É mais um caso em que o transplante de medula óssea parece ter resultado numa remissão do VIH. Um homem, conhecido como o paciente de Genebra, não tem sinais de VIH cerca de 20 meses depois de ter interrompido a terapêutica antirretroviral e cinco anos após ter sido submetido a um transplante para curar uma leucemia, avança a EuroNews.

Em 2018, o paciente de Genebra recebeu um transplante de médula para combater uma forma de particularmente agressiva de leucemia. Em novembro de 2021, a equipa médica que o seguia pediu-lhe para interromper a terapia antirretroviral. Cerca de 20 meses depois, o VIH permanece indetável, ou seja, em remissão.

No entanto, este caso é diferente dos restantes cinco doentes que entraram em remissão depois de terem sido submetidos a um transplante. Isto porque o dador de medula do paciente de Genebra não era portador de uma mutação no gene CCR5, que, até agora, se considerava ser a chave para bloquear a entrada do VIH nas células.

Terceiro caso de paciente curado do VIH com transplante. Há quatro anos que não tem sinais do vírus

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O caso é surpreendente, até tendo em conta os casos de outros dois doentes, que receberam transplantes de medula sem o gene CCR5, em Boston, nos EUA, e que não conseguiram uma remissão duradoura. Nestes casos, os doentes pararam de tomar os medicamentos antirretovírus mas o HIV voltou após alguns meses. Algo que não se está a verificar no caso do paciente de Genebra.

Ainda assim, os cientistas não excluem a hipótese de o vírus persistir no organismo do paciente, tornado-se detetável no futuro. No entanto, e uma vez que passou mais de um ano desde a interrupção da terapêutica antirretroviral, pode considerar-se que existe uma remissão do VIH. Asier Saez-Cirion, cientista do Instituto Pasteur, disse, à AFP, que, após 12 meses, “a probabilidade de que [o vírus] seja indetetável no futuro aumenta significativamente”.

“Neste caso específico, talvez o transplante tenha permitido eliminar todas as células infetadas sem a necessidade da famosa mutação”, sugere. “Ou talvez o seu tratamento imunossupressor, necessário após o transplante, tenha desempenhado um papel”, explica a cientista.

O caso do paciente de Genebra é conhecido pouco antes do início da Conferência da Sociedade Internacional de SIDA, que começa no domingo em Brisbane, Austrália. Este homem tem sido acompanhado nos Hospitais Universitários de Genebra, em colaboração com o Institut Pasteur, o Institut Cochin e o consórcio internacional IciStem.

Apesar de o caso poder aumentar a esperança na remissão do VIH para muitos doentes, os especialistas mantêm alguma cautela, sempre necessária quando se fala de VIH — um vírus descoberto há 40 anos e que ainda hoje provoca uma infeção incurável. “Este indivíduo em particular terá de ser observado de perto nos próximos meses e anos”, alerta Sharon Lewin, presidente da Sociedade Internacional de AIDS.