Está cada vez mais normalizada a produção de documentários nos bastidores das equipas de futebol. A concentração das campeãs do mundo de futebol feminino não podia ser um alvo mais apetecível para um realizador, porque, no final das contas, tudo o que se tem passado com a Espanha é digno de um filme.

A seleção espanhola tem agendados dois compromissos nos próximos dias, o primeiro com a Suécia e o segundo com a Suíça. Ambos os encontros dizem respeito à Liga das Nações, a nova competição do panorama do futebol feminino europeu. No entanto, a inauguração da prova não é o motivo que mais aparato está a causar ou não fosse esta a primeira concentração de jogadoras desde a final do Mundial da Austrália e da Nova Zelândia, onde Luis Rubiales beijou Jenni Hermoso.

O antigo presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales, já não se encontra no exercício de funções depois de ter sido suspenso pela FIFA. Também o antigo treinador da equipa, Jorge Vilda, foi afastado. Montse Tomé assumiu o cargo de selecionadora e, logo na primeira convocatória chamou 20 das 39 jogadores que assinaram um comunicado a exigir uma reformulação da estrutura da RFEF.

Segundo a lei espanhola do desporto, os atletas que se recusarem a comparecer a um compromisso das seleções podem ser castigados com uma suspensão de dois a 15 anos e com multas entre o 3.000 e os 30.000 euros. Por isso, é expectável que todas as jogadoras integrem o estágio da seleção espanhola feminina mesmo que contrariadas e à procura de apoio jurídico para resolverem a situação. Acontece que a concentração está longe de decorrer dentro dos normal.

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Inicialmente, o planeado era que as jogadoras se juntassem em Madrid, mas à última hora, o local do estágio foi mudado para Valência para evitar a atenção mediática. Esta situação levou a que parte das jogadoras, nomeadamente as que atuam em clubes da capital, e a selecionadora se encontrassem em Madrid para depois seguirem viagem de autocarro para Valência e outras, em especial as que jogam no Barcelona, se deslocassem diretamente para o local onde a Espanha vai preparar o encontro com a Suécia. As jogadoras oriundas da Catalunha sofreram com um atraso provocado por uma avaria no avião.

O presidente do Conselho Superior do Desporto, Víctor Francos, vai reunir-se com as jogadoras e apelou a que à RFEF que desconvocasse as jogadoras que não queiram integrar os trabalhos da seleção. “Se uma jogadora não se sente confortável ou não quer estar presente, o mais normal é que seja cancelada”, confirmou à RTVE.

Provenientes do Barcelona, Mapi León, Aitana Bonmatí, Cata Coll, Mariona Caldentey, Irene Paredes e Ona Batlle são alguns dos nomes mais fortes da equipa, sendo, junto delas, viajou a mais influente de todas: Alexia Putellas. De recordar que Jenni Hermoso não foi convocada para “protegê-la”, como justificou Montse Tomé no anúncio da convocatória, argumento que foi questionado pela própria jogadora do Pachuca.

“Proteger-me de quê”? Convocatória deixa Jenni Hermoso de fora e jogadora acusa federação de ameaças

Os jornalistas espanhóis rodearam Alexia Putellas no momento do embarque rumo a Valência, sendo que a jogadora soltou algumas declarações. “Proteger a Jenni de quê se está tudo bem?”, ironizou. Em relação a como se encontravam as restantes companheiras, a melhor jogadora do mundo disse: “Pois… mal”.

Athenea del Castillo, María Méndez e Rosa Márquez foram as únicas que retiraram o nome do comunicado onde as jogadoras renunciavam à seleção, sendo que Athenea justificou a decisão com uma mensagem em nome próprio. “Concordo totalmente, como já manifestaram as minhas colegas, em denunciar tudo o que aconteceu com a Jenni Hermoso e em apontar o comportamento, totalmente deslocado e lamentável, de Luis Rubiales”, destacou. “Dada a proximidade da disputa da Liga das Nações e tendo em conta que uma parte importante das nossas reivindicações foi satisfeita, não penso desistir da convocatória da seleção nacional”.

Da Suécia começam a chegar os primeiros sinais de apoio. “Elas devem sentir todo o apoio ao seu redor e que os outros países as apoiem na decisão que decidam tomar. Se sentem que é preciso boicotar [o jogo] para que algo aconteça, é claro que as apoiamos”, disse a internacional sueca, Filippa Angeldahl.