Os acionistas de referência portugueses da Greenvolt podem encaixar até pouco mais de 600 milhões de euros com o acordo de venda da suas participações na empresa de energias renováveis ao fundo de investimento americano KKR.

O acordo para a compra destas participações foi anunciado esta madrugada, acompanhado por uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre todo o capital da Greenvolt ao preço de 8,3 euros por ação. É o mesmo valor que os americanos oferecem pelas ações detidas pelos acionistas que controlam mais de 60% do capital da empresa liderada por João Manso Neto, cuja venda só vai ser realizada a partir de 31 de maio de 2024. Paulo Fernandes é a cara mais conhecida deste núcleo acionista que também controla a empresa de celulose Altri e, até recentemente, a Cofina.

Paulo Fernandes é o acionista dominante da Actium Capital, empresa que detém 11,56% da Greenvolt correspondente a mais de 16,09 milhões de ações que valem 133,6 milhões de euros ao preço de venda acordado. A maior acionista da Greenvolt é a Promendo empresa dominada por Ana Mendonça que detém 12,6%, o que equivale a 17,5 milhões de ações, que nesta transação são valorizadas em 145,4 milhões de euros.

Outros acionistas de referência são os irmãos Borges de Oliveira. A empresa de João Borges de Oliveira, a Caderno Azul, controla 11,2% e irá encaixar 129,5 milhões de euros. A Thing Investmens de Pedro Borges de Oliveira tem cerca de 7%, o que fica valorizado em cerca de 82 milhões de euros. A Livrefluxo de Domingo Vieira de Matos controla 10,55% do capital, fatia que vale 121,8 milhões de euros.

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Ao preço de 8,3 euros por ação, que corresponde a um prémio de 32% face ao preço médio dos últimos seis meses, estas cinco participações valem 612 milhões de euros. Face à entrada da Greenvolt em bolsa, o prémio é de 95,3%. Ontem, as ações estavam a transacionar a 7,45 euros. Esta quinta-feira, depois de retomada a negociação, estavam a subir mais de 10% para 8,21 euros.

Ana Mendonça, Paulo Fernandes, João Borges de Oliveira, Pedro Borges de Oliveira e Domingo Vieira de Matos são também os acionistas que controlam a Altri, empresa florestal e de produção de pasta de papel. Dois deles, Ana Mendonça e Pedro Borges de Oliveira, deixaram de ser acionistas do setor dos media depois de concretizado o negócio de compra da Cofina Media — que agora se designa MediaLivre — por quadros do grupo e por outros investidores, mas mantêm-se acionistas da Cofina, que continua cotada.

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Dentro do núcleo de acionistas de referência da Greenvolt que acordaram a venda das ações estão também investidores polacos ligados à V-Ridium Capital que controlam 9,57%, participação que resultou da venda da das operações na Polónia à empresa portuguesa. O capital disperso da Greenvolt corresponde a menos de 40% do total.

Criada em 2021 pelos acionistas da Altri, a Greenvolt partiu dos ativos na biomassa (ligada à celulose) para construir um grupo focado em energias renováveis e na transição energética. Para executar a estratégia foi convidado João Manso Neto, que tinha sido administrador da EDP e presidente da EDP Renováveis, mas cujo mandato foi suspenso por ordem judicial na sequência do inquérito EDP. O gestor é um dos arguidos ligados à gestão da elétrica, não tendo sido acusado pelo Ministério Público. Manso Neto é o rosto do sucesso da estratégia da Greenvolt cuja alienação promete trazer um grande retorno aos investidores, mas não se sabe se o fundo pretende manter a atual gestão ou se pretende manter a empresa na bolsa.

A Greenvolt tem feito várias aquisições fora de Portugal e desenvolvido projetos no mercado nacional na produção e comercialização de eletricidade renovável. Ainda em 2021, a Greenvolt entra na bolsa em julho com a abertura de 30% do capital a valer 500 milhões de euros e quando chega ao PSI 20, poucos meses depois, já valia 700 milhões de euros. A OPA lançada pelo fundo KKR valoriza a empresa em 1,15 mil milhões de euros.

O fundo americano já tinha investido 200 milhões de euros na Greenvolt através de obrigações convertíveis em ações subscritas por uma participada no início deste ano. No final do ano passado, a KKR geria 28 mil milhões de euros de investimentos através dos seus fundos ou de participações diretas em companhias.

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Entre as condições de sucesso da OPA agora lançada estão as autorizações das entidades reguladoras e autoridades dos países onde a Greenvolt tem operações — nomeadamente Irlanda, Reino Unido, Roménia, Alemanha e Bulgária, para além da Autoridade da Concorrência portuguesa e do registo da oferta pela Comissão de Mercado de Valores Mobiliários. Outra condição colocada pelo fundo KKR é a de que não seja fixado um preço superior aos 8,30 euros, isto no caso de a CMVM optar por nomear um auditor independente para fixar a contrapartida para os acionistas que não estão incluídos no acordo.