Quatro pessoas, alegadas vítimas de tráfico de seres humanos, terão estado a trabalhar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), para empresas subcontratadas pela organização. A informação, que chegou à APAV já depois de o evento terminar, foi “imediatamente” enviada à Polícia Judiciária, que estará neste momento a investigar.

Esta é uma das conclusões do relatório esta segunda-feira tornado público pela APAV, que faz o balanço do protocolo inédito estabelecido com a organização da JMJ, no âmbito do evento que decorreu em Lisboa na primeira semana de agosto e ali reuniu mais de um milhão de pessoas.

Para além de ter estado fisicamente nos recintos em que o evento decorreu, não apenas em stands identificados, mas também entre a multidão, através da ação de voluntários treinados para oferecer e garantir ajuda a todos os que dela necessitassem, a APAV alargou o período de atendimento da Linha de Apoio à Vítima, que entre 26 de julho e 6 de agosto esteve a funcionar ininterruptamente, 24 horas por dia.

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No total, durante o período de extensão da linha telefónica de apoio, pode ler-se no documento, a que o Observador teve acesso, foram registados 45 atendimentos, sendo que apenas 6 deles diziam respeito a situações que tinham acontecido no contexto da JMJ.

Já pessoalmente, na Colina do Encontro e no Campo da Graça, as equipas da APAV receberam 31 pedidos de ajuda — 24 a propósito de problemas vividos ali mesmo ou, pelo menos, no contecto da Jornada.

Feitas as contas ao total de 30 pedidos de ajuda recebidos e respondidos no âmbito da colaboração com a organização da JMJ, verificou-se em 12 deles que não estava em causa qualquer situação de crime ou irregularidade — o que significa que 40% dos pedidos que foram feitos, lê-se no relatório, estavam “relacionados com outras matérias (como por exemplo o apoio com voos)”.

De entre as situações que efetivamente configuraram crimes, foram registadas 5 situações de burla, 4 de furto, 2 de coação/assédio e 3 de importunação sexual.

“São casos de comentários e toques no corpo não apropriados ou não desejados, ocorridos nos recintos ou nas viagens nos transportes públicos, feitos por outros peregrinos”, explicou Carla Ferreira, assessora técnica da direção da APAV, ao Jornal de Notícias desta segunda-feira, sobre estes três últimos casos enumerados. “Nenhum dos casos foram de natureza sexual e, tal como em todas as denúncias, as vítimas eram maiores de idade”, detalhou ainda a mesma fonte, a propósito das duas situações de coação/assédio.

Já sobre as quatro alegadas vítimas de tráfico de pessoas, Carla Ferreira explicou que a empresa sobre a qual foi dado o alerta “foi subcontratada por uma outra que, esta sim, tinha sido contratada diretamente pela JMJ”. “Esta situação foi imediatamente comunicada à Polícia Judiciária para investigação”, garantiu ainda, fazendo eco da informação expressa no relatório.