“Não estávamos juntos há cinco meses e parece que estivemos juntos todos os dias. Quer os treinadores, quer os jogadores, toda a gente está aqui com prazer, com vontade e isso ajuda muito”. O selecionador nacional de basquetebol, Mário Gomes, estaciona na linha do meio-campo de mãos atrás das costas. As camisolas amarelas e verdes foram distribuídas previamente pelos jogadores para distinguir uma equipa da outra. Antes do treinador parar o exercício para fazer uma correção que ecoa em todo o Pavilhão do Centro de Estágios de Rio Maior e que se sobrepõe ao chiar das sapatilhas no chão de madeira, a cabeça do autor do erro já se inclina de encontro ao chão.
A sessão prossegue. Ao quarto dia de um estágio de um mês, treinam-se aspetos defensivos. Fora das quatro linhas, Travante Williams estica-se na marquesa como se estivesse na espreguiçadeira que o calor do verão apela que procure. No entanto, não era altura de férias, mas sim de trabalho para os 14 internacionais presentes. O jogador que alinhou no Sporting nas últimas quatro temporadas fica de fora dos exercícios de contacto devido a problemas físicos, limitando-se ao trabalho de lançamento. Importunado por uma mazela que vai necessitar de mais exames para se perceber a gravidade, Francisco Amarante, jogador que deixou o FC Porto no final da época, nem direito a tocar na bola tem. A dupla faz maioritariamente trabalho de coordenação e de força, mas pelo menos está junto da equipa.
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▲ Travante Williams e Francisco Amarante trabalharam à margem do grupo no terceiro dia do estágio da seleção nacional em Rio Maior
FERNANDO CORREIA
Do outro lado do oceano ficou Neemias Queta. O primeiro jogador português de sempre a jogar na NBA foi chamado por Mário Gomes, mas lesionou-se no pé direito na Summer League, competição associada à liga norte-americana que serve de antecâmara ao início da época nos Estados Unidos. O problema físico fez com que não viajasse para Portugal para se juntar à seleção que disputa a meio de agosto a possibilidade de estar nos Jogos Olímpicos num torneio com Bósnia, Hungria e Polónia, sendo que, antes disso, há jogos com Costa do Marfim, Chéquia e Jordânia a contar para o Torneio Internacional Coração de Viana e, de novo, com Jordânia, com México e com Angola para a King’s Cup.
Por agora, João Guerreiro foi chamado para ocupar a vaga do poste dos Sacramento Kings que ainda pode vir a estar disponível para o selecionador nacional. “Há a expectativa de que o Neemias possa vir, mas não há certezas. Ele quer estar cá. O Neemias não tem a situação contratual resolvida e, eventualmente, esta questão da lesão pode ter atrasado esse processo”, explicou Mário Gomes. “Não vai depender só da vontade dele. Assim que assinar contrato, vai depender também da vontade do clube pelo qual ele assine. Para já, contamos com os que estão cá. Se ele vier, a equipa melhora de certeza”.
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▲ Mário Gomes admitiu a possibilidade de Neemias Queta ainda vir a integrar o estágio da seleção nacional
FERNANDO CORREIA
Durante o treino, a intensidade leva a que Daniel Relvão coloque um tampão no nariz para estancar o sangue que lhe escapa e a que Ricardo Monteiro caia em cima de Diogo Araújo. “Só controlamos uma coisa que é a forma como nos preparamos e a equipa que somos em termos de coesão, de espírito e de raça”, analisou o selecionador nacional quanto à maneira como a equipa se está a trabalhar tendo em vista o Torneio de Qualificação Pré-Olímpico. “O estarmos juntos é sempre importante do ponto de vista relacional e da coesão de grupo, mas, no nosso caso, é mesmo necessidade de treinar, porque ninguém prepara convenientemente uma equipa em três, quatro dias como tem sido a nossa realidade nos últimos tempos”, continuou Mário Gomes, antevendo dificuldades num grupo em que todas as equipas estiveram no último Eurobasket.
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▲ Seleção nacional focou o trabalho em aspetos defensivos
FERNANDO CORREIA
“Não vamos estar a dizer que vamos conseguir chegar aos Jogos Olímpicos ou que vamos ganhar os jogos todos”, explicou o internacional português Rafael Lisboa. “Aquilo com que nos comprometemos foi em mostrar que Portugal pode competir contra seleções que estão, na teoria, acima de nós. Podemo-nos aproximar ao máximo para, aos poucos, sermos cada vez mais respeitados e valorizados”.
Ao longo deste estágio, é esperado que Miguel Queiroz some alguns jogos aos 97 que leva ao serviço de Portugal e atinja a centésima internacionalização. “A primeira vez que fui chamado à seleção de sub-15, recebi a convocatória por carta a dizer que estava convocado para o estágio e lembro-me da minha mãe vir a chorar e desde esse dia que é um orgulho muito grande para a minha mãe e para a minha família estar aqui. Vale mais que o mundo”. O extremo/poste português foi responsável pela defesa a Sasha Vezenkov, MVP da EuroLeague, no jogo em que a seleção nacional conseguiu, frente à Bulgária, manter vivas as esperanças de estar no Eurobasket 2025, superando a Pré-Qualificação. “Para mim, o Eurobasket sempre foi um sonho real. É uma coisa que nunca consegui e acho que merecia. Vamos conseguir”, augurou Miguel Queiroz