A Caixa Geral de Depósitos anunciou um lucro semestral de 608 milhões de euros, o que compara com 486 milhões de euros apurados no primeiro semestre de 2022, um crescimento de 25%. Segundo Paulo Macedo, estes lucros permitem na prática anular os resultados negativos acumulados nos anos anteriores à recapitalização, entre 2011 e 2016.

O presidente da Caixa destacou também na apresentação feita esta sexta-feira os resultados de mais de 100 milhões de euros na área internacional — dos quais a maior fatia vem do Banco Nacional Ultramarino em Macau — e uma rentabilidade dos capitais próprios 7,7%.

Para o aumento dos lucros contribuiu um reforço da margem financeira com destaque para a performance da atividade doméstica, onde assume maior relevância o salto de 270 milhões de euros para 404 milhões de euros nas operações de retalho para particulares, uma subida de 200%. Já as comissões recuaram 15 milhões de euros para 289 milhões de euros. A impactar os resultados esteve também o reforço em 298 milhões de euros das provisões para a imparidade de crédito, o que é explicado como sendo uma abordagem preventiva.

Depósitos invertem tendência de queda em junho com corte nos certificados. Paulo Macedo diz que há uma “guerra de depósitos”

Os depósitos dos clientes estavam a cair 1% até maio, mas, no último mês do semestre, registou-se uma inversão de tendência com o crescimento de 0,6%. Esta inversão acontece depois do Governo ter cortado a remuneração dos certificados de aforro que estavam a desviar as poupanças dos bancos.

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Estado corta remuneração dos certificados de aforro, de 3,5% para 2,5%

O presidente da Caixa foi confrontado com os apelos do Governo e dos partidos para aumentar os juros dos depósitos. Na visão de Paulo Macedo, existe uma “guerra de juros nos depósitos pouco noticiada” e apresenta um slide com as subidas das remunerações dos últimos meses. As contas do primeiro semestre indiciam que houve uma inversão da tendência de queda de depósitos que coincide com o corte da remuneração dos certificados de aforro. Paulo Macedo garante que não ninguém falou com ele sobre o tema, nem intercedeu junto do Governo sobre essa matéria.

Os depósitos estiveram a cair até ao momento em que foram aumentados os juros — a Caixa está a oferecer 2,75%. Segundo Paulo Macedo, a Caixa e toda a banca se esforçou para dar taxas melhores, mas não quis estabelecer uma ligação direta entre a recuperação de depósitos e a redução da remuneração das taxas de juro, dizendo que “não sou adivinho”. E apresenta uma comparação do custo para o Estado dos certificados de aforro, face a outros títulos de dívida. O gestor assinalou que mais do que depósitos, o banco quer atrair todos recursos de clientes para os aplicar também em outros produtos, nomeadamente estruturados, defendendo a diversificação.

A Caixa mantém a liderança nos depósitos com uma quota de 23% que é mais expressiva nos particulares, atingindo os 31%. Já no crédito, a fatia de mercado é de 18%, num mercado que regista uma diminuição da procura. O stock de crédito concedido caiu 0,3% no segmento dos domésticos e cresceu 1,9% a empresas e setor público.

Caixa já está à procura de novas instalações e quer Lisboa

Em resposta aos jornalistas, Paulo Macedo confirma que a Caixa Geral de Depósitos está já à procura novas instalações porque trata-se de uma área com alguma dimensão — mais de 30 mil metros quadrados — e vai demorar o seu tempo, quer esteja construído, quer ser construída. O plano é ficar em Lisboa, a não ser que surja uma oportunidade mais atrativa. O banco já libertou cerca de 30 mil metros quadrados da sede na avenida de Berna que serão ocupados gradualmente pelo Governo. E quando for concretizada a transferência da propriedade, a Caixa vai pagar renda ao Estado. O banco só terá de mudar de sede daqui a três anos.

No primeiro semestre, o banco entregou ao Estado acionista 713 milhões de euros, que inclui um dividendo em espécie relativo à sede da Caixa Geral de Depósitos que vai receber os serviços do Governo. Este valor permite acelerar a devolução dos fundos públicos recebidos pelo Estado em 2017 que atingiu o nível de dois terços. A intenção da CGD é concluir a devolução da ajuda pública de 2,5 mil milhões de euros entre 2024 e 2025.

Só 1.024 clientes da Caixa pediram para reestruturar crédito

O presidente da Caixa foi ainda questionado sobre a renegociação dos créditos à habitação por causa da subida dos juros. Paulo Macedo desvalorizou a dimensão deste problema no universo de clientes do banco, indicando que das 93 mil pessoas que seriam elegíveis, de acordo com a legislação, apenas 1.024 clientes quiseram reestruturar o crédito à habitação. Por sua iniciativa, a Caixa reestruturou 16 mil contratos de crédito à habitação, o que corresponde à renegociação de menos de 25% das operações.

Paulo Macedo defendeu ainda que não há um problema transversal de crédito à habitação na sociedade portuguesa, há um problema que afeta uma franja de famílias — as de menor rendimento e que são 6% e um conjunto de pessoas da classe média e apresentou um documento com 15 fatores — como a redução do endividamento dos particulares, entre outros — que, do seu ponto de vista, reforçam a resiliência das famílias face à subida das taxas de juros. E referiu ainda que praticamente não existem casas executadas por causa da subida de juros. Destacou também que ao contrário das taxas de juro, os spreads cobrados pelos bancos têm vindo a baixar.

Ainda assim, o presidente da Caixa reconhece que “nem tudo são rosas”. Até agora, os casos têm sido resolvidos com os clientes e têm-se encontrado soluções para a generalidade dos clientes. “Mas se as taxas continuarem a subir e se mantiverem altas de forma prolongada haverá um agravamento das situações que agora foram acomodadas”. 

O “stress” da subida das prestações. Só quem aguenta juros de 7% consegue comprar casa

Sobre os obstáculos à concessão de novos créditos à habitação, por causa dos testes de stress que obrigam os bancos a simular uma subida dos juros de três pontos percentuais para avaliar a capacidade do cliente cumprir, Paulo Macedo defende que esse valor deve ser reduzido, num contexto de altas taxas de juro.

O aumento de 3% nas taxas de juro já se verificou, face ao valor em que estavam quando o Banco de Portugal fixou essa obrigação, o que faz com que só famílias que consigam aguentar taxas de 7% — considerando o spread. Paulo Macedo defende que esse valor deve baixar, mas não defende que deve ser abolido. O Banco de Portugal já sinalizou que ira rever esse limite, mas ainda não o fez.