Na turística praça Jamma El-Fna, em Marraquexe, a vida decorria este domingo de manhã com tranquilidade, como “um domingo normal”, apesar dos destroços de fachadas destruídas pelo sismo da noite de sexta-feira.

Comerciantes espalhavam-se pela praça, na medina da cidade, vendendo artesanato, roupas e frascos de óleo de argão, enquanto outros procuravam chamar turistas para pintar a pele com ‘henna’.

Um dos pontos de atração era o minarete da mesquita Kharbouch, parcialmente destruído pelo abalo, e cujos destroços estavam a ser retirados por uma retroescavadora.

As bandeiras espalhadas pela cidade, este domingo colocadas a meia haste, traduzem o luto nacional de três dias decretado pelas autoridades marroquinas na sequência do abalo, de magnitude 7,0 na escala de Richter, segundo o Instituto Nacional de Geofísica de Marrocos — ou de 6,8, de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) — e que causou 2.012 mortos e 2.059 feridos, dos quais 1.404 em estado grave.

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A grande maioria das vítimas mortais foi registada nas zonas montanhosas a sul de Marraquexe.

“Aqui está tranquilo, é um domingo normal. ‘Hamdelilah’ [graças a Deus]”, disse Said, um comerciante numa das ruelas próximas da praça, relatando que “nas montanhas é que foi pior, as casas caíram”.

Um pouco mais à frente, um monte de cacos à porta da pequena drogaria de Mohammed evidencia os estragos, mas o lojista também garante que “está tudo calmo”.

À porta da sua loja de cerâmicas, Aziz aponta para a rua e lamenta: “Aqui está tudo partido. O prejuízo foi grande”.

Na Medina, património mundial da UNESCO, vários edifícios exibem as marcas da violência do sismo: estruturas derrocadas, prédios com buracos de metros ao nível de um segundo andar, fachadas com fendas, a ameaçar ruir. Nalgumas ruas, os detritos acumulam-se e obrigam os motoqueiros a descer das motos e fazer o percurso a pé.

Parte da muralha que circunda a Medina de Marraquexe ruiu e, este domingo de manhã, operários retiravam os escombros com retroescavadoras e camiões.

Na praça Ben Youssef, a Cuba Almorávida, uma cúpula construída em 1064, resistiu, mostrava, orgulhoso, um vendedor de especiarias.

Quem presenciou o abalo, que ocorreu às 23h11 (a mesma hora em Lisboa) de sexta-feira, recorda o ruído forte e a sensação de pânico.

Almudena Prieto, uma espanhola de Valladolid que vive há sete anos na cidade, contou que “o abalo foi muito forte e havia muito barulho, principalmente muito barulho”.

“As coisas começaram todas a cair das prateleiras. Entrei em pânico e pus-me debaixo da ombreira da porta, abraçada a uma amiga, a chorar. Depois, vieram uns vizinhos e disseram que era melhor sairmos para a rua. Dormimos na rua e não voltámos a casa antes das três da manhã do dia seguinte”, descreveu.

A acompanhá-la estavam quatro turistas espanhóis, que acabaram de chegar à cidade, depois de Almudena lhes garantir que o pior já passou.

A brasileira Fernanda e dois amigos estavam há pouco em Marraquexe quando o sismo ocorreu.

“Estávamos no ‘Riad’ [pequeno hotel] e demorámos a entender o que estava acontecendo, ficámos sem saber como reagir. A primeira sensação foi de surpresa, depois ficámos nervosos quando passou“, relatou a turista do Rio de Janeiro.

Depois do susto, regressaram aos quartos e, desde então, sentem-se “bastante seguros e tranquilos”.

“Estamos vivos. Os estragos não interessam”, disse Mohammed, dono de uma loja de artesanato e cerâmicas de três andares, mostrando fotos e vídeos de vasos e espelhos partidos. “Caiu tudo”.

O prejuízo, afirmou, é impossível de calcular, porque é o comprador que faz o preço, durante o típico regateio marroquino.

“O dinheiro vai e vem. Deus não faz o dinheiro, é o homem que faz”, rematou, com um encolher de ombros.