A população da freguesia da Caranguejeira, no concelho de Leiria, passou por momentos de aflição ao final da tarde de desta segunda-feira, devido às chamas que rondaram diversas casas do Vale Sobreiro.

“Nunca pensei passar por uma situação destas. Agora entendo o desespero das pessoas quando o incêndio ronda as suas casas“, disse à Lusa Maria Silva, residente no Vale Sobreiro, relatando os momentos dramáticos por que passou ao fim do dia.

Maria Silva chegou a casa pelas 19h00 e começou a perceber que as chamas estavam a aproximar-se. Apesar de ter os terrenos à volta limpos, chegou a pensar que de nada valia. “Racionalmente, sabia que era uma proteção, mas quando se olha à volta e se veem as chamas na encosta a aproximarem-se…”, revela, com um olhar cansado, mas aliviado porque o fogo já passou e deixou tudo intacto.

As cinzas pairavam no ar e o fumo, aliado às fortes temperaturas, que se registaram durante a tarde, tornavam o ar irrespirável. Nas ruas, os bombeiros tentavam acudir a todas casas e os moradores entreajudavam-se.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

De camisola na cara para se protegerem do fumo e de ramos ou mangueiras nas mãos, os populares ajudaram os bombeiros como podiam.

Maria Silva contou que preparou várias mangueiras à volta da casa e o marido estava atento às projeções. “Sempre que alguma fagulha caía, ele ia a correr apagar. Não molhámos a casa, porque a água ia evaporar. Preferimos poupar água para o caso de ser precisa”, refere.

Admite que os bombeiros “tinham a situação junto às casas controlada”, mas confessa que a sensação era de “estar cercada pelo fogo”.

“Foi uma hora de sufoco. É uma sensação horrível, parece mesmo que o fogo vai chegar a casa”, desabafa, agora mais tranquila.

O incêndio que deflagrou na Caranguejeira, em Leiria, pelas 13h48, chegou a tocar o concelho vizinho de Ourém, na localidade de Lavradio.

O comandante de serviço à sala do Comando Sub-regional de Emergência e Proteção Civil do Médio Tejo, Jorge Gama, revelou à Lusa que houve necessidade de deslocar cinco pessoas das suas casas para o Centro Social das Matas, por uma questão de precaução.

Várias corporações de diferentes pontos do país estiveram envolvidas no combate às chamas e proteção das habitações, indústria e comércio.

Na localidade de Soalheira, duas corporações desentenderam-se. Segundo contaram bombeiros à Lusa, um grupo que estava a combater as chamas ficou sem água e pediu ajuda a uma corporação de outro ponto do país, que lhe negou água. A revolta entre os bombeiros foi grande.

Segundo o presidente da Câmara de Leiria, Gonçalo Lopes, alguns bombeiros sofreram problemas com inalação de fumos, mas “situações ligeiras”.

“Temos a situação de um barraco na floresta que ardeu. É a única ocorrência. temos algumas estruturas abandonadas, um ou outro palheiro, mas nada de relevante. A parte mais importante do dia é que nem casas nem indústrias nem comércio arderam”, referiu.

A situação em Leiria está mais calma, mas o fogo ainda não está debelado.

Pelas 22h50, a página de internet da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil indicava que continuava ativo o incêndio que eclodiu em Lagoa da Pedra. Estavam no local 271 operacionais e 78 viaturas.

À mesma hora, fonte da GNR confirmava à Lusa que a Estrada Nacional 113, que liga Leiria a Ourém, continuava encerrada ao trânsito.