No início do ano, Pascale Cecile Ferrier confessou ter enviado cartas envenenadas a Donald Trump quando este era ainda Presidente dos EUA, em 2020. Esta quinta-feira, foi condenada a quase 22 anos de prisão e, em tribunal, não terá mostrado sinais de arrependimento.

Segundo a CNN Internacional, que cita um acordo federal firmado no início do ano, Ferrier, de 56 anos, com dupla nacionalidade canadiana e francesa, produziu ricina em casa, no Quebec, Canadá, que depois espalhou sobre cartas endereçadas a Donald Trump e a oito membros das forças de segurança do Texas que a mulher acreditava terem estado ligados a uma outra condenação de que foi alvo, em 2019. A ricina é uma substância tóxica que, se ingerida, inalada ou injetada pode causar náuseas, vómitos ou hemorragias internas e, no limite, falência de órgãos.

Pascale Ferrier, que, segundo a estação norte-americana, não terá expressado arrependimento, leu uma declaração em tribunal em que se apresentava como uma “pessoa pacífica”. “Considero-me uma ativista, não uma terrorista”, disse mesmo.

Mulher confessa ter tentado envenenar Donald Trump com rícino em 2020

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A NBC News acrescenta que a mulher afirmou que não usou uma “concentração nociva”. “Era apenas um aviso forte. Não tinha como alvo pessoas inocentes. Nunca foi minha intenção fazer mal a pessoas inocentes e, de facto, não fiz mal a ninguém”, declarou. Mas acrescentou: o único arrependimento que tem é o facto de o magnata não ter dado ouvidos ao seu aviso e de ela própria “não ter conseguido impedir Trump antes de ele pôr em prática os seus planos para tentar manter-se no poder”.

A intenção de Ferrier era que o então Presidente dos EUA não tentasse uma recandidatura. Na carta endereçada a Donald Trump, Ferrier apelidava o republicano como um “palhaço tirano feio” e escrevia: “Está a arruinar os EUA e a conduzir o país ao desastre. Tenho primos americanos, por isso, não quero passar os próximos quatro anos consigo como Presidente. Desista e retire a sua candidatura a esta eleição”. As eleições aconteceram no final de 2020, dando a vitória a Joe Biden, que assumiu funções a 20 de janeiro de 2021.

Nas cartas, Ferrier terá, ainda, aludido a um “presente especial” e prometia voltar a tentar outro plano caso aquele não funcionasse. “Se não funcionar, vou encontrar uma receita melhor para outro veneno”, terá escrito. Em várias cartas, terá mesmo admitido usar uma arma.

O Ministério Público acusava a mulher de levar a cabo um plano que constitui um “crime federal de terrorismo”. “Não há lugar para a violência com motivações políticas nos EUA”, afirmou o procurador-adjunto, Michael Friedman, em tribunal. O juiz que condenou Ferrier acredita que as cartas poderiam ter matado os visados.

O resultado foi uma condenação a 262 meses de prisão, ou seja, quase 22 anos. A Pascale Ferrier — que em janeiro se declarou culpada de violar as leis federais que proíbem o uso de armas biológicas, como parte de um acordo para a redução da pena — foi imposta, também, uma pena vitalícia de liberdade vigiada (diferente da liberdade condicional, que pressupõe a libertação antes do fim da pena). Depois de cumprida a pena, a mulher será deportada.

Ferrier já tinha estado detida durante algumas semanas no Texas, em 2019. Depois de enviar as cartas, acabou por ser detida quando tentava passar a fronteira para os EUA com uma arma carregada, entre outras armas, munições e um passaporte falso.