O ciclismo por si só é um exercício de autodestruição com diferentes formas de colocar em causa os limites do corpo humano. Na etapa oito da Vuelta, a resistência do pelotão era questionada por cinco exigentes contagens de montanha. Nenhuma delas era extremamente longa, mas, no final, o desgaste acumulado depois de tantos quilómetros a subir ia-se fazer sentir.

A estratégia para os favoritos à vitória na classificação geral, liderada por Lenny Martinez (Groupama-FDJ) à entrada para a corrida, era crucial. As dúvidas oscilavam entre se alguém tinha pensado nesta etapa para realizar um ataque ou se toda a gente ia deixar que a estrada se encarregasse de marcar diferenças. Até aqui, mesmo existindo oportunidades para isso, ninguém tinha arriscado um ataque veemente. Exceção feita a Primoz Roglic (Jumbo-Visma) protagonista de uma ofensiva que, não sendo estrondosa, causou estragos na chegada a Javalambre.

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Ainda assim, reuniam-se as condições perfeitas para alguém ser audaz. No dia anterior, a chegada foi ao sprint pelo que o desgaste não foi excessivo. Depois, porque no domingo a exigência também não ia ser a mais elevada. Sim, é verdade que a Vuelta ainda vai contar com cinco subidas de categoria especial, mas o dia de descanso na segunda-feira ia ajudar a recuperar energias que fossem, eventualmente, gastas neste sábado na ligação entre Dénia e Xorret de Catí. Costa Blanca Interior (164,8 km).

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Thymen Arensman (Ineos Grenadiers), vítima de uma queda no final da etapa sete, foi forçado a abandonar a Vuelta devido a um traumatismo cranio-facial e a uma rutura da clavícula pelo que já não começou a corrida. Quem esteve envolvido num incidente que marcou o início do percurso foi João Almeida (UAE Team Emirates) – uma queda que podia ter prejudicado a plenitude da condição física do ciclista.

Em simultâneo, também havia boas notícias para as cores nacionais. Rui Costa (Intermarché-Circus-Wanty) e Nelson Oliveira (Movistar) integraram a fuga. No caso de Nelson Oliveira, a missão era ajudar Oier Lazkano. Para Rui Costa era mais uma demonstração de que veio para a Vuelta para ganhar uma etapa. Uma vez que o grupo onde seguia era demasiado grande, Thomas De Gendt (Lotto Dstny) tentou seguir a solo e acabou por conseguir reduzir o número de elementos. Rui Costa perseguia

No pelotão, a Groupama-FDJ mostrava que vinha para defender a camisola vermelha. Apesar de tudo, era Robert Gesink (Jumbo-Visma) quem mais tempo passou a marcar o ritmo, salvaguardando o restantes elementos da equipa para o auxílio aos líderes, Roglic e Vingegaard, na ponta final. Apesar de ter apenas quatro quilómetros, a subida de primeira categoria a Xorret de Catí chegava a ter 22% de inclinação. Antes dos ciclistas cruzarem a meta havia ainda uma pequena descida que podia servir para minimizar estragos.

Restavam quatro ciclistas na frente. Juntaram-se ao português Oier Lazkano, Damiano Caruso (Bahrain Victorious) e Andreas Kron (Lotto Dstny). A não colaboração significaria que o pelotão, que seguia a 3 minutos, podia engolir o quarteto, o que aconteceu a sensivelmente seis quilómetros do final. Como era de esperar, tudo se ia decidir a partir daí. Geraint Thomas (Ineos Grenadiers), muito condicionado por problemas físicos, cedeu cedo. Lenny Martinez, camisola vermelha, mostrou que ainda não faz parte da raia graúda.

A Soudal Quick-Step de Remco Evenepoel, que passou por um problema mecânico, deu início à luta. João Almeida manteve-se entre os melhores mesmo tendo descaído por instantes. Sepp Kuss lançou-se para a vitória a cinco quilómetros do fim. Ninguém respondeu, mas o norte-americano acabou por ser apanhado. Evenepoel, que liderou o grupo, Almeida, Roglic, Vingegaard, Ayuso e Mas eram os homens da geral que andavam por ali. Nenhum ciclista, exceto de Kuss, atacou na subida, limitando-se toda a gente a responder ao ritmo de Evenepoel.

Iniciou-se a descida e a vitória na etapa ia ser decidida ao sprint. Um trio candidatou-se ao sucesso, sendo Roglic o mais rápido perante Evenepoel e Ayuso. O esloveno garantiu dez segundos de bonificação e venceu a corrida. João Almeida, tal como Vingegaard e Mas, perdeu dois segundos, o que o impede de entrar no top 10. Sepp Kuss, apesar de tudo, foi quem garantiu a camisola vermelha.