Longe de cumprirem as metas do Acordo de Paris, o diretor executivo da agência da ONU para a gestão de projetos defendeu esta segunda-feira que a COP28 será, sobretudo, uma oportunidade para os países renovarem compromissos.

COP28. Os mesmos temas e um balanço de oito anos

“Temos tudo o que é necessário para agir. Só precisamos que os países cumpram aquilo com que se comprometeram”, disse Jorge Moreira da Silva, que lidera, desde março, a agência das Nações Unidas para Serviços de Projeto (UNOPS).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP28), que está a decorrer no Dubai, Emirados Árabes Unidos, um dos principais destaques é a realização do primeiro balanço do que tem sido feito para combater o aquecimento global, em resultado do Acordo de Paris sobre redução de emissões de gases com efeito de estufa, aprovado em 2015 na COP21.

Por isso, Jorge Moreira da Silva considerou que a COP28 “não pode ser confundida com uma COP dedicada a negociações”.

“Aquilo que está aqui em causa não é uma negociação, é uma avaliação e renovação de compromisso na ação”, explicou, justificando que, ao contrário de cimeiras como a de Paris, França (em 2015), Copenhaga, Dinamarca (em 2009) ou Quioto, Japão (em 1997), o entendimento já existe, falta “apenas” cumprir os compromissos.

O problema, acrescentou, é que esses compromissos, que definiram como objetivos a redução das emissões e a limitação do aumento das temperaturas mundiais a dois graus celsius (ºC) e, se possível, 1,5ºC acima dos valores médios da era pré-industrial, estão longe de ser cumpridos.

“A lacuna entre aquilo com que os países se comprometeram e aquilo que estão a entregar é demasiado grande para que possamos ser condescendentes. Estamos numa situação limite”, alertou o responsável das Nações Unidas.

Citando o recente relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Jorge Moreira da Silva recordou que, com as medidas atuais, o planeta caminha para um aumento de temperatura entre os 2,5°C e os 2,9 °C até final do século.

Por outro lado, apesar do compromisso para reduzir em 43% as emissões de gases com efeito de estufa até 2030, a avaliação que está a decorrer antecipa um aumento de 3% por essa altura, acrescentou, referindo também que o financiamento das políticas climáticas se limita a um sexto daquilo que seria necessário (cerca de seis biliões de dólares).

Ainda assim, o diretor executivo da UNOPS está otimista quanto aos potenciais resultados da COP28 e justifica que, em seu entender, existe hoje um consenso mais alargado do que há duas décadas, quando começou a dedicar-se às alterações climáticas.

“Não posso deixar de expressar a minha confiança, porque se não tivéssemos a base cientifica, o apoio dos cidadãos, uma maior consciencialização das empresas das vantagens da descarbonização, isso sim seria difícil. Mas temos as três coisas”, observou.

Jorge Moreira da Silva não deixou, no entanto, de sublinhar a urgência da ação climática e alertar que já não basta caminhar contra as alterações, mas é preciso correr e, neste momento, nenhum país está a fazer tudo o que pode.