Com a intenção de passar a noite em protesto pacífico, seis estudantes foram detidos pela PSP durante a madrugada desta terça-feira na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Lisboa. Os ativistas reivindicavam o fim aos combustíveis fósseis e eletricidade 100% renovável e acessível até 2025.

Em comunicado, a Greve Climática Estudantil adianta que o grupo resistiu pacificamente, de forma a manter a ocupação, mas acabou por ser retirado da faculdade e detido por volta da 1h00. Nas redes sociais, tanto o movimento como o núcleo da FCSH pelo fim ao fóssil publicaram imagens dos estudantes ainda no Edifício C da faculdade, com tendas e cartazes, enquanto resistam à polícia.

À saída, “um dos carros da polícia com uma estudante detida atropelou um peão. Tanto este como a estudante foram assistidos pelo INEM”, acrescentam. Ao Observador, uma porta-voz do movimento avançou que o incidente provocou um ataque de pânico à jovem que seguia no carro da PSP e que, em consequência do impacto e do uso das algemas, acabou também por torcer o pulso, tendo sido assistida pelo INEM. Os seis estudantes saíram em liberdade ao início da manhã desta terça-feira.

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“A suposta ‘faculdade que luta’, que celebra o Salgueiro Maia com um mural, não hesitou em reprimir a luta dos estudantes”, mencionou Beatriz Xavier, uma das estudantes da FCSH detidas. “De que serve louvar as lutas do passado se depois chamam a polícia para silenciar as do presente? Eu não queria ter de lutar para garantir o meu futuro, mas é esta a nossa realidade. Não podemos continuar apenas a estudar para um futuro que não vamos ter se nada fizermos. Precisamos de disrupção para parar a destruição”, pode ler-se no comunicado.

Ao final do dia, em novo comunicado citado pela Lusa, o movimento Greve Climática de Lisboa refere que os estudantes “denunciam ter sido alvo de violência e insultos por parte da polícia”. Confrontado com as acusações, o Comando Metropolitano de Lisboa da PSP recusou comentar.

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A direção da FCSH comentou o sucedido defendendo que a faculdade “é um espaço de liberdade, diversidade e debate” e que tem como prática “resolver os problemas através do diálogo”. Apesar de manifestar solidariedade com a causa climática e de permitir a presença de ativistas nas instalações da faculdade, a direção acusou, em comunicado, os ativistas de terem destruído equipamentos do sistema de deteção de incêndio.

A direção da faculdade disse que, ao longo do dia de segunda-feira, “as tentativas de diálogo com o grupo de ativistas foram ignoradas”, pelo que as instalações encerraram no horário habitual, às 23h00, “não tendo havido permissão para a permanência nas instalações de quem, para tal, não tem autorização prévia”.

“Lamentavelmente, e esgotadas todas as opções de diálogo, a direção da NOVA FCSH viu-se obrigada a recorrer às autoridades competentes para garantir o adequado encerramento das instalações”, acrescenta.

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A decisão da direção foi criticada pelos ativistas. “Não compreendemos como é que se está a tornar banal chamar polícia a faculdades para reprimir protestos pacíficos. As faculdades são historicamente um local de luta e de protesto, mas agora parecem ser completamente intolerantes a qualquer manifestação”, disse a porta-voz do núcleo pelo fim ao fóssil da FCSH, Lux Souto Maior, citada no comunicado da Greve Climática Lisboa.

A estudante acrescentou que o grupo está preparado para defender a ocupação: “Sabemos que estamos do lado certo da história. Não podemos parar de lutar pois esta é a luta das nossas vidas, a luta pelas nossas vidas”.

A onda de protestos pelo fim aos combustíveis fósseis arrancou na segunda-feira com alunos de 10 escolas a aderirem às ações: na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, a entrada principal foi bloqueada durante a manhã; na Faculdade de Letras, os estudantes interromperam uma aula para dar uma palestra sobre “justiça climática vs um sistema focado no lucro”; na Escola Secundária D. Filipa de Lencastre, os estudantes viram-se obrigados a protestar à entrada do estabelecimento de ensino depois de terem sido impedidos de entrar. Houve ainda ações no ISCTE, na FCUL, na Universidade de Coimbra, na ESTC e na FBAUL.

*Notícia atualizada às 21h00 com novo comunicado do movimento Greve Climática de Lisboa