Uns levavam oito vitórias noutros tantos jogos com apenas dois sets cedidos, outros tinham sete triunfos em sete encontros com apenas dois sets cedidos. O primeiro dérbi da temporada em voleibol entre Sporting e Benfica chegava com os encarnados na frente mas com ambos os conjuntos sem saberem o que é o sabor da derrota nas provas nacionais, depois do desaire que sofreram na Taça Ibérica frente ao CV Guaguas. Aí, o patamar era o mesmo; no projeto desportivo, as realidades mostravam-se diametralmente opostas, com os leões a terem mais um ano entre o 0 e o 1 depois de mais uma época em que falharam o acesso à final e as águias a manterem a estrutura base e o técnico na sequência de cinco temporadas de hegemonia.

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“Ainda estamos numa fase prematura mas os indicadores são bons, o grupo apresenta boa dinâmica e no último jogo, com algumas mexidas para dar ritmo a jogadores menos utilizados, corresponderam bem. Foi uma questão de gestão da equipa nesta primeira fase da época, de características dos jogadores. Agora com o Benfica temos de elevar o nível, apresentar um bom voleibol. Vamos dar continuidade a isso para, em casa, tentar responder outra vez de forma afirmativa. É uma hegemonia que queremos desafiar e não nos vamos refugiar na maior consistência e experiência do adversário. Temos uma equipa com muita gente nova mas com processos sólidos e bons indicadores. Ainda precisamos de continuar a construir mais e melhor, mas vamos continuar a trabalhar para continuarmos no primeiro lugar”, referira João Coelho, treinador do Sporting, na antevisão do dérbi e após mais um triunfo no Campeonato frente ao VC Viana.

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“Uma jornada dupla exige sempre um pouco mais de preparação. Temos de preparar bem a semana para os dois encontros que teremos, o segundo com o Sporting que é uma equipa montada para chegar às finais como nós. O Sporting é uma boa equipa, um conjunto equilibrado que conseguiu trazer bons valores. Ainda não vi jogar ao vivo alguns jogadores como os checos mas estão a fazer bons jogos, com números semelhantes aos nossos. É cedo para tirar grandes conclusões, as duas equipas ainda podem crescer muito no Campeonato. O Benfica está com algumas limitações mas para a frente terá melhores condições”, frisara Marcel Matz, treinador do Benfica, no lançamento do encontro que se ia realizar no Pavilhão João Rocha.

Era neste contexto que chegava o jogo grande da jornada dupla da primeira fase da Liga, com o Benfica a ter esse percurso quase impoluto nos últimos dérbis desde que perdeu a final do Campeonato de 2017/18 nas vantagens da “negra” do jogo 5: em 29 jogos com o Sporting, ganhara em 27 ocasiões e sofrera apenas dois desaires, num dos encontros da final de 2019 e na decisão da Taça de Portugal de 2021, sendo que vencera as últimas 15 partidas diante dos rivais verde e brancos. Agora, a luta foi maior, os períodos de equilíbrio como não viu na última temporada aumentaram mas o Benfica voltou ganhar, assumindo a liderança mais isolada do Campeonato ao tornar-se a única equipa a partir de agora sem qualquer desaire.

Apesar de ser uma noite de segunda-feira, o dérbi merecia mais público no Pavilhão João Rocha, sobretudo despido de claques que trazem sempre um outro colorido ao espectáculo. E merecia porque teve tudo o que se quer e gosta de ver num bom jogo: intensidade, vivacidade, boas combinações, aquelas picardias naturais de um dérbi que uns segundos depois estavam arrumadas. A par disso, foi bem mais equilibrado do que os jogos da última época, com os encarnados a manterem o nível mesmo sem o reforço Felipe Banderó, que se lesionou na derradeira partida, e os leões já alguns furos acima do melhor que apresentaram em 2022/23 com caras novas que fizeram a diferença no primeiro set, como o distribuidor venezuelano Chema Carrasco, o canadiano Lucas Van Berkel (que travou um duelo interessante pelo centro de rede com o compatriota Pearson Eshenko) e os checos Jan Galabov e Martin Licek. Os leões fecharam o primeiro parcial com 25-21 mas os encarnados não demoraram a reagir, ganhando o segundo set por claros 25-20.

O terceiro set assumia uma grande importância para o desfecho final, sendo que depois de um início com todos os pontos aproveitados no serviço adversário o Benfica voltou a ganhar uma curta vantagem de três pontos. João Coelho foi tentando mexer na equipa em busca de uma série de dois/três pontos seguidos que recolocassem os leões no resultado mas os encarnados fizeram prevalecer sempre a maior experiência nestas situações, fechando o terceiro parcial com 25-21 e ficando apenas a um set da vitória. Chegava o momento da decisão, com ânimos quentes à mistura que valeram um cartão vermelho para cada lado num lance em que o segundo distribuidor verde e branco, Armando Vélasquez, saiu lesionado. E até houve mais equilíbrio do que se tinha visto no set anterior, com a nuance do costume que continua a fazer a diferença: na hora da verdade, o Benfica não perdoa e foi assim que, após perder um match point, fechou com 25-23.