A quebra de vários dos emblemas com mais tradição no futebol inglês abre portas a que, sorrateiramente, novas potências se infiltrem no topo. Os casos mais problemáticos são os do Chelsea e o do Manchester United, que atravessam uma fase negativa na Premier League. Para contrabalançar, esta temporada, o Aston Villa fez-se grande e vai, para já, tornando um pouco mais real o sonho do título.

O clube está por estes dias a estrear o novo símbolo — escolhido pelos adeptos mediante uma votação — e é caso para dizer que está mesmo de cara lavada. Uma característica que prevaleceu da imagem antiga para a anterior foi a estrela que simboliza o título de campeão europeu conquistado em 1981/82. Apesar da glória internacional, só na década de 90 os villans viveram anos dourados com sete presenças no top 7 do escalão máximo do futebol inglês, alcançando, em 1992/93, a melhor colocação de sempre no Campeonato, um 2.º lugar só superado pelo Liverpool. A partir daí, a equipa estagnou, acabando por descer ao Championship.

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Após três anos da Segunda Divisão, o treinador Dean Smith levou a equipa de novo à Premier League. Nessa altura, o fundo V Sports (que atualmente também tem participação na SAD do V. Guimarães), detido por Nassef Sawiris e Wesley Edens, adquiriu a totalidade do clube inglês, elevando o nível de exigência. Dean Smith acaba por deixar o comando técnico depois de não conseguir mais do que lutar pela manutenção. Chegou então Steven Gerrard, alguém em quem, devido ao passado como jogador, se depositavam grandes expectativas.

Com o antigo internacional inglês, o desempenho também não foi suficientemente positivo. A consequência das esperanças não cumpridas foi a contratação de Unai Emery, o “Senhor Liga Europa”. Ao espanhol aconteceu algo raro nos dias de que correm. O treinador largou por vontade própria o Villarreal, onde estava a ter sucesso, para se voltar a desafiar na Premier League. A primeira passagem de Emery por Inglaterra tinha corrido mal. No Arsenal, o basco não reuniu muitos fãs. A verdade é que os gunners ainda se tentavam recompor após mais de duas décadas ao comando de Arsène Wenger.

O Aston Villa deu a oportunidade de Unai Emery mostrar que o trabalho no Arsenal foi só um rascunho da história que viria a conseguir escrever no clube de Birmingham. Ironicamente, na segunda temporada ao serviço dos villans, o espanhol conseguiu o momento de maior notoriedade frente aos gunners, vencendo a equipa de Mikel Arteta por 1-0 no Villa Park. O golo de John McGinn manteve o Aston Villa no pódio da Premier League e encurtou para dois pontos a distância para o primeiro lugar.

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Jogar em casa tem sido uma verdadeira vantagem para o Aston Villa, clube do qual o príncipe William é adepto. Para o Campeonato, os villans venceram todos os oito jogos que disputaram no seu terreno, rendimento que contribuiu para a posição em que se encontram na tabela. Entre essas vitórias, além do triunfo contra o Arsenal, está também um resultado positivo contra o Manchester City (1-0). “Estamos a jogar com 11 jogadores e mais um que são os nossos adeptos. Estão sempre a transmitir-nos energias”, disse Emery no final do jogo com os gunners. “Nunca ganhei tantos jogos como aqui. Acho que nunca mais vou ganhar tantos jogos seguidos. É incrível”, acrescentou.

Uma reportagem do The Athletic aponta que o segredo para o sucesso é a confiança que Unai Emery tem na estrutura do clube, em especial no diretor desportivo, Monchi, e no seu assistente pessoal, Damian Vidagany. “Já vi diferentes tipos de líderes. A liderança do Unai está no lado do futebol. O Unai é futebol 24 horas. Ele não passa mais nenhum minuto a pensar noutra coisa que não seja futebol. Mas um clube não é só futebol, é um universo grande, onde há muitas pessoas que precisamos de motivar. Se não motivares as pessoas, não esperes que elas deem o melhor de si”, disse Vidagany.

Emery é obcecado pelos detalhes dentro do campo, mas confia cegamente em quem está encarregado de levar a cabo tarefas fora dele. Monchi, que chegou ao Aston Villa em 2023, é o grande responsável pela construção do plantel. Não se pode dizer que tenha sido uma equipa cara para a realidade da Premier League: no mercado de verão foram gastos “apenas” 93 milhões de euros em jogadores como Moussa Diaby, Pau Torres, Nicolò Zaniolo, Youri Tielemans ou Clément Lenglet. Os villans foram apenas o 14.º clube que mais investiu esta época no Campeonato inglês.

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Ollie Watkins tem sido um dos jogadores em maior destaque na equipa com 13 golos apontados em todas as competições. No entanto, John McGinn é uma das figuras mais emblemáticas. O escocês de 29 anos está na sexta temporada ao serviço do clube, tendo ingressado no emblema de Birmingham quando este ainda disputava o Championship. A três jornadas do fim da primeira volta da Premier League, o Aston Villa vai ainda defrontar o Brentford, o Sheffield United e o Manchester United, estando em condições de fechar a metade inaugural do Campeonato nos lugares cimeiros da classificação.

“Estou a banir a palavra que começa por T [título]. Estamos na 16.ª jornada, ainda há um longo caminho a percorrer”, disse McGinn após a vitória frente ao Arsenal. “Respeitamos todos ao nosso redor, estão nesta posição há anos, nós somos novatos. Se conseguirmos continuar assim, logo veremos”, acrescentou.