É da diretora artística do equipamento cultural que faz a análise — a responsável do espaço que, no distrito de Aveiro e Área Metropolitana do Porto, alberga as coleções Treger Saint Silvestre, com 1.700 obras de Arte Bruta, e Norlinda e José Lima, com 1.200 peças de Arte Contemporânea, além de conceber exposições autónomas e gerir um serviço educativo para público geral e especializado.

“É um projeto ainda jovem, mas já tem muito trabalho concretizado em várias frentes e o balanço desta primeira década evidencia uma evolução segura, sólida e sustentada, que permitiu afirmar o CAO não só no panorama nacional, mas também a nível internacional, graças a empréstimos e parcerias com instituições reputadas de outros países”, declarou Andreia Magalhães.

Na direção da casa desde 2016, essa responsável defendeu que para a afirmação do CAO contribuiu também a sua “linha de continuidade”, já que o ímpeto inicial da instituição não esmoreceu com o passar dos anos, antes revelando uma dinâmica crescente: entre 2013 e 2017, a programação global gerou de 2.724 a 4.882 visitantes por ano e, de 2018 até setembro de 2023, a afluência anual situou-se entre as 4.743 e 8.104 pessoas.

Ainda no contexto da procura, Andreia Magalhães lamenta que, devido às restrições motivadas pela covid-19, o CAO tenha registado uma quebra em 2020 e 2021, mas está segura de que o espaço recuperará os níveis anteriores à pandemia, uma vez que em 2022 a casa contabilizou um total de 6.405 entradas e que, só entre janeiro a setembro deste ano, já ultrapassou esse número.

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“Isso é reflexo de projetos muito ambiciosos como a exposição ‘Trabalho Capital’, que envolveu obras de Arte Contemporânea que temos em depósito e lhes acrescentou peças de cerca de 50 artistas convidados a relacionar as artes plásticas com a memo´ria histo´rica, social e poli´tica da própria Oliva”, afirmou a diretora do CAO.

Também a mostra “Fabrico Suspenso” foi “um marco destes 10 anos por constituir a primeira exposição em Portugal dedicada à produção independente do gabinete R2, especializado em identidade gra´fica e design editorial para instituic¸o~es culturais e museus de vários países”.

Já no que se refere à presença da Oliva fora de portas, Andreia Magalhães realçou a parceria com o Museu Nacional de Soares dos Reis, que até novembro tem patente no Porto uma mostra com retratos de Arte Bruta da coleção de São João da Madeira, e salienta ainda o crescente número de empréstimos a entidades estrangeiras, como os que levaram obras do mesmo fundo ao Museu Gugging, da Áustria, e à Fundação Prada, em Itália.

A responsável do CAO notou, aliás, que “a Coleção Treger Saint Silvestre é de uma grande singularidade e diferencia a Oliva, gerando um interesse que potencia a relação da casa com entidades estrangeiras” sem obras desse universo.

A par do empréstimo de “500 a 600 obras por ano”, a Oliva assegura assim “seis a sete exposições internas” a cada 12 meses e igual número de mostras concebidas para entidades externas a partir das coleções privadas que constituem “o alicerce” da instituição.

Todo esse trabalho tem sido desenvolvido com recurso a “uma equipa pequena”, de seis pessoas, e a um orçamento que a diretora do CAO também considera “modesto”.

A Câmara Municipal de São João da Madeira não conseguiu indicar valores completos sobre os 10 anos de atividade da estrutura, mas refere que, desde 2018, o investimento da autarquia “na programação do CAO foi superior a meio milhão de euros”, situando-se concretamente nos 513.300 euros — soma que não abrange custos de funcionamento e manutenção do espaço nem verbas da Direção-Geral das Artes para exposições apoiadas.

“Precisamos de continuar a angariar outros financiamentos, inclusive ao nível europeu, e de desenvolver a rede de parceiros em Portugal, porque isso é decisivo para o projeto continuar a crescer”, disse Andreia Magalhães, que também assume a ambição de constituir “uma coleção própria” da Oliva, independente das obras particulares que estão à guarda — mas não são posse — do Município.

A diretora do CAO diz-se igualmente recetiva a cocriações em vários domínios artísticos, “num espírito de resiliência que incentive a conceção de conteúdos autónomos, originais e diferenciadores”.

É por isso que Andreia Magalhães considera positiva a recente constituição da Rede Portuguesa de Arte Contemporânea, que representa “um passo enorme” para a valorização desse segmento específico, tendo em conta “a tendência do Estado para favorecer as artes performativas em detrimento das visuais, que sempre tiveram apoios mais escassos” apesar do seu “papel determinante na formação cultural de qualquer sociedade”.