O El Niño vai continuar durante os próximos meses (pelo menos até março de 2024) com 71% de probabilidade de ser considerado “forte” — o fenómeno, mas não necessariamente os impactos a nível local —, de acordo com a previsão da agência meteorológica norte-americana NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration). O fenómeno meteorológico acaba por afetar o clima à escala global, mas os impactos em Portugal e na Europa serão residuais, disse ao Observador Alfredo Rocha, investigador no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (Cesam) na Universidade de Aveiro.

“De forma geral, durante os anos de El Niño a temperatura média do ar à superfície da Terra aumenta para além do que está associado às alterações climáticas”, diz Alfredo Rocha. “Assim, o El Niño potencia os efeitos das alterações climáticas, mas sobretudo nas regiões tropicais. Os efeitos nas latitudes médias [como na Europa] é muito residual e dificilmente identificável.”

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O El Niño desenvolve-se na região equatorial do oceano Pacífico e manifesta-se pelo aumento da temperatura da água à superfície com posterior aumento da temperatura da ar, devido à transferência de energia do oceano para a atmosfera. Este aquecimento da atmosfera é distribuído pelo planeta pela normal circulação atmosférica, mas as regiões que acabam por ser mais afetadas são as tropicais. Os Estados Unidos, sobretudo os estados a oeste, junto ao oceano Pacífico, podem sentir também a influência do El Niño, como expôs a CNN.

A Europa, longe do oceano Pacífico e afastada dos trópicos, acaba por receber uma influência menor do El Niño, como explica ao Observador Ricardo Deus, meteorologista no Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). E quer este fenómeno traga um aumento da temperatura ou um aumento da pluviosidade, esse será residual e difícil de distinguir de questões como as alterações climáticas ou os ciclones e anticiclones que afetam o clima. “O El Niño não se reflete em ondas de calor [na Europa]”, acrescenta Alfredo Rocha.

Têm sido feitos estudos para perceber se o El Niño tem impacto em Portugal e na Europa, mas até agora não foi possível demonstrá-lo. “Não há consistência nos impactos”, diz Ricardo Deus. O meteorologista ilustra: tanto registamos alguns invernos mais chuvosos durante o El Niño, como durante o fenómeno La Niña (quando as temperaturas superficiais do oceano Pacífico descem). Assim, conclui: “Não há evidências claras dos impactos do El Niño em Portugal”.

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O El Niño também não vai ter impacto na temperatura do oceano Atlântico Norte, que já está acima do normal. O maior impacto no aquecimento de outro oceano será no Índico, também numa região tropical e mais próximo da circulação do Pacífico.

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Nas regiões tropicais, o impacto do El Niño é claro, com zonas a receber muito mais chuva do que o esperado e outras a enfrentarem penosos períodos de seca. O impacto do El Niño na economia vai sentir-se a nível global, como já o mostra o aumento do preço do arroz.