Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial, que esteve esta quarta-feira no Parlamento na especialidade a debater a proposta do Orçamento do Estado para 2024, emocionou-se, no final da audição, ao despedir-se dos deputados. “Quero dizer-vos que servi com honra o meu país”, disse emocionando-se, tendo de seguida sido confortada por palmas por parte dos deputados socialistas.

“Quero dizer-vos que foi uma honra prestar contas nesta Assembleia da República a todos os grupos parlamentares”, concluiu, ainda emocionada.

Antes, em jeito de despedida, Ana Abrunhosa começou por “agradecer a todos os grupos parlamentares”, fazendo “um agradecimento especial ao grupo parlamentar do PS que eu nunca senti tão próximo, quero agradecer-vos. Quero agradecer a todos.”

E também a António Costa e Fernando Medina. “Quando o ministério foi criado ninguém dava cinco tostões por ele, hoje está consolidado. Está consolidado porque todos os que aqui estão lutaram por termos coesão territorial. Eu quero agradecer muito sobretudo ao Governo PS, ao meu primeiro-ministro e ao ministro das Finanças, sem o nosso ministro das finanças, ex-autarca, não teria sido possível este orçamento do Estado. Podemos dar as voltas que dermos, é um bom orçamento do Estado para as nossas autarquias, para o nosso território e aqui faltam os fundos comunitários, se juntarmos não faltam verbas”.

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E garantiu que “nunca senti falta de peso político, nunca, nunca senti falta de apoio do meu primeiro-ministro e foi ele que me aguentou nas horas difíceis que foram muitas, como são com qualquer Governo”.

Filipe Neto Brandão, presidente da comissão de Orçamento e Finanças, concluiu a audição agradecendo a Ana Abrunhosa pelo “trabalho desenvolvido, a política também tem emoção”.

No início da audição, confrontada pela deputada liberal Joana Cordeiro, com a crise política — “estamos novamente a fazer uma audição sobre uma proposta de lei que, na realidade, não sabemos se vai caducar, mas sabemos que não será aplicada nunca porque quando temos um novo governo temos novas pessoas, parece-me extemporâneo estarmos a fazer perspetivas sobre o futuro ou sobre um orçamento do Estado que não vai ser, mas é importante percebermos a visão do PS e percebermos o que não foi feito, uma espécie de balanço –, Ana Abrunhosa assumiu: “Referiu várias vezes que queria saber a posição do PS, eu não estou aqui enquanto representante do PS, estou enquanto representante do Governo e enquanto ministra da Coesão, se for nessa perspetiva que me quiser ouvir, tudo bem, até porque eu sou uma ministra independente e não estou como representante do PS, estou sentada enquanto ministra da República com toda a legitimidade que temos, é assim em democracia, até ao último dia.”

Os ministros continuam a ser ouvidos no Parlamento sobre o Orçamento do estado para 2024, não se sabendo ainda o desfecho político da crise aberta com a demissão do primeiro-ministro António Costa. Marcelo Rebelo de Sousa só se vai pronunciar na quinta-feira, 8 de novembro.

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Já não é a primeira vez que Ana Abrunhosa se emociona no Parlamento. Aconteceu em setembro do ano passado quando foi ouvida depois da notícia do Observador de que o marido da ministra tinha beneficiado de fundos europeus, já depois de Ana Abrunhosa ter passado a tutelar as CCDR.

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Carlos Guimarães Pinto, da IL, confrontou a ministra com a notícia nessa audição, dizendo que até pode ser legal, mas eticamente não pode ser beneficiário de fundos europeus, por isso “ou o seu marido devolve os fundos ou a senhora ministra se demite. É que a terceira opção é passar o resto do seu mandato como uma nódoa ética do seu governo. Eu até podia dizer que no melhor pano cai a nódoa, mas neste governo já nem se vê pano, só se vê nódoas, e é uma infelicidade que tenhamos de atravessar de forma permanente casos como este. Falamos em ética, seriedade, e acredito que segue essas regras, mas para mostrar que as segue só existem duas alternativas: ou as empresas do seu marido se comprometem a devolver os fundos europeus, ou a senhora ministra se demite do cargo”. O PS ainda pediu que fossem retiradas estas palavras da ata. “O povo do interior, dos territórios de baixa densidade, conhecem bem o que tem lutado por eles”, declarou, acrescentando que é uma pessoa de uma “honestidade irrepreensível”: “Percebo bem que às vezes alguns não queiram ter ministras competentes”.

Carlos Guimarães Pinto insistiu, numa audição posterior no mesmo dia, criticando a tentativa de apagar declarações do PS. Foi aí que Ana Abrunhosa recusou que se apagasse qualquer declaração: “Se depender da minha opinião, nada do que disse será apagado. Penso que não há necessidade disso. O senhor deputado exerceu a sua opinião, como eu tenho a minha. Não podendo responder-lhe peço que nada apagado e peço que tudo fique. Estamos em democracia, é em democracia que debatemos as nossas ideias e no fim do dia é com a nossa almofada que fazemos contas, agradeço-lhe as suas palavras e respeito tudo o que me disse”, concluiu emocionando-se. Para depois dar uma última explicação: “sou uma chorona”, “conseguimos entender quando as críticas são feitas com amizade ou com malícia”.

Foi também emotivamente que declarou apoio a Pedro Nuno Santos, quando o então ministro das Infraestruturas, quase saiu do Governo, a propósito do episódio do aeroporto de Lisboa, mas com o anúncio da sua permanência declarou: “Andei com o coração apertado o dia todo, hoje estou duplamente feliz, deixo aqui um grande abraço ao nosso ministro Pedro Nuno Santos: Pedro, tu estás aí ouvir-nos, um grande, grande, grande abraço”, disse emocionada, segundo contou o JN.