É 50 a 100 vezes mais forte do que a morfina e tem como objetivo principal ajudar doentes graves, incluindo com cancro, a lidar com as dores insuportáveis. Mas o uso ilícito do fentanil — um opióide sintético — está a tornar-se num dos principais problemas de saúde nos Estados Unidos: só em 2021, perto de 70 mil pessoas morreram de overdose com fentanil, segundo um estudo das autoridades americanas divulgado em maio.

O tema voltou por estes dias à agenda mediática depois de a morte de Leandro De Niro, neto do ator Robert De Niro, ter sido associada à substância.

Leandro De Niro, ator de 19 anos, foi encontrado morto na sua casa no início da semana e as autoridades suspeitavam da possibilidade de ter morrido devido a uma overdose de drogas. Numa publicação no Instagram, Drena De Niro, filha de Robert De Niro e mãe de Leandro, partilhou o “choque e tristeza” pela morte do filho — e divulgou a causa da morte do jovem.

Questionada nos comentários da publicação por um utilizador sobre o que tinha acontecido, Drena De Niro escreveu: “Alguém lhe vendeu comprimidos misturados com fentanil, sabendo que estavam misturados, e mesmo assim vendeu-lhos. Para toda a gente que ainda anda por aí a vender e a comprar esta m****, o meu filho desapareceu para sempre.”

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A morte do neto de De Niro voltou a colocar o foco sobre o problema do fentanil, que, de acordo com o estudo das autoridades americanas, citado pela CNN, esteve presente em dois terços das mortes por overdose ocorridas durante o ano de 2021 nos Estados Unidos. Além disso, o fentanil é habitualmente encontrado na presença de outras substâncias psicoativas — o que indicia que é usado em misturas de drogas.

Apesar de o fentanil ser um medicamento legal, muito potente e usado para ajudar doentes a lidar com dores profundas (neste caso, usado em pensos para a pele ou em pastilhas), é também fabricado ilegalmente em produções clandestinas — e é este tipo de fentanil que tem sido encontrado nos casos de overdose.

Segundo o estudo citado pela CNN, no ano de 2021, o fentanil esteve envolvido em 22 mortes por cada 100 mil pessoas. Trata-se do dobro dos casos de overdose com metanfetamina e cocaína, e sete vezes mais do que os casos de overdose de heroína. Foi, diz ainda o mesmo estudo, a droga mais comum nas overdoses fatais em todos os grupos etários e étnicos.

Leandro De Niro foi encontrado morto em casa com sintomas de overdose, anunciou a sua mãe, Drena, no último domingo. Num comunicado, o célebre ator Robert De Niro, avô do jovem, manifestou a “angústia” pela morte do neto.

EUA lançam coligação internacional contra fentanil mas China rejeita adesão

Numa ação dirigida a travar o consumo desta subtância, os Estados Unidos lançaram este sábado uma coligação internacional contra o tráfico de fentanil e outras drogas sintéticas, à qual se juntou o México, um importante produtor dessa substância — e em que a China recusou participar. O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, presidiu a uma reunião virtual com representantes de 97 países e organizações para lançar as bases desta nova aliança, que espera voltar a reunir-se em setembro à margem da Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU).

O fentanil é fabricado por cartéis mexicanos a partir de componentes químicos provenientes da China e depois traficado para os Estados Unidos, onde causa milhares de mortes por overdose a cada ano.

Mas a crise vai além, já que África e o Médio Oriente também vivem uma crise de uso de drogas sintéticas como tramadol ou captagon, esta última fabricada em larga escala na Síria, alertou a ONU no seu Relatório Mundial sobre Drogas, divulgado na semana passada.

“Se não agirmos juntos com urgência, outras partes do mundo sofrerão as consequências catastróficas que já estão a afetar tantas cidades e vilas norte-americanas”, alertou Blinken durante o seu discurso na reunião. O chefe da diplomacia norte-americana lembrou que 110 mil pessoas morreram no ano passado no seu país por overdose de drogas, principalmente fentanil, que é já a principal causa de morte entre pessoas com idades entre os 18 e os 49 anos.

Blinken defendeu ainda que a iniciativa privada também deve estar envolvida nesse esforço, uma vez que uma parte significativa desses estupefacientes é fabricada com substâncias químicas comercializadas legalmente como medicamentos, cosméticos ou produtos de uso doméstico.

Apesar de vários precursores químicos usados pelos cartéis mexicanos para fabricar o fentanil serem provenientes da China, Pequim descartou participar na reunião deste sábado, para a qual havia sido convidada. Numa ligação com repórteres, Todd Robinson, chefe do escritório antidrogas do Departamento de Estado, disse na quarta-feira que a China não tem cooperado com os Estados Unidos no tráfico de drogas nos últimos meses.

Por isso, exortou os restantes países que têm contactos com o país asiático a influenciarem Pequim a juntar-se a esses esforços. O próprio Blinken já fez uma tentativa na sua recente viagem a Pequim, onde levantou a questão do fentanil com as autoridades daquele país como uma das maiores preocupações de Washington.

O Governo de Xi Jinping negou categoricamente em abril passado que o seu país esteja por trás da exportação de precursores de fentanil, em resposta a uma carta enviada pelo Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, solicitando cooperação nesse assunto. López Obrador sustenta que o fentanil chega aos Estados Unidos diretamente da China e nega que a substância seja fabricada no seu país, embora o seu Governo tenha destruído vários laboratórios clandestinos onde se fabricava essa droga.

Apesar de tudo, a nova ministra das Relações Exteriores do México, Alicia Bárcena, esteve na reunião deste sábado para integrar a nova coligação.