O último empate do Manchester United frente ao Liverpool foi um resultado positivo? Para a maioria, sim. No entanto, e como em tudo, há sempre um contexto: 1) na última época tinha sido vergado a uma goleada humilhante por 7-0 e agora segurou o nulo; 2) conseguiu estancar uma série de duas derrotas consecutivas em Old Trafford, uma a valer a eliminação das provas europeias; 3) não sofreu golos, algo que não acontecia há quase um mês. Quer isso dizer que daí se poderiam retirar apenas conclusões positivas? Para a maioria, não. E a forma como tudo aconteceu deixou mais uma vez expostas todas as fragilidades da equipa.

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O United é um clube grande com resultados de clube médio e que segurou apenas o nulo a pensar como um clube pequeno, com o Liverpool a fazer mais de 30 remates ao longo do encontro (média de um a cada três minutos…) numa espécie de tiro ao boneco onde quem pouco ou nada fez acabou por sair premiado. Ainda assim, os problemas não foram embora por isso. E se a venda de uma parte do capital social ao milionário empresário britânico Jim Ratcliffe (“apenas” o segundo mais rico do Reino Unido) continua pendurada como que a adiar todas as alterações que irão ser feitas também na parte desportiva, somam-se críticas à qualidade do plantel, às alegadas “toupeiras” no balneário que colocam tudo na imprensa e, agora, uma nota “negativa” também à qualidade da comida que é servida em Old Trafford, depois de um episódio em novembro.

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A Food Standards Agency, que funciona como um equivalente da ASAE em Portugal, decidiu atribuir nota 1 numa escala de 0 a 5 ao catering no estádio dos red devils, depois de vários convidados num evento ligado a uma empresa terem saído mal dispostos de um encontro devido à comida. O que estava mal? Procedimentos de preparação, cozimento, reaquecimento, arrefecimento e armazenamento de comida no local, num caso que os responsáveis garantiram ter sido algo isolado. Até nas pequenas coisas que não têm impacto direto na forma de trabalhar ou jogar da equipa existem erros, “paragens no tempo” e falta de evolução com o passar dos anos, numa crítica que chegou a ser feita por Cristiano Ronaldo quando saiu e que José Mourinho veio confirmar na última semana. No futebol, as características não eram muito diferentes e o sétimo lugar na Premier League a seis pontos de acesso à Liga dos Campeões não davam grande margem de erro.

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“Tivemos algumas limitações durante a semana, precisamos ver quem está disponível. Casemiro e Lisandro Martinez não estarão disponíveis antes do Natal, esperamos tê-los de volta a meio de janeiro. O caso do Mason Mount é semelhante. O Harry Maguire espero tê-lo no início, o Victor Lindelöf ficará de fora por algumas semanas”, tinha apontado Erik ten Hag, voltando a falar das baixas da equipa antes da deslocação ao Estádio Olímpico de Londres para defrontar o West Ham. “Reforços? Estou feliz com o plantel atual. À medida que formos recuperando os nossos jogadores, vamos melhorar. Grande parte do que aconteceu na primeira parte da temporada foi muito devido às ausências na equipa. Quando todos os jogadores estiverem totalmente recuperados, seremos muito mais fortes”, acrescentou. Se será assim ou não, ninguém sabe. Que agora não poderia estar pior, isso é uma certeza. E nova derrota na Premier chegou com o quarto encontro consecutivo sem marcar (381 minutos) e deixou a equipa fora dos lugares europeus…

A primeira parte foi a completa antítese da razão que levou à construção do Estádio Olímpico de Londres: ter atletas a desafiar os impossíveis e a alcançar grandes feitos. Com Willy Kambwala a fazer a estreia ao lado de Jonny Evans no centro da defesa e Kobbie Mainoo a ser aposta no meio-campo com McTominay, o United sofreu um primeiro susto num remate de Emerson para defesa de Onana (5′) mas conseguiu depois controlar as transições do West Ham. Faltava tudo o resto: saber como, quando e por onde atacar. Assim, e até ao final dos 45 minutos iniciais, houve apenas um remate de Garnacho após assistência de Antony para defesa de Areola que nasceu de um erro de Kudus (35′) e uma tentativa de meia distância de Mainoo que o guarda-redes francês desviou a muito custo pela linha de fundo (40′). Muito pouco. Mesmo quase nada.

O segundo tempo teria obrigatoriamente de ser diferente e até começou com Bruno Fernandes a desviar de cabeça na área um cruzamento de Luke Shaw sem perigo e com Jarrod Bowen a ameaçar a baliza da equipa visitante, mas os minutos foram passando sem que existisse uma organização coletiva capaz de fazer a diferença em termos ofensivos ou um rasgo individual que desequilibrasse a partida. Apareceu, do lado do West Ham: Lucas Paquetá abriu o livro com um passe fantástico para a desmarcação de rutura de Jarred Bowen e o avançado teve tempo para olhar, rematar, recuperar o ressalto e empurrar para o 1-0 (72′). Estava dado o mote para mais um dia “negro” para o Manchester United, com Kudus a aproveitar as fragilidades ainda mais expostas dos red devils para sair numa transição rápida que fez o 2-0 e “fechou” o jogo (78′).