Luís Montenegro e Nuno Melo ainda não fecharam a coligação pré-eleitoral com que se vão apresentar a votos nas próximas legislativas, mas o processo, sabe o Observador, está “bem encaminhado”. O diabo, como em tudo, está nos detalhes: os democratas-cristãos não abdicam de ter, pelo menos, três lugares elegíveis na lista de candidatos a deputados. Mais relevante ainda, os dois partidos estão a tentar perceber se a aliança pré-eleitoral tem condições para se repetir nas eleições europeias de junho de 2024.
O Observador sabe que esta hipótese não está descartada por Luís Montenegro, que em breve tomará uma decisão sobre se aceita ou não as condições do CDS. Ainda assim, o tema continua a dividir o núcleo duro do PSD. Existe quem acredite que uma coligação PSD/CDS nos termos clássicos arriscar-se-ia a parecer meramente tática, não produzindo a ideia que se pretende; assustar, precisamente, o eleitorado moderado que Montenegro espera seduzir; e afastar parte do eleitorado do PSD, que não estará disposto a votar numa aliança “Montenegro-Melo”.
Seja como for, mesmo contra as opiniões de alguns dos conselheiros mais próximos, Montenegro e Melo parecem ter tudo encaminhado. A decisão estará, aliás, por dias. A ideia é garantir que a aliança não se esgota nestas legislativas – não haveria grande sentido político em fazer uma coligação pré-eleitoral em março (legislativas) para depois irem sozinhos a votos em junho (europeias). Mais do que uma questão de lugares nas eleições para a Assembleia da República, é esta hipótese que está a ser avaliada pelas respetivas direções partidárias.
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Ainda que as conversas estejam a decorrer ao mais alto nível, as pressões sobre Montenegro e Melo têm sido muitas. O Observador sabe que, do lado do CDS, Paulo Portas tem estado particularmente atento e empenhado em todo o processo. Do lado do PSD, houve uma figura de peso a sair em defesa desta solução: Carlos Moedas.
Na quinta-feira, num jantar do CDS que servia para assinalar os dois anos da vitória da coligação “Novos Tempos” na Câmara de Lisboa’ – a última grande vitória eleitoral do PSD –, Carlos Moedas apelou a Montenegro (que estava, por esse altura, no jantar do grupo parlamentar do PSD) para que repetisse o formato que encontrou para liderar derrotar Medina.
“Deixava aqui uma última mensagem natalícia e um desejo meu. Em 1979, tinha 9 anos, e vi Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa naquela construção de um projeto de alternativa ao socialismo. Foi absolutamente único para todos nós. Em 2021, pensei muito nisso. Pensei que só unidos é que nós podemos ganhar o país. Foi isso que fizemos. As pessoas viram que havia essa união. Acredito profundamente que, se estivermos unidos desta vez, ganharemos muito mais. Gostava muito de ver uma aliança pré-eleitoral entre o CDS e o PSD. Precisamos dessa aliança para ganhar o país”, afirmou Moedas.
Os homens do líder social-democrata, sabe o Observador, estavam bem cientes do que Moedas iria defender naquele jantar organizado pelo CDS. Horas antes do jantar, a equipa de Nuno Melo, por sua vez, foi transmitido informalmente que aquela seria a posição do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, com o objetivo declarado de atrair atenção mediática e política para a intervenção que iria acontecer.
Montenegro, aliás, tem assumido que pretende apresentar-se a votos com uma frente alargada que inclua outros partidos, nomeadamente o CDS, e vários independentes. A 30 de novembro, em entrevista à SIC, o líder social-democrata reconheceu isso mesmo: “Ainda não tomamos uma decisão, mas estamos abertos a poder dialogar com esses partidos e com muitos cidadãos independentes. Não excluímos a possibilidade de haver uma frente mais alargada [incluindo com o CDS].”
Esta sexta-feira, os sociais-democratas divulgaram uma lista de 100 personalidades independentes que declararam o apoio a Luís Montenegro. Nem todos, naturalmente, serão escolhidos ou terão interesse em fazer parte da lista de candidatos a deputados. Ainda assim, algumas dessas personalidades já colaboram regularmente com o partido, o que indicia que poderão fazer parte das escolhas de Montenegro para o próximo grupo parlamentar ou para um futuro governo. Formalmente, o PSD tem de decidir até 12 de janeiro se vai ou não coligado a votos.