Seria difícil, com as temperaturas confortavelmente instaladas acima do 30.º, encontrar um lugar com um ambiente tão frio. Em Sant Sadurní d´Anoia, Espanha, não fossem as portas envidraçadas do pavilhão deixarem entrar a quantidade suficiente de luz para a produção de um efeito de estufa que esturrava as rodas dos patins no chão onde rolavam e quase que os jogadores e o público podiam ficar com os braços em pele de galinha. O primeiro golo marcado por Portugal gerou um grito comemorativo que não se estendeu muito para além dos jogadores. A buzina dos timeouts deve ter assustado muita gente que passava pelas brasas, numa sesta – não estivéssemos em território espanhol – que seria pouco importunada por manifestações de entusiasmo relacionadas com o encontro.

A estreia de Portugal no Europeu de hóquei em patins era até digna de uma final. A seleção nacional defrontava uma Itália que, já este mês, teve pela frente em duas ocasiões. A equipa treinada por Renato Garrido venceu o confronto mais importante. Se é verdade que Portugal perdeu com os italianos (4-2) na fase de grupos da Golden Cat, a seleção vingou a derrota com um triunfo diante dos azzurri na final (4-2) da competição que serviu de preparação para o Europeu e garantindo a conquista da prova.

Portugal tinha na primeira jornada do grupo A, onde também estão França e Espanha, um teste exigente. Ainda assim, a posição dos ursos nesta fase pouco ou nada quer dizer sobre aquilo que pode ser a conquista do Europeu uma vez que todas as oito seleções em competição vão passar à fase a eliminar.

Portugal iniciava assim a tentativa de vencer uma prova em que é recordista (21 troféus), mas que não vence desde 2016. Tudo isto depois de, na última presença em grandes competições, ter perdido a final do Campeonato do Mundo para a Argentina.

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“Temos vontade de ganhar. Estivemos muito perto no Campeonato do Mundo e, por razões várias, não foi possível”, disse à agência Lusa o selecionador Renato Garrido que, na próxima época vai treinar o Valongo. “Vai ser intenso desde o início, com três primeiras jornadas fortíssimas. Temos de entrar em ação o mais cedo possível e tentar o melhor desempenho possível, vencendo o grupo”, continuou o técnico que se mostrou ambicioso mesmo que, em 2021, Portugal tenha falhado a final. “Sabemos que só vai ganhar um e queremos muito ser esse um”.

Poder-se-ia dizer que o melhor não estava guardado para o fim. Da dinâmica dos quatro jogadores de campo que iniciaram o encontro – Gonçalo Alves, Hélder Nunes, Henrique Magalhães e João Rodrigues – nasceu um golo madrugador de Henrique Magalhães conseguido pouco mais de um minuto depois do encontro ter começado. Respondeu a Itália. Com Ângelo Girão de fora da convocatória por motivos pessoais, valeu a Portugal o seu substituto. Pedro Henriques afastou bem o remate de Elia Cinquini.

Gonçalo Alves e Hélder Nunes movimentaram-se bem dentro da área da Itália. Um com bola, o outro sem, combinaram eficazmente, de uma maneira que deixa os adeptos do FC Porto a imaginaram o que vão fazer na próxima época juntos. Por agora, foi à seleção que o dueto valeu mais um golo, este apontado por Gonçalo Alves que rapidamente chegaria o bis. O guarda-redes italiano atirou o stick para fora da órbita do seu círculo e concedeu uma grande penalidade apontada pelo jogador português.

Portugal estava confortável com o 3-0. Pediram-se caipirinhas para a mesa, veio água de Cocco. O internacional italiano, antigo jogador do FC Porto, marcou dois golos em dois minutos, o que fez a seleção nacional perder o controlo da partida. Giulio Cocco ressuscitou os azzurri.

A Itália ainda conseguiu chegar ao empate com o golo a ser anulado uma vez que não foi conseguido com o stick. No entanto, Renato Garrido tinha motivos para estar preocupado uma vez que a sucessão de faltas colocava a seleção nacional numa posição delicada e em risco de sofrer um livre direto. A ansiedade dos italianos para chegarem à igualdade no marcador era tanta que um dos jogadores inclusivamente caiu para dentro da baliza de Pedro Henriques.

Era altura então de medir forças. Nesse barómetro, João Souto mostrou músculo no remate violentíssimo que desferiu ao ângulo direito da baliza de Bruno Sgaria. Entretanto, Portugal estabilizou nas oito faltas e a Itália galopou até ao mesmo número. Estava em cima da mesa a possibilidade do resultado (4-2) ser igual ao dos dois encontros anteriores. Davide Gavioli encarregou-se de que isso não acontecessePort, deixando Portugal em alerta para os últimos três minutos.

Em tão pouco tempo, muitas coisas aconteceram. Gonçalo Alves, a meio do meio-campo ofensivo disparou para trazer novo conforto e chegar ao hat-trick. A Itália não esboçou vontade de retirar o guarda-redes e colocar um jogador de campo. Também não foi preciso. Cocco, outra das figuras do encontro, fez um grande passe para Andrea Malagoli reduzir de novo.

No entanto, Portugal conseguiu mais dois golo. Hélder Nunes e Gonçalo Alves o 7-4 para Portugal. A seleção nacional conseguiu um resultado que acaba por não traduzir o equilíbrio que existiu ao longo do jogo. Os comandados de Reato Garrido arrecadam os primeiros três pontos, antes de esta terça-feira, defrontarem a Espanha.