Os ânimos já não estavam propriamente calmos. A ficha de mais de uma dezena de amarelos não funcionava como espelho de um jogo que até aos últimos minutos não teve tantas picardias quanto isso mas a agressão de Pepe a Jurásek aos 89′ foi como um gatilho para as manifestações de desagrado do FC Porto, que quase de seguida teve um golo de Galeno anulado pelo VAR por mão no início da jogada de Gonçalo Borges. No sexto minuto de descontos, na sequência de uma falta de Otávio sobre Ángel Di María, Sérgio Conceição exagerou nos protestos e viu também vermelho direto como o capitão de equipa. Começaram aí quatro minutos e 18 segundos que tão cedo não serão esquecidos – com mais oito segundos de prolongamento no fim.

O canto Angélico da sereia só esperava uma Musa (a crónica da final da Supertaça entre Benfica e FC Porto)

Após a infração assinalada ao internacional português, o técnico dos azuis e brancos esbracejou com visíveis impropérios à mistura de “Vai para o car****, vai-te f****” pelo meio. Luís Godinho, de frente e próximo do banco do FC Porto, deu ordem de expulsão a Sérgio Conceição (que depois ficou a sorrir de forma irónica e lançou mais um “Vai para o car****”) e seguiu para tentar retomar o encontro. O que não estava à espera era do que se iria seguir, a começar com uma conversa do quarto árbitro do jogo, Fábio Veríssimo, que quando tentou tirar o treinador portista da sua zona técnica ouviu um “Daqui não saio”. E não saiu mesmo.

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Todos ficaram à espera do que poderia acontecer, Rafa chegou a aproximar-se do técnico a perguntar o que se passava sem que algo mudasse (Luisão aproximou-se então dessa zona para retirar dessa zona o jogador dos encarnados) e Luís Godinho foi falar com o capitão dos azuis e brancos, Iván Marcano, a explicar que o encontro não seria retomado enquanto o treinador ali estivesse. O central espanhol estava quase a funcionar como um pombo-correio entre os dois intérpretes, sendo que o árbitro principal lá acabou por aproximar-se de Sérgio Conceição para uma conversa de cerca de 30 segundos a explicar o porquê da expulsão. Só mesmo aos 10.32 minutos de descontos o técnico saiu, sendo que ainda haveria mais um capítulo na “novela”.

À saída para os balneários, o treinador esteve sempre de olhar fixo em direção a uma parte da bancada com adeptos encarnados que iam fazendo a festa, batendo várias vezes na zona do peito onde estava o símbolo do FC Porto na camisola antes de soltar mais algumas palavras neste caso não percetíveis. Já antes, Pepe, que foi expulso com vermelho direto após dar uma joelhada por trás a Jurásek num lance em que a bola iria sempre sair pela lateral, tinha tirado a camisola a caminho da linha lateral para exibir aos rivais.

Mais tarde, após o apito final, os jogadores e treinadores portistas que não Sérgio Conceição e Pepe foram receber as suas medalhas de finalistas vencidos, ficaram no relvado enquanto os elementos encarnados foram ao palco receber também as medalhas de vencedores e seguiram de seguida para o balneário após saudarem os seus adeptos, sendo que nenhum responsável dos azuis e brancos falou à comunicação social.

“O espetáculo dado por Luís Godinho, que fez sempre por ser uma das estrelas da noite, não terminaria sem expulsar Sérgio Conceição, mas antes já tinha feito o mesmo com Pepe. Com o árbitro de Évora a apitar, é praticamente impossível o FC Porto acabar um jogo com toda a gente em campo. Há coisas que nunca vão mudar. A João Neves, por exemplo, foi poupado o segundo cartão amarelo por mais do que uma vez. Mais do mesmo, portanto”, escreveu o FC Porto no resumo do que se passou na final da Supertaça.

Curiosamente, no ano de 2016, Roger Schmidt tinha estado envolvido numa situação semelhante num jogo da Bundesliga quando era treinador do Bayer Leverkusen. Na sequência de um golo de Aubameyang que colocou o B. Dortmund em vantagem aos 67′, muito contestado pela equipa da casa por uma falta no início da jogada que originou o 1-0, o agora treinador do Benfica recusou sair de campo após ser expulso e o árbitro Felix Zwayer rumou aos balneários “ameaçando” terminar mais cedo com o jogo. Nove minutos depois, as equipas que entretanto tinham saído também voltaram sem Schmidt, que foi depois sancionado com três encontros de suspensão mais dois com pena suspensa que nunca chegaram a passar a efetivos.