O general Luís Araújo, antigo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) e chefe do Estado-Maior da Força Aérea, morreu este sábado aos 74 anos, informou o EMGFA.

Numa nota divulgada à comunicação social, o EMGFA indica que foi “com profundo pesar” que tomou conhecimento do “falecimento do general Luís Evangelista Esteves de Araújo, e endereçou as mais sentidas condolências a todos os seus familiares e amigos”.

Luís Araújo nasceu no Porto em 25 de fevereiro de 1949, tendo ingressado no curso de aeronáutica da Academia Militar em 1966. Foi o piloto à frente da missão para tentar levar comida aos deputados da Assembleia Constituinte que estavam sequestrados dentro do parlamento no famoso cerco de 1975, que se prolongou de 36 horas. À época, cerca de 100 mil manifestantes, maioritariamente trabalhadores da construção civil em luta pela assinatura de um contrato coletivo de trabalho, cercaram o Palácio de São Bento entre os dias 12 e 13 de novembro, em pleno PREC (Processo Revolucionário em Curso), onde decorriam os trabalhos da então Assembleia Constituinte.

“Ninguém protegeu o presidente da Assembleia, ninguém me protegeu a mim, ninguém tirou a carga e o pipo, foi tudo para o chão. Aterrei em Monsanto, saí do helicóptero e ia matando os que me tinham dito que a segurança estava garantida”, relatou este ano o antigo piloto para o livro “Cerco ao Parlamento”, da jornalista Isabel Nery.

O Piloto de helicópteros foi também diretor do Instituto de Altos Estudos da Força Aérea, além de diretor-geral de Política de Defesa Nacional no Ministério da Defesa Nacional. Em 1996, foi assessor militar do Presidente da República Jorge Sampaio e dois anos depois, em junho de 1998, um dos responsáveis pelo comando da Força Conjunta de Proteção e Recolha de Cidadãos Nacionais na Guiné-Bissau, na sequência da crise político-militar que levou à guerra civil naquele país.

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Já em 2017 o general foi nomeado representante do Estado nas OGMA – Indústria Aeronáutica de Portugal –, cargo do qual foi afastado em abril de 2020 e, segundo o próprio, sem aviso prévio. O seu afastamento surgiu poucas semanas depois de ter enviado uma carta ao então ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, em que se queixava de falta de respostas por parte de Marco Capitão Ferreira, que era o presidente da Comissão Liquidatária da Empordef — a empresa que detinha as participações do Estado nas indústrias de defesa — e está agora a ser investigado pela PJ na sequência do caso “Tempestade Perfeita”.

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Na missiva, o general explicava ao ministro que na reunião anterior do Conselho de Administração tinha apresentado “reservas” ao relatório e contas da empresa, “face à ausência do parecer do Conselho Fiscal”, documento que considerava “essencial” para a aprovação das contas da OGMA e que é obrigatório por lei, como noticiou o Expresso.

Após o afastamento da OGMA, o general admitiu ao Diário de Notícias sair “triste e magoado”, principalmente por nunca ter sido contactado pela tutela. “Cumpri o meu mandato durante os três anos para que fui nomeado. Face à total ausência de instruções para o desempenho de funções por parte do ministério da Defesa, comecei a sentir-me desconfortável e manifestei a minha indisponibilidade”, revelou.

Mais recentemente o general foi uma voz crítica durante a polémica reforma nas Forças Armadas, que gerou mal-estar entre as altas patentes militares na reforma e o Governo. Luís Araújo assumiu-se na altura como um grande defensor de que o problema das FA residia não na “estrutura”, mas antes “na escassez de meios de toda a ordem”, salientando que a centralização do poder do CEMGFA era “excessiva”, não existindo um processo de “checks and balances”.

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Na nota enviada às redações, o EMGFA destacou que o general Luís Araújo “sempre se afirmou pelas suas qualidades de liderança e ímpeto reformador, tendo contribuído de forma ímpar para o desenvolvimento e dignificação das Forças Armadas.”

O organismo salienta ainda que a vida e o legado do general Luís Araújo “justificam um profundo reconhecimento e respeito pela sua memória”, e “constituem fator de orgulho e coesão para todos os que servem nas Forças Armadas Portuguesas”.

A nota sublinha também que, ao longo da sua carreira, Luís Araújo “foi distinguido com as mais elevadas condecorações, das quais se destacam a Cruz de Guerra de 2.ª Classe, a Grã-cruz da Ordem Militar de Cristo, a Cruz Naval de 2.ª Classe; a Medalha de D. Afonso Henriques de 1.ª Classe, a Medalha de Mérito Aeronáutico de 1.ª Classe e a Medalha de Ouro de Valor Militar (coletiva)”.

Num comunicado divulgada também este sábado, a ministra da Defesa Nacional “lamenta o falecimento do general Luís Araújo, enviando à sua família sentidas condolências”. Helena Carreiras destaca “a competência, a dedicação, o sentido de serviço, a abnegação e a coragem que sempre colocou ao serviço das Forças Armadas e do país”, que “motivaram mais de duas dezenas de distinções e condecorações, civis e militares”.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou sábado à noite o seu profundo pesar pela morte do general Luís Araújo, antigo chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA).

“O Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas manifesta profundo pesar pelo falecimento do general Luís Evangelista Esteves de Araújo, ex-chefe do Estado-Maior da Força Aérea e ex-chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas”, lê-se numa nota divulgada no ‘site’ da Presidência, citada pela Lusa, endereçando os pêsames à família.

O Presidente da República refere ainda que Luís Araújo “serviu as Forças Armadas de 1966 a 2014, tendo combatido em África após ter sido brevetado como piloto-aviador, e chegado ao posto mais alto da hierarquia militar como General CEMGFA entre 2011 e 2014”.

Marcelo Rebelo de Sousa destaca também que o antigo CEMGFA “recebeu das mais elevadas condecorações militares em Portugal, destacando-se a Grã-Cruz da Ordem de Cristo e a Grã-Cruz da Ordem de Avis, sendo até à data membro do Conselho das Antigas Ordens Militares Portuguesas”.