Se a notícia da lesão de Patrícia Mamona já tinha sido um balde de água fria nas potenciais aspirações de Portugal no Campeonato do Mundo de atletismo, a antecâmara da edição de 2023 em Budapeste trouxe um revés ainda maior com o anúncio da ausência daquela que é a maior estrela nacional da atualidade: Pedro Pablo Pichardo, que já tinha falhado algumas provas internas por questões físicas, ressentiu-se da lombalgia na viagem feita para a Hungria e acabou por ser considerado inapto pelo departamento médico da Seleção. Chegava ao fim uma espécie de dinastia no triplo salto masculino, sobrava apenas Tiago Pereira.

Um campeão olímpico, mundial e europeu de fora: Pichardo falha Mundiais de Budapeste por lesão

Depois de feito a estreia por Portugal exatamente nos Mundiais mas de 2019, onde ficou a apenas quatro centímetros das medalhas, Pedro Pablo Pichardo ganhou tudo o que havia para ganhar depois da pandemia a partir de 2021: foi campeão europeu de Pista Coberta em Torun, na Polónia; tornou-se o quinto campeão olímpico nacional batendo o recorde de Portugal em Tóquio, no Japão, com a marca de 17,98; foi vice-campeão mundial de Pista Coberta em Belgrado, na Sérvia, perdendo apenas para o cubano Lázaro Martínez; sagrou-se campeão mundial ao Ar Livre em Oregon, nos EUA, com a marca de 17,95; ganhou o título europeu ao Ar Livre em Munique, na Alemanha; e, já este ano, revalidou o título europeu de Pista Coberta em Istambul, na Turquia, com 17,60, estabelecendo ainda uma nova melhor marca nacional.

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Dez anos depois, Nelson deu mais um salto. E este ficou ainda mais na história

Em paralelo, havia já uma história forte de Portugal na disciplina desde 2007 nos Mundiais, altura em que Nelson Évora ganhou a medalha de ouro em Osaka antes da grande conquista da carreira com a vitória olímpica em Pequim no ano seguinte. A partir daí, a presença de um atleta nacional na final tornou-se quase uma regra, assim a condição física permitisse: Évora foi prata em Berlim-2009, acabou em quinto em Daegu-2011, falhou por lesão Moscovo-2013, foi bronze em Pequim-2015 (atrás de Christian Taylor e Pedro Pablo Pichardo, então a saltar por Cuba) e foi bronze em Londres-2017 antes de Pichardo terminar em quarto em Doha-2019 e ganhar a medalha de ouro em Oregon-2022. Agora era a vez de Tiago Pereira.

A melhor marca do ano a abrir, a festa a fechar: Pedro Pablo Pichardo sagra-se campeão mundial do triplo salto

Entre uma listagem oficial de saída que apresentava ainda 37 atletas a contar com Pichardo na qualificação (o saltador regressou ao país após desistir da prova), o atleta de 29 anos surgia no grupo B de apuramento e com uma posição do ranking mundial (28.º) que entroncava naquilo que era a concorrência, tendo em conta que se apresentava em Budapeste com uma das piores marcas da temporada (16,51) e com um dos recordes pessoais no triplo mais modestos (17,11). No entanto, havia uma esperança de redenção naquilo que tem sido a temporada até ao momento depois do quarto lugar perto das medalhas na decisão do triplo dos Campeonatos da Europa de Pista Coberta, como acontecera no ano passado em Oregon onde foi à final (11.º).

Fechou um ciclo de ouro, começou um novo ciclo com ouro: Pichardo revalida título de campeão europeu de Pista Coberta

Tudo acabou por correr da melhor forma depois de um mau início. Apesar de ter sido uma qualificação com marcas muito modestas para aquilo que se espera de um Mundial, Tiago Pereira teve os dois primeiros saltos nulos e acabou por ficar sob pressão na terceira tentativa, altura em que fez o 16,77 que lhe conferiu a melhor marca pessoal do ano e conduziu até ao sexto lugar do grupo B de qualificação, nono no geral. Com isso, Portugal garantiu que tem pelo menos um representante na decisão do triplo salto masculino dos Mundiais pela oitava edição consecutiva (2013 foi a única exceção mas pela ausência por lesão de Évora).

O jamaicano Jaidon Hibbert, um dos grandes favoritos a suceder a Pedro Pablo Pichardo como campeão mundial, foi o único a conseguir marca de qualificação direta com 17,70. Estão também na decisão da próxima segunda-feira Yaming Zhu (China, 17,14), Lázaro Martínez (Cuba, 17,12), Hugues Fabrice Zango (Burquina Faso, 17,12), Cristian Nápoles (Cuba, 16,95), Yasser Mohammed Triki (Argélia, 16,95), Emmanuel Ihemeje (Itália, 16,91), Yaoqing Fang (China, 16,83), Will Claye (EUA, 16,72), Leodan Torrealba (Venezuela, 16,72) e Chris Benard (EUA, 16,71). Jean-Marc Pontvianne, Max Hess ou Almir dos Santos ficaram de fora.