O candidato a Presidente do Equador Fernando Villavicencio, de 59 anos, foi assassinado esta quarta-feira, baleado por desconhecidos ao sair de um comício de campanha numa área central da capital, Quito. A polícia avançou entretanto que o suspeito do crime, que acabou por morrer às mãos da segurança do político, é colombiano, noticia a agência Reuters.

O ministro do Interior, Juan Zapata, já tinha garantido ao jornal equatoriano El Comercio que o ataque fora realizado por assassinos contratados que também feriram outras pessoas.

Durante a manhã desta quinta-feira, o Presidente anunciou que estava decretado o estado de emergência por dois meses no país, ao mesmo tempo que instaurava três dias de luto nacional, informa a EFE, agência de notícias espanhola.

“Este é um crime político, com caraterísticas de terrorismo e não temos dúvidas de que este assassinato é uma tentativa de sabotagem do processo eleitoral”, disse Guillermo Lasso.  Já antes, durante a madrugada, o Chefe de Estado se tinha manifestado indignado e consternado, na rede social X (antigo Twitter) ao mesmo tempo que prometia que este crime não ia ficar impune.

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Los Lobos, o segundo maior gang do Equador com cerca de 8 mil elementos, reivindicou o assassinato e veio mais tarde desmenti-lo, pondo a circular dois vídeos contraditórios. No primeiro vídeo, que se tornou rapidamente viral, supostos membros do grupo apareciam encapuzados e armados. Um dos elementos afirmou que eram eles os responsáveis pela morte de Villavicencio.

“Nós, a organização Los Lobos, assumimos a responsabilidade dos factos ocorridos na tarde de hoje, que se voltarão a repetir quando os corruptos não cumprirem”, ouve-se o homem a dizer.

Mais tarde, surgiu um segundo vídeo onde um grupo de homens vestidos de branco e com as caras descobertas afirmavam ser os verdadeiros Los Lobos, garantindo que os membros do grupo nunca assassinaram funcionários do governo.

Não se deixem enganar. Somos o grupo de crime organizado Los Lobos. Não tapamos a cara, ninguém fala por nós e cumprimos a paz. Esclarecemos e repudiamos o assassinato do candidato presidencial, o senhor Fernando Villavicencio. E deixamos claro que nunca assassinamos pessoas do governo ou civis.

O ataque ocorreu ao final da tarde, no exterior de um coliseu onde Villavicencio, uma das vozes que se insurgia contra a corrupção e o crime organizado, reunira com apoiantes no âmbito da campanha eleitoral para as eleições de 20 de agosto. À saída, quando se dirigia para o carro, foi morto com três tiros na cabeça, avança a imprensa local.

Villavicencio, identificado como um crítico do ex-Presidente Rafael Correa (2007-2017) — era um dos poucos candidatos que estabelecia ligações entre os gangues e membros do governo — deslocava-se com proteção policial face às ameaças que recebera semanas antes do maior grupo do crime organizado, o Los Choneros.

Uns dias antes de ser baleado, tinha desafiado os que o ameaçavam, dirigindo-se aos seus apoiantes: “Que venham os sicários, aqui estou. Disseram-me para usar o colete. O meu colete à prova de bala é o meu povo, aqueles que cuidam de mim. Sou corajoso como vocês”, disse num comício como se pode ver num vídeo publicado nas suas redes sociais, como o TikTok.

@jorgexvz32

Me dijeron que me ponga chaleco, aqui estoy con camisa sudada, vengan por mi, mi pueblo es mi chaleco c@raj0 #DonVillaPresidente #VotaLista25 #fvpシ♡ #CapCut #LeyDeExtinsiónDeDominio #EsTiempoDeValientes #MeLaJuegoPorMoronaSantiago #Libertad

♬ sonido original – Jorge Villazhañay

O homicídio de Villavicencio ocorre numa altura em que o país está a sofrer uma escalada de violência devido às ações do crime organizado.

Todos os dias há múltiplas notícias de homicídios, extorsões, ataques com explosivos, entre outros crimes, que têm semeado o terror entre os equatorianos há mais de dois anos.

O Equador fechou 2022 com a maior taxa de mortes violentas da história, registando 25,32 por 100.000 habitantes, a grande maioria associada, segundo o Governo, ao crime organizado e ao tráfico de droga, que ganhou força na costa e transformou os portos em pontos de saída para a cocaína que chega à Europa e à América do Norte.

A luta contra a criminalidade é uma das principais promessas dos candidatos que aspiram a suceder ao conservador Guillermo Lasso como Presidente nas eleições gerais extraordinárias marcadas para domingo.

Para além de Villavicencio, são candidatos às eleições presidenciais o ambientalista Yaku Pérez, a antiga deputada Luisa González, o especialista em segurança Jan Topic, o ex-vice-Presidente Otto Sonnenholzner, o político Daniel Hervas, o empresário Daniel Noboa e o independente Bolívar Armijos.