A conclusão de uma investigação publicada pelo jornal The Guardian é clara: quase um terço dos europeus já vota em soluções anti-sistema, partidos populistas de extrema-esquerda ou de extrema-direita. A análise feita às eleições nacionais de 31 países, em 2022, revela que 32% dos eleitores da Europa votaram neste tipo de partidos.

Os números contrastam com os das últimas décadas, sendo os quase um terço de votantes atuais eram 20% na década de 2000 e 12% na década anterior. Mais do que isso, o estudo feito por 100 especialistas políticos, e liderado por Matthijs Rooduijn da Universidade de Amesterdão, demonstra que cerca de metade dos votos anti-sistema são hoje em partidos radicais de direita — a percentagem que está a aumentar mais rapidamente.

Entre os países analisados está Portugal com três partidos: Bloco de Esquerda e PCP (como partidos de extrema-esquerda) e o Chega (como populista e de extrema-direita).

O responsável pela pesquisa explica que há “flutuações” nas diferentes eleições e realidades nacionais, mas sublinha que a “tendência” aponta para que os números dos votos antissistema “continuem a aumentar”. A conclusão, diz, não deixa dúvidas: “Os partidos tradicionais estão a perder votos e os partidos antissistema estão a ganhar.” Aos olhos de Matthijs Rooduijn os dados tornam-se ainda mais relevantes se se tiver em conta que os populistas, atualmente, “asseguram ou influenciam o poder”, pelo que considera que “a qualidade da democracia diminuiu”.

Daphne Halikiopoulos, da Universidade de York e coautora do PopuList, o projeto que estuda o crescimento do populismo na Europa, explica ainda que “os partidos de extrema-direita, em particular, expandiram a sua base eleitoral e estão a formar coligações de eleitores com preocupações muito diferentes”. Aliás, a pesquisa concluiu até que a política europeia se inclinou de tal forma para a direita que vários partidos tradicionais de deste lado do espetro político foram sendo influenciados, nas suas posições e agendas, por estruturas mais radicais.

Neste sentido, os investigadores reconheceram que discutiram a “reclassificação dos conservadores” em vários países da Europa. E, ainda que não tenham feito a alteração, para já, deixam a porta aberta a essa possibilidade e optaram por considerar alguns desses partidos como próximos da extrema-direita.

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