Em condições normais, a mítica subida à Senhora da Graça, com as passagens pela Serra do Marão e pelo Barreiro que faziam a primeira seleção antes dos mais de oito quilómetros com uma pendente média acima dos 7%, chegaria para fazer uma espécie de festa antecipada da Glassdrive. No entanto, a subida à Serra do Larouco e um suíço que apareceu fora de contas deixaram tudo em aberto para a etapa rainha da Volta a Portugal, que chegava com um líder surpresa e os sete primeiros corredores da classificação geral separados por diferenças inferiores a um minuto e meio. Melhor para o espectáculo era complicado.

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Rebobinemos o filme. A estratégia da Glassdrive sofreu um primeiro (duro) contratempo ainda na primeira parte da corrida, quando o uruguaio Maurício Moreira, campeão em título, passou mal na Torre e afundou-se na classificação geral. Ainda assim, sobravam Francisco Figueiredo e, sobretudo, Artem Nych. Após ganhar a camisola amarela na Guarda, o russo era aposta na Serra do Larouco mas a estratégia da equipa vencedora de 2022 acabou por correr da pior maneira, permitindo que o “desconhecido” suíço Colin Stüssi, da Voralberg, ficasse não só com a etapa mas também com a liderança, algo que admitia não estar à espera.

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“Estou nas nuvens, é uma semana fantástica porque consigo ganhar uma etapa e fico com a amarela. Ainda preciso de mais uns minutos para cair em mim pelo que fiz… Quando vim para a Volta e quando apontavam a um top 10, eu aceitava e assinava de cruz se soubesse que podia acontecer. Por isso é que até estou um pouco surpreendido comigo mesmo. Agora é até ao fim para aguentar a amarela”, comentara após a sétima etapa. “A equipa tem trabalhado no duro por mim e fico contente por ter segurado a liderança. Vamos ver o que acontece agora na Senhora da Graça. Há o número 2 da Glassdrive [Frederico Figueiredo], o 43, o 44 e o 46 da Euskatel [Txomin Juaristi, Mikel Iturria e Luís Ángel Mate], o 161 de outra equipa [Jesus del Pino, do Louletano], o 91 e outro da Efapel [Henrique Casimiro]. A lista é longa mas fico pelos melhores. Não os conheço pelos nomes, só pelos números. Será duro para todos”, frisara esta sexta-feira.

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Ainda havia mais nomes (ou números) a ter em conta, como Artem Nych ou António Carvalho do Feirense, mas percebia-se entre o estilo simpático e descontraído de Stüssi que haveria uma luta aberta pela camisola amarela antes do contrarrelógio de 18,2 quilómetros em Viana do Castelo que encerraria esta Volta. Também por isso, era de esperar que as movimentações começassem cedo e com várias equipas na frente, tendo em conta também a luta pelas camisolas da montanha e dos pontos, que terão a consagração em Viana do Castelo por parte do português César Fonte (Boavista) e do checo Daniel Babor (Caja Rural), respetivamente.

Com o grupo durante muito tempo partido com uma diferença entre 2.30 e três minutos entre cerca de 30 corredores que seguiam na frente sem impacto na classificação geral e o pelotão onde seguia o líder, só na segunda subida houve movimentações mais visíveis, numa fase em que Artem Nych teve dificuldades em responder a um ataque de Henrique Casimiro que levou Francisco Figueiredo e Stüssi na roda. Também os dois principais elementos da Euskatel-Euskadi descolaram mas Txomin Juaristi conseguiu recuperar. Só mesmo nos últimos sete quilómetros a corrida voltou a mexer a sério em relação aos homens da frente na geral, neste caso com um ataque de António Carvalho a abrir um final onde tudo estava ainda em aberto.

Stüssi, Cardoso, Figueiredo e Casimiro iriam conseguir isolar-se num grupo intermédio a cinco quilómetros da chegada à Senhora da Graça que tinha 20 segundos de avanço sobre os perseguidores, enquanto lá na frente era James Whelan, da Glassdrive, que  procurava segurar a vitória na etapa. E seria o pequeno grupo onde estava Artem Nych ainda a recuperar sem conseguir “colar” de novo na roda do camisola amarela no derradeiro quilómetro mesmo depois de Frederico Figueiredo ter descaído para ajudar o russo.

O australiano da Galassdrive ganharia mesmo a nona etapa com 4.32.46, menos 34 segundos do que Délio Fernández e menos 36 do que Hélder Godinho. Ivo Pinheiro (48”), Jaume Guardeño (1.24), Luís Fernandes (1.34), Colin Stüssi (1.38), Henrique Casimiro (1.38), António Carvalho (1.38) e Mikel Mujika (1.57) fecharam o top 10 da tirada. Em termos de geral, aí, tudo ficou mais ao jeito do suíço: Henrique Casimiro subiu ao segundo lugar com 45 segundos de diferença, Artem Nych desceu para terceiro a 1.00 e António Carvalho é o quarto a 1.06. Seguem-se Luís Ángel Mate (1.15), Txomin Juriasti (1.30), Frederico Figueiredo (2.01), James Whelan (2.58), Jesus del Pino (4.04) e Hélder Gonçalves (5.07) na classificação geral.