Tem sido difícil para o Chelsea ganhar a quem quer que seja, mas contra o Arsenal o problema tem sido ainda maior. O dérbi de Londres da 9.ª jornada da Premier League era uma luta para preservar o orgulho que os blues pareciam vir a perder em cascata. Os gunners visitavam Stamford Bridge na liderança da Liga Inglesa com os mesmos 20 pontos que outro emblema da capital, o Tottenham. Um deslize contra a equipa de Mauricio Pochettino podia comprometer a salvaguarda de uma presença no topo.

O Chelsea venceu pela primeira vez três jogos seguidos desde março do ano passado. Dois dos triunfos dessa sequência, que começou frente ao Brighton para a Carabao Cup, contaram para a Premier League e foram conseguidos fora de casa contra o Fulham e contra o Burnley. De qualquer modo, o Arsenal estava no momento ideal para impedir que o rival conseguisse vencer três jogos seguidos no campeonato pela primeira vez desde outubro de 2022. Afinal, os jogadores de Mikel Arteta vinham de uma vitória conseguida nos últimos minutos contra o Manchester City e que serviu como injeção de moral para uma equipa a realizar um início de época positivo.

Mikel Arteta tinha muitos pontos de interrogação. Bukayo Saka era o principal problema com que o técnico espanhol tinha que lidar. Afastado por lesão, o extremo também não tinha estado presente na vitória contra os citizens. Além disso, Leandro Trossard e William Saliba também estavam em dúvida. Só em cima da hora do jogo, Arteta soube com quem podia contar.

Entre as muitas ausências que o Chelsea também ia ter, havia uma boa notícia: o regresso do capitão Reece James. O defesa esteve afastado devido a problemas físicos desde a primeira jornada da Premier League altura em que os blues defrontaram o Liverpool. Formado no Chelsea, recentemente, Reece James respondeu diretamente no X a uma conta que sugeria que pudesse vir a representar o Arsenal. “Reece James para o Arsenal, quem diz que não?”, escreveu o utilizador. “Eu digo que não”, reagiu o jogador.

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No Arsenal, Arteta acabou por ter condições para lançar Saka e Saliba de início e ter Trossard como opção a partir do banco. Pochettino, por sua vez, foi obrigado a ser mais contido e a remeter Reece James à condição de suplente. No entanto, qualidade não faltava ao Chelsea para atacar o dérbi. Desde logo, Enzo Fernández foi escolha inicial no meio-campo, junto de Moisés Caicedo e Conor Gallagher, um trio cada vez mais consolidado.

O jogo começou por ser bem mais entusiasmante do que, por exemplo, aquele que o Arsenal realizou contra o Manchester City na jornada anterior e em que o calculismo imperou. No meio desse caos, Cole Palmer teve uma entrada dura sobre Gabriel Jesus, mas o árbitro ficou-se pelo amarelo. A chuva que se entornava sobre o relvado de Stamford Bridge era inimiga do controlo corporal. Assim, intensificavam-se os duelos.

Martinelli era o feitiço que o aprendiz precisava para ganhar ao mestre: Arsenal tira Manchester City do primeiro lugar

Com Nicolas Jackson no banco, o Chelsea usou o móvel Cole Palmer como elemento mais adiantado, sempre com o apoio de Conor Gallagher na hora de criar uma primeira linha de pressão com dois elementos. A versatilidade do ataque dos blues levou a um dinamismo que permitiu ser Mudryk a aparecer na zona nove e a cabecear para a mão de Saliba. Após consultar o VAR, o árbitro assinalou penálti. Cole Palmer (15′) – que discutiu com Sterling quem devia assumir a cobrança, debate que teve Enzo como moderador – não vacilou perante David Raya. Se o jogo já estava interessante, devido ao golo, ficou ainda melhor.

O Arsenal beneficiou do recuou de Jorginho para construir com uma linha de três jogadores. O desenho dos gunners criava superioridade na saída apoiada para o ataque e, como consequência, quando Palmer saltava na pressão, o bloco do Chelsea ficava fragilizado. Daí surgiram combinações entre Ben White e Bukayo Saka que contrastavam com os rasgos individuais que Martinelli realizava esporadicamente à esquerda.

De qualquer forma, o Chelsea estava com uma genica como há muito não se via. Cole Palmer atirou perto do poste e somou mais uma ocasião para marcar. Enzo Fernández, cada vez mais líder, aproximou-se do último terço com frequência, ficando Moisés Caicedo em tarefas mais posicionais. Sterling terminou a primeira parte a moer o juízo a Zinchenko, antigo colega no Manchester City, criando para os blues uma série de aproximações perigosas. Como consequência disso, Zinchenko foi substituído por Tomiyasu ao intervalo.

A troca de defesas foi uma tentativa do treinador do Arsenal se proteger com uma tampa em vez de uma rolha, mas a linha recuada continuou a meter água. Mudryk (48′) parou a bola junto ao corredor. O guarda-redes do Arsenal, David Raya, tentava adivinhar um cruzamento, mas acabou por sofrer um chapéu. Depois do Arsenal sofrer os primeiros golos fora na Premier League, os gunners preparavam-se para sofrerem a primeira derrota. 

O resultado parecia mesmo uma causa perdida para a equipa de Arteta. A intranquilidade notava-se no jogo de pés de David Raya que quase brindou Cole Palmer com mais um golo. O Chelsea parecia ter dado um descanso à crise (exibicional e de resultados), tal a forma como se apresentava no relvado. Estava tudo a ser bom demais até ao guarda-redes Robert Sánchez vacilar também ele no jogo de pés. No entanto, ao contrário do que aconteceu com o compatriota, o erro teve consequências e permitiu a Declan Rice (77′) reduzir.

A partir daqui, num instante, vieram ao de cima todos os fantasmas do Chelsea. Logo a seguir a Pochettino ter lançado Reece James e Noni Madueke, Saka cruzou para Trossard (84′) desviar ao segundo poste seis minutos depois de estar em campo. Estava feito o empate. Como se tem tornado hábito, o tempo de compensação foi suficientemente dilatado para que ainda existissem mais golos, o que acabou por não acontecer.

O Arsenal empatou (2-2) pela terceira vez esta época e fica, à condição, a par do Manchester City no topo do campeonato. Ambos os emblemas somam agora 21 pontos, mas podem ser ultrapassados pelo Tottenham que, caso vença o Fulham esta segunda-feira, assume a liderança isolada da Premier League. O Chelsea continua sem conseguir vencer os gunners em casa, algo que aconteceu pela última vez para o campeonato em 2018.