A Arménia e o Azerbaijão trocaram acusações na quarta-feira, numa reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, sobre a situação humanitária de Nagorno-Karabakh, enclave arménio bloqueado pelo Azerbaijão há oito meses.

A reunião foi agendada a pedido da Arménia, que alertou para uma “grave escassez” de alimentos, medicamentos e combustível em Nagorno-Karabakh, região com cerca de 120 mil pessoas, a maioria dos quais arménios.

O corredor de Latine, a única ligação terrestre entre a Arménia e o enclave, está bloqueado desde dezembro, primeiro por alegados manifestantes ambientalistas azeris e depois pelas autoridades do Azerbaijão, que justificaram a decisão com razões de segurança.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Arménia disse na reunião que milhares de pessoas estão desempregadas em Nagorno-Karabakh, cujos habitantes têm de esperar em longas filas para comprar comida.

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Ararat Mirzoyan acusou ainda o Azerbaijão de interromper, desde 9 de janeiro, o fornecimento de eletricidade através da única linha de alta tensão entre a Arménia e Nagorno-Karabakh.

O ministro citou um relatório do antigo procurador-geral do Tribunal Penal Internacional, Luis Moreno Ocampo, segundo o qual “há uma base razoável para acreditar que está a ser cometido um genocídio”.

“A fome é a arma invisível do genocídio”, disse Mirzoyan, alertando que, “sem uma mudança dramática imediata, este grupo de arménios será destruído em algumas semanas”.

O embaixador do Azerbaijão na ONU respondeu “rejeitando categoricamente todas as alegações infundadas sobre [um] bloqueio ou crise humanitária propagadas pela Arménia”.

Yashar Aliyev disse que o Azerbaijão instalou um posto de fronteira no corredor de Latine, para impedir que a Arménia use a rota “para atividades militares ilegais e outras”, incluindo a rotação de seus dez mil militares “colocados ilegalmente” em Nagorno-Karabakh.

Em resposta ao relatório de Ocampo, o embaixador citou um outro relatório de um advogado britânico dedicado à defesa dos direitos humanos, Rodney Dixon, que sublinha a oferta do Azerbaijão de fornecer mercadorias ao enclave através da cidade de Aghdam.

Aliyev e Mirzoyan trocaram acusações pelo fracasso dos esforços diplomáticos para a reabertura do corredor de Latine.

A maioria dos países-membros do Conselho de Segurança instaram o Azerbaijão a reabrir imediatamente o corredor e todas as 15 nações apelaram aos dois países para encontrarem uma solução diplomática para o conflito.

Os dois países do Cáucaso disputam Nagorno-Karabakh desde o final dos anos 80, tendo já havido duas guerras, a última das quais, em 2020, que terminou com a derrota das forças arménias e importantes ganhos territoriais para o Azerbaijão.