Há cerca de 20 anos, quando a Volkswagen era dirigida por Ferdinand Piëch, um gestor que também era engenheiro, além de adorar e perceber muito de carros, o grupo alemão tinha um rumo bem definido e liderava na tecnologia entre os construtores generalistas. Em 2002, Piëch decidiu construir o Phaeton, o maior e mais luxuoso dos Volkswagen de sempre, não só porque fazia maravilhas à reputação e à imagem da principal marca do grupo, mas porque a luxuosa Bentley necessitava de uma base para conceber os seus novos Continental GT e Flying Spur, que a “rica” Volkswagen tinha de pagar para viabilizar o projecto. E, para completar o “ramalhete”, o Phaeton seria montado na mais elegante e bela fábrica de automóveis do mundo, o edifício transparente em Dresden, localizado no meio de um parque enorme no centro da cidade. Contudo, passados cerca de 20 anos, a icónica fábrica vai agora parar de produzir.

Depois da produção do Phaeton terminar em 2016, o seu lugar na fábrica em vidro de Desden foi ocupado pelo e-Golf, o primeiro modelo eléctrico da Volkswagen que, tal como o Phaeton, era construído e pintado noutra fábrica do grupo (o Phaeton em Zwickau e o Golf em Wolfsburg), para depois ser montado (mecânica, bateria e interiores) em Dresden, onde o construtor alemão convidava os clientes a fazer parte do processo, comercializando mesmo tours que incluíam acompanhar a produção do seu carro, depois de estar uns dias num hotel da cidade e experimentar a restauração local.

Depois do e-Golf veio o ID.3, mas também o primeiro veículo 100% eléctrico da nova vaga da Volkswagen, concebido sobre uma plataforma específica para modelos a bateria, vai abandonar Dresden.

A notícia do potencial encerramento da fábrica transparente – que além de ser maioritariamente em vidro, possui ainda uma torre que permite armazenar da forma mais elegante os modelos novos que estão à espera dos clientes –, foi acolhida com surpresa, pois a justificação para tal é algo bizarra. Alegadamente, o fecho da fábrica transparente tem (apenas) como finalidade poupar 20 milhões de euros por ano, segundo a Volkswagen confirmou à Bloomberg. Este valor baixa apenas ligeiramente o custo anual de funcionamento da fábrica de Dresden, orçado em torno de 60 a 70 milhões de euros, o que de acordo com a publicação alemã Automobilwoche, é parte da estratégia do CEO da Porsche e chairman da Volkswagen AG, Oliver Blume, para incrementar os lucros do grupo em 10 milhões de euros em 2026, abrindo mão dos benefícios para a Volkswagen, em termos de imagem, de possuir uma “montra” como a fábrica transparente.

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