus. Quase conseguiu, mas o esloveno conseguiu, embora com um atraso de 01′ 04”, arrastar-se até Laruns e cruzar a meta na etapa 5. O dinamarquês, por outro lado, parecia contar com a ajuda de uma corda chamada Sepp Kuss, quando ganhou balanço suficiente, arrancou sozinho, conquistando o segundo lugar da classificação geral.

Nasceu um candidato sombra entre o brilho de Vingegaard frente a Pogacar: Jai Hindley vence em Laruns e conquista amarela no Tour

“Queria testar um pouco o Tadej e as minha pernas estavam bem. Estou super feliz com o sítio onde estou”, disse Vingegaard. “Estou super feliz com o minuto que conseguimos, é um bom ganho para nós”, continuou. “Sinto-me bem e olho para mim próprio. Se me sinto bem, tento atacar. Sei que o Tadej nunca desiste. Vai ser uma luta até Paris”. 

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A todos os níveis, a etapa 5 do Tour não foi um bom dia para Pogacar. “Após a corrida, estava bastante bem, mas agora estou triste por ouvir que a minha namorada [Urska Zigart] teve um acidente no Giro e, talvez, uma concussão”, explicou o corredor da UAE Emirates. “Isso é pior do que perder 50 segundo ou um minuto para o Jonas. Vamos pensar dia a dia”.

Na sexta etapa, o australiano da BORA-hansgrohe, Jai Hindley, ia usar a camisola amarela durante os 145 quilómetros entre Tarbes e Cauterets-Cambasque. Esta era uma corrida que, a meio, podia já ter muitas decisões tomadas. Só os mais resistentes iam aguentar trepar até ao topo de Col du Tourmalet, uma subida de categoria especial 17,5 quilómetros, onde sete tinham mais de 10% de inclinação. Isto depois da passagem por uma contagem de terceira categoria e outra de primeira.

Não foram poucos aqueles que começaram a tentar fazer a diferença logo nos quilómetros seguintes ao início da corrida. A novidade é que não eram apenas ciclistas com ambições à vitória na etapa a entrarem na fuga. Entre o grupo de 15, destaque para Wout van Aert (Jumbo-Visma), Mathieu van der Poel (Alpecin-Deceuninck) e Julian Alaphilippe (Soudal-Quick Step). Bryan Coquard (Cofidis) queria estar nos primeiros lugares para amealhar pontos no sprint intermédio e tentar aproximar-se da liderança da camisola verde. A estes nomes juntavam-se ainda ainda Michal Kwiatkowski (Ineos Grenadiers), Matteo Trentin (UAE Team Emirates), Michal Kwiatkowski (Ineos Grenadiers), Julian Alaphilippe (Soudal-Quick Step), Nikias Arndt (Bahrain Victorious), Gorka Izagirre (Movistar), Krists Neilands (Israel-PremierTech), Chris Juul-Jensen (Jayco-AlUla), Matis Louvel (Arkéa-Samsic), Tobias Halland Johannessen, Jonas Gregaard (Uno-X) e Benoit Cosnefroy (Ag2r-Citroen).

O português Rúben Guerreiro, no dia do seu aniversário, integrou um grupo de mais cinco elementos que se colaram à frente. O ciclista da Movistar chegou à fuga junto de Neilson Powless (EF Education-EasyPost), interessado num bom desempenho nas contagens de montanha, Kasper Asgreen (Soudal-Quick Step), Oliver Naesen (Ag2r-Citroen) e Anthony Perez (Cofidis).

“O Rúben Guerreiro é um grande candidato a conseguir uma vitória em etapa”: a análise de Contador ao Tour

O corpo dos sprinters começava a dizer-lhes que pedalar ao ritmo que a Jumbo-Visma colocava no pelotão era demais. A subida de primeira categoria até Col d’Aspin provocou cortes profundos no pelotão e também na fuga. Nos da frente, que se distanciavam 3′ 15”, Cosnefroy Benoit foi o primeiro a ceder e Wout van Aert continuava o seu caminho em modo contra tudo e contra todos, ignorando o facto de se vestir de igual aos restantes corredores da Jumbo-Visma que se empenhavam em ajudar o líder a chegar a Paris de amarelo. Ao mesmo tempo que a equipa de Jonas Vingegaard marcava a cadência, a UAE Emirates aparecia numa segunda linha. A BORA-hansgrohe estava escondida, mostrando que, a longo prazo, Jai Hindley não vai ter  ajuda para reconquistar a liderança da classificação geral.

Rúben Guerreiro continuava a viver quilómetros de protagonismo. No topo de Col d’Aspin, sprintou com Powless e arrecadou oito pontos para a classificação da montanha, beneficiando da passagem em segundo lugar antes da primeira grande descida do dia. Powless ultrapassou Felix Gall e tornou-se no líder virtual da montanha.

À medida que a fuga (+4′ 30”) começou a ganhar tempo ao pelotão, começou igualmente a perder elementos. Quando o desnível deu tréguas, a BORA-hansgrohe apareceu deixando a dúvida se não estávamos perante uma ilusória demonstração de força, pois no início do Tourmalet, as camisolas verdes voltaram para a retaguarda. Julian Alaphilippe, entre os da frente, tentava desfazer-se da concorrência. James Shaw mostrou-se disposto a seguir com o francês, mas mais ninguém alinhou e a intenção ficou por ali.

A 50 quilómetros, a corrida endureceu. O pelotão partiu-se em migalhas e a fuga ficou reduzida a dez elementos. A Jumbo-Visma manteve vários homens com Jonas Vingegaard. A UAE Emirates largou Pogacar e a BORA-hansgrohe deixou Jai Hindley solitário. Sepp Kuss voltou a trazer o companheiro dinamarquês às costas. Pogacar aguentava. O cenário estava a preparar-se para o ataque de Vingegaard. Assim foi. Seguiu-o o esloveno.

O duelo entre os candidatos à vitória no Tour foi de tal maneira intenso que, sozinhos, colocaram-se a 30 segundos dos quatro homens que sobravam na frente, um deles, Rúben Guerreiro. O português tentou passar em primeiro no Tourmalet, mas teve que se contentar com o segundo lugar (15 pontos), atrás de Tobias Halland Johannessen, subindo a terceiro na classificação da montanha.

Wout van Aert esperou por Vingegaard e Pogacar, ajudando ambos a chegar à frente e mantendo-se no comando dos líderes da etapa. O camisola amarela estava a 2′ 50”. A dez quilómetros do fim, o vencedor da corrida era uma incógnita, sendo que os últimos três quilómetros continham ainda inclinações de 10% que podiam ser momentos estratégicos para ataques.

Não foi preciso haver ataque para Rúben Guerreiro perder o contacto. Van Aert entregou a rédeas a Vingegaard que disparou, mas levando consigo Pogacar e Michal Kwiatkowski. A três quilómetros do fim, a luta ficou a dois, sempre com o dinamarquês na frente. No entanto, Pogacar esperou pelo momento certo para fazer uma demonstração de força que durou até à meta. Vingegaard não teve uma perda demasiado penalizadora. Aliás, o líder da Jumbo-Visma tornou-se no novo camisola amarela do Tour com o ciclista da UAE Emirates a subir a segundo na geral.

Rúben Guerreiro terminou em quarto (+2′ 06”). Vingegaard foi segundo (+23”), ainda dentro das bonificações. Ao nível da classificação geral, Jai Hindley caiu para terceiro (+1′ 34”) e Pogacar reduziu a distância para o rival dinamarquês (+25”). Sepp Kuss, Thomas Pidcock, Romain Bardet e Simon Yates são as novidades no top-10 que tem na quinta e na sexta posição Carlos Rodríguez e Adam Yates, respetivamente.